Com o fim do governo Bolsonaro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) voltou a funcionar normalmente e o Censo 2022 finalmente foi concluído. Para além da população total do país, estimada em 203 milhões de habitantes, a consulta também aponta que há 1,3 milhão de quilombolas no Brasil. O número equivale a 0,63% da população do país e, apesar de parecer pouco, é muita gente e se equipara as populações de capitais como Porto Alegre e Belém.
68% dos quilombolas, ou 905 mil pessoas, vivem no Nordeste do país. O Sudeste, com 182 mil pessoas, e o Norte, com 166 mil, vêm na sequência. Centro-oeste (45 mil) e Sul (30 mil) completam a lista.
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Entre os estados brasileiros, aquele que com a maior proporção de quilombolas em sua população é o Maranhão: 3,97% dos maranhenses são oriundos das comunidades. A seguir vêm Bahia (2,81%), Amapá (1,71%), Pará (1,66%) e Sergipe (1,27%). O fim da lista conta com Acre e Roraima (que não têm quilombolas contabilizados pela consulta), Distrito Federal (0,01%) e São Paulo (0,02%).
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Somados, Bahia e Maranhão abrigam mais da metade dos quilombolas: 397 mil e 269 mil, respectivamente. Minas Gerais e Pará vêm na sequência com 135 mil quilombolas cada. Pernambuco (78 mil), Alagoas (37 mil), Piauí (31 mil) e Goiás (30 mil) completam a lista dos estados que mais abrigam a população.
Outro dado interessante da pesquisa é que há quilombos e quilombolas em cerca de 30% dos 5570 municípios brasileiros. São 1696 municípios que contam com cidadãos quilombolas. A cidade de Senhor do Bonfim, no interior da Bahia, é a que registrou o maior número: 16 mil. A segunda é Salvador, a capital baiana, com 15,9 mil.
Ainda segundo o Censo 2022, cerca de 90% dos quilombolas ainda vivem em terras não tituladas, ou seja, até agora não tiveram seu direito ancestral à terra confirmado.
Surgimento dos Quilombos e importância do Censo 2022
Os quilombos surgiram no período colonial brasileiro, quando a coroa portuguesa ocupava militarmente a costa do território hoje conhecido como Brasil e empregava mão de obra escrava indígena e africana nas plantações de cana e sítios de extração de madeira e minerais.
Desterritorializados, o escravizados africanos se organizavam para fugir das propriedades onde eram cativos e iam para as serras e sertões a oeste. Há uma série de relatos de que o povo negro quando fugia recebia a colaboração dos povos indígenas na construção das suas comunidades marcadas pela resistência contra a escravidão.
Essa colaboração entre povos explorados contra os colonizadores gerou algumas famosas comunidades, como o Quilombo de Palmares, surgido em 1597 no sertão pernambucano e alagoano, resistindo ao longo do século XVII as invasões do exército colonial português. Zumbi dos Palmares foi um dos seus grandes líderes.
Estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas foram trazidas da África para serem escravizadas no Brasil entre 1570 e 1888.
A luta pelo acesso à terra é a principal causa de quilombolas e indígenas e, nesse contexto, o Censo 2022 naturalmente beneficia essas lutas ao oferecer dados científicos que os auxiliam a elaborar as reivindicações. Não foi por acaso que durante o governo Bolsonaro a consulta simplesmente não saiu.
Agendado para ser realizado a cada 10 anos, o Censo 2020 foi adiado por conta da pandemia. Em 2021 houve um novo adiamento motivado pelos cortes que o governo de extrema-direita impôs à Ciência e Tecnologia. A consulta só foi retomada no final de agosto de 2022 e concluída no primeiro semestre desse ano de 2023.