Hoje, 25 de julho, é celebrado em todo o continente o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data tem um nome próprio após a aprovação da Lei 12.987/2014: Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra que, neste 2023, marca uma vitória simbólica: após mais de cinco anos, o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) começa a apontar para uma resolução, o que inclui a revelação do mandante e da motivação do crime.
Marielle era uma mulher negra, LGBTQIA+, moradora da favela da Maré no Rio de Janeiro e formada socióloga. Uma verdadeira lutadora social que, em defesa dos seus ideiais e dos interesses dos excluídos, construiu sua carreira política, primeiro como assessora de Marcelo Freixo (à época no Psol) para, em seguida, ser a vereadora mais votada da cidade maravilhosa.
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Essa espetacular trajetória foi interrompida antes mesmo do auge, em 14 de março de 2018, quando Maxwell Simões, Edimilson Macalé, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz a fuzilaram nas ruas do centro do Rio, logo após a vereadora sair de um evento na Casa das Pretas.
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Na última segunda-feira (24), véspera do Dia de Tereza de Benguela e do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a delação premiada de Élcio de Queiroz trouxe uma série de novos detalhes do crime que fazem com que as autoridades acreditem na proximidade da sua resolução. Uma convergência simbólica de datas e acontecimentos, que em meio à celebração da memória de Rainha do Pantanal, também reacende a esperança de justiça por Marielle.
Quem foi Tereza de Benguela
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi criado durante o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 1992 na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana. No Brasil, a data ganhou o nome de Tereza de Benguela, uma importante mulher negra da nossa história.
Ícone da luta contra a escravidão no Brasil colonial, Tereza de Benguela liderou o principal quilombo localizado na então Capitania de Mato Grosso, por duas décadas, contra as investidas da Coroa Portuguesa.
De acordo com artigo publicado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o local de nascimento de Tereza de Banguela é desconhecido. Supõe-se que ela tenha nascido em algum lugar no continente africano, ou no próprio Brasil, onde sua história se desenrolou.
Tereza viveu no século XVIII, uma época onde a resistência à escravização fazia com que muitos negros, trazidos pelo odioso tráfico humano que formou nossa sociedade, se organizassem para escapar das fazendas e refugiarem-se nos sertões do Brasil, dentro de comunidades conhecidas como quilombos. E, assim como nas ocupações de terras e por moradia da atualidade, as autoridades constituídas perseguiam os fugitivos.
Tereza foi casada com José Piolho, principal líder do Quilombo Quaritetê, localizado onde hoje o Estado do Mato Grosso faz fronteira com a Bolívia, no Vale do Guaporé. Era o maior quilombo da região e abrigava mais de 100 pessoas, entre negros e indígenas. Quando o marido foi morto por soldados da colonização portuguesa, Tereza assumiu o trono do Quaritetê e, durante mais de duas décadas liderou a resistência da comunidade contra a escravização.
Nesse período, a Rainha Tereza costumava navegar em barcos imponentes pelos rios do Pantanal. Mas seus principais feitos foram organizar a defesa da comunidade que estava localizada em uma área de difícil acesso, com armas que roubavam de vilas próximas ou mesmo que trocavam com brancos, além de articular um tipo de parlamento que tomava as decisões comunitárias.
A economia do Quaritetê funcionava à base do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana – e da venda dos seus excedentes, especialmente para a obtenção das armas.
Segundo informações da UFRB, o Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelos homens comandados por Luís Pinto de Sousa Coutinho, bandeirante a serviço da Capitania do Mato Grosso. Já sobre a morte da Rainha Tereza, não há registros. Uma versão dá conta de que teria se suicidado após sua captura pelos bandeirantes, enquanto uma segunda versão aponta que teria sido executada e tido a cabeça exposta no centro do Quilombo.
Além do dia instituído, a Rainha Tereza recebeu diversas outras homenagens póstumas. Entre as mais destacadas está o samba enredo “Tereza de Benguela: uma rainha negra no Pantanal”, cantado pela Viradouro no carnaval de 1994.