A Polícia Federal instaurou nesta quinta-feira (24) um inquérito para investigar as acusações contra o deputado federal General Girão (PL-RN) de incitar os ataques golpistas nas redes sociais. Girão é acusado de promover não apenas os ataques do 8 de janeiro, mas toda a trama golpistas que se seguiu após o segundo turno das últimas eleições com ocupações de rodovias, acampamentos em quarteis e outros episódios de vandalismo e depredação.
De acordo com a investigação, Girão apareceu em uma série de vídeos e postagens nas redes sociais incitando animosidades entre os poderes da República, a sociedade e as forças armadas. Segundo o documento da PF, o parlamentar teria organizado um grupo para cometer os crimes contra a democracia.
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A PF lista dois: tentativa de abolição com emprego de violência ou grave ameaça do Estado Democrático de Direito e tentativa de deposição por meio de violência ou grave ameaça de um governo legitimamente eleito.
O delegado federal Victor Menezes, que assina o inquérito, afirma já estar de posse de todas as publicações de Girão no Facebook, Youtube, Instagram, Twitter e Tik Tok que serão analisadas pela investigação.
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O ministro Alexandre de Moraes é o relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal. Foi ele quem determinou a abertura do investigação contra Girão, ainda em julho, a pedido da PF e da PGR.
'Girões' sabiam do 8 de janeiro
Mensagens encontradas pela Polícia Civil do Distrito Federal no celular do militante bolsonarista e armamentista George Washington de Oliveira Sousa colocam parlamentares bolsonaristas como o deputado federal Elieser Girão (PL-RN) e o senador Eduardo Girão (Novo-CE) na "cena do crime", uma vez que em trocas de mensagem com o terrorista, tomaram ciência dos planos de ações violentas para abolir o Estado Democrático de Direito. O conteúdo que foi enviado à CPMI dos Atos Golpistas e o dono do celular, George Washington, além de ter tentado explodir uma bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, também falou sobre outras ações violentas, como um suposto assassinato de Lula por meio de um atirador sniper. Mesmo sabendo dos planos do militante, os parlamentares não avisaram as autoridades até onde se sabe.
As mensagens foram reveladas pela jornalista Denise Assis, do Brasil 247. Nelas, o terrorista de Brasília cobra do deputado, que se identifica como general Girão, a liberação da ação de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas) nas ações golpistas.
“General Girão, vão esperar até quando para acionar os CACs? Têm CACs prontos. Acione, general! Coloque-os em treinamento militar intensivo. Temos muitos fuzis a disposição, não nos deixe sair como bandidos”, escreveu George Washington em 11 de dezembro de 2022 para Eliéser Girão. No dia seguinte foi registrado a primeira arruaça em Brasília, quando golpistas incendiaram a capital contra a diplomação do presidente Lula (PT).
Eliéser, durante uma manifestação pública, chegou a afirmar em megafone para golpistas mobilizados na capital que colocassem “os sapatinhos na janela, pois teremos novidades no Natal”. A novidade, no caso, aparentemente seria a explosão do aeroporto que, segundo George Washington, geraria um caos social na capital e seria o estopim para uma “intervenção federal” no Judiciário e na Segurança Pública, que permitiria a Bolsonaro, hoje inelegível, driblar o resultado das eleições e permanecer no poder. Mas deu errado, e agora George Washington “saiu como bandido”, conforme temia na conversa com o parlamentar.
Na última sexta-feira (7), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que um inquérito fosse aberto para investigar a possível participação do general Girão como incitador dos atos golpistas de 8 de janeiro.
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George Washington também falou com o senador Eduardo Girão, que hoje é membro da própria CPMI dos Atos Golpistas. Ele cobrava a “ativação” de CACs no golpe de estado, sobretudo em um momento que os setores mais radicais do bolsonarismo ventilavam um possível assassinato de Lula com a utilização de snipers.
“Vão esperar até quando para ativar os CACs como força de reserva? Tem muito CAC atirador sniper”, escreveu George Washington para Eduardo Girão no mesmo 11 de dezembro. Aparentemente Girão não o respondeu, mas tampouco avisou as autoridades sobre os planos do extremista.
Para além do apelo aos parlamentares em relação a atuação dos CACs no golpe, as mensagens ainda apontam conversas de George Washington em que foi planejada a implantação da bomba com um contato identificado como Ricardo Adesivaço Xinguara. Termos como “missão” e “caminhão” são frequentes nas trocas de mensagens. As revelações apontam para uma organização mais sofisticada dos atos golpistas - desde os bloqueios de rodovias, acampamentos, arruaças na capital e planejamento de atentados a bomba - e contrariam a narrativa bolsonarista de que tais mobilizações teriam sido "orgânicas" e "espontâneas".
“O que existe nesse material começa a mostrar que não apenas essas pessoas confessam que foram lá para isso, para poder estabelecer uma quebra da democracia e ocupar os poderes para destituir o presidente eleito, mas também começa agora a aparecer uma organização por trás, inclusive, de atos que eles falavam que teriam e que seriam atos que levados a cabo criariam um caos e dentro disso tem esse caso, que é o mais explícito do caminhão a bomba, mas tem também o fechamento de rodovias, que levariam ao caos. E aquele ato do dia 12 levaria a que setores das Forças Armadas fizessem uma intervenção para que o Bolsonaro voltasse. Era o que eles esperavam para fechar e dar o golpe”, avaliou o deputado Rogerio Correia (PT-MG) para o Braisl 247.