O ex-deputado e dirigente histórico do PT, Paulo Frateschi, resolveu fazer a revelação à Agência Pública, 54 anos depois do ocorrido, logo após a publicação da reportagem “Documentos indicam que aliança da Folha com ditadura foi mais forte do que jornal admite”.
Ele disse à Pública que foi libertado na época, pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, símbolo da repressão política, e enviado a seguir por outro delegado, ao prédio da Folha de S.Paulo.
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“Fui libertado no saguão do prédio da Folha”, afirma Frateschi.
Em novembro de 1969, Frateschi, então militante da Ala Vermelha da ALN (Ação Libertadora Nacional), aos 19 anos, depois de seis meses de prisão, foi levado à sala do delegado Sérgio Paranhos Fleury.
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“Fleury xingava, falava palavrões. Repetia ‘porra! Bosta! e cuspia’. Logo pensei: putz, vai começar tudo de novo (tortura). De repente, ele olhou fixo pra mim e falou: ‘o merda do juiz mandou te soltar. Se alguém te procurar, você vai voltar aqui e me contar!’”, lembra Frateschi, que logo em seguida foi conduzido por outro delegado até a portaria do antigo prédio do DOPS, onde era esperado pelo pai, Nelson Frateschi, à época um bem sucedido corretor de imóveis.
Do Dops até a Folha
Segundo o relato de Paulo, os três fizeram a pé o trajeto do DOPS, no Largo General Osório, até o prédio da Folha, a poucos quarteirões, na Alameda Barão de Limeira. Lá, encontraram-se com outro delegado, que trabalhava na segurança do jornal. Frateschi ficou afastado, próximo a gráfica do jornal, enquanto o pai e os dois delegados confabulavam. Já no carro e livre, o então militante perguntou ao pai o que estava se passando. Nelson disse que estava tudo bem, que não fizesse perguntas, mas contou que os dois delegados eram irmãos. “Tudo foi estranho”, afirma Frateschi. Ele acha que, surpreendidos por ordem judicial de soltura — extensiva a outros presos que não haviam participado de conflitos com morte —, Fleury decidiu concluir uma extorsão que já estava em andamento.
A professora Flora Daemont, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que participou da pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre as relações do jornal com a ditadura, afirmou à Agência Pública que “não há outros dois delegados que sejam irmãos e tenham trabalhado no DOPS e na Folha. Trata-se de Edward e Roberto Quass. Não quer dizer que a Folha esteja envolvida, mas são fortes as suspeitas de que dentro do jornal tenha ocorrido uma grave extorsão supostamente praticada por funcionários sobre os quais a empresa era responsável”.
Extorsão
Nelson Frateschi vendeu na ocasião um de seus imóveis, mas a família não soube o destino do dinheiro. Paulo Frateschi ressalvou que não tem provas, mas diz ter ficado com a impressão de que seu pai havia sido vítima de extorsão e que as tratativas envolvendo funcionários e o espaço físico do jornal reforçam a compreensão de que a Folha funcionou como uma espécie de “sucursal” da repressão.
Vários pesquisadores do período afirmam que a polícia da ditadura, além de vender serviços de segurança a empresários que apoiaram a ditadura, também extorquia familiares de presos e se apropriava de valores encontrados em aparelhos da esquerda ou com militantes presos.
Com informações da Agência Pública