Em coletiva de imprensa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, admitiu a possibilidade de uma sabotagem ter causado o apagão nacional que atingiu 25 estados e o Distrito Federal nesta terça-feira (15). Para o ministro, é muito difícil haver a convergência de dois eventos que pudessem levar à queda de tantos sistemas elétricos de forma simultânea. Na coletiva, reforçou suas suspeitas ao lembrar dos ataques bolsonaristas contra torres de transmissão no começo do ano e criticou a privatização da Eletrobras.
“O que aconteceu hoje, é importante dizer, é extremamente raro. O ocorrido hoje absolutamente nada tem a ver com o planejamento do sistema e a geração de energia,” declarou.
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O evento identificado como um dos causadores do apagão ocorreu no Ceará, por conta de uma sobrecarga que colapsou a rede estadual de transmissão elétrica. No entanto, o ministro aponta que apenas essa ocorrência não poderia derrubar a energia de 26 unidades federativas, mas não soube informar o que mais teria acontecido para contribuir com a queda.
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“Não tem outro evento apontado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Mas a robustez do sistema leva a presumir que tivemos outro evento [ainda não identificado] que causou um apagão dessa magnitude,” explicou o ministro.
Com suspeitas de sabotagem e a lembrança de ataques golpistas contra torres de transmissão, Silveira aproveitou o pronunciamento público para pedir que as autoridades investiguem o recente apagão.
“Estou oficiando o Ministério da Justiça para que seja encaminhado à Polícia Federal um pedido de instauração de inquérito policial para que apure com detalhes o que poderia ter ocorrido, além de diagnosticar apenas onde ocorreu. Vamos encaminhar tanto à PF quanto à Abin a instauração de procedimentos para apurar eventuais dolos”, declarou.
Contra a privatização da Eletrobras, o ministro lembrou a importância de um setor estratégico, como o elétrico, estar nas mãos do Estado a fim de evitar ocorrências como as presentes. Também fez uma avaliação negativa sobre o pedido de demissão de Wilson Ferreira Júnior do cargo de presidente da empresa.
“Um setor estratégico para a segurança alimentar, segurança energética, como o sistema elétrico de um país, na minha visão não deveria ser privatizado, deveria ter uma função estatal (…) A privatização fez mal para o Brasil,” concluiu.
Ataques a torres de linhas de transmissão de eletricidade
Do fim de dezembro e ao longo de janeiro, uma série de ataques a torres de linhas de transmissão de eletricidade foi atacado por bolsonaristas, tendo causado, inclusive as quedas de quatro torres. Os episódios acabaram negligenciados pela imprensa em meio ao turbilhão de acontecimentos relacionados ao golpismo.
- Em 28 de dezembro houve a primeira tentativa de derrubar uma torre, em Loeto (MA). Na ocasião dois botijões de gás foram utilizados na tentativa frustrada de derrubar a estrutura da Eletronorte.
- Os primeiros casos registrados de ataques bolsonaristas a torres de transmissão de energia elétrica ocorreram na madrugada seguinte aos ataques em Brasília, entre os dias 8 e 9 de janeiro. Na ocasião foram derrubadas três torres, uma no Paraná e duas em Rondônia.
- Nos dias subsequentes, só em Rondônia foram derrubadas 3 torres; a outra foi derrubada no Paraná.
- As torres derrubadas em Rondônia são da Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás, e ficam localizadas nas cidades de Cujubim (Torre 219) e Rolim de Moura (Torre 724). A torre derrubada no Paraná ficava instalada na cidade de Medianeira, a 50 quilômetros de Foz do Iguaçu.
- Na sequência, vieram dois ataques em São Paulo, ambos em 12 janeiro. O primeiro ocorreu em Rio das Pedras, em linha de alta tensão que liga os municípios de Assis e Sumaré.
- De acordo com a Aneel houve uma clara tentativa de derrubar a torre, que pertence ao sistema da Taesa. Relatos dão conta de sabotagem nas estruturas de sustentação da torre.
- No mesmo dia, outra torre foi atacada em Palmital (SP). Dessa vez a linha atacada é operada pela empresa ISA CTEEP e cobre trecho entre as cidades de Assis e Andirá. Apesar das tentativas, torres não foram derrubadas em São Paulo.
- Em 13 de janeiro ocorreu novo ataque, no interior do Paraná, na cidade de Tupãssi, em linha de transmissão que liga Foz do Iguaçu (PR) a Ibiúna (SP). A torre, sob responsabilidade da Furnas, não foi derrubada.
- No sábado (14) a quarta torre de transmissão foi posta abaixo em Rondônia, volta das 18h43, em linha de transmissão localizada entre os municípios de Pimenta Bueno e Vilhena. A Torre 277, localizada em Vilhena, foi derrubada.
- Novamente, a Aneel relatou sabotagem das estruturas físicas como a causa da derrubada da torre.
- Entre as 12 torres que não caíram, mas acabaram danificadas, 6 estão em Rondônia, 4 no Paraná e 2 em São Paulo. O fornecimento de energia não foi afetado pelas ocorrências.