Coronel da reserva do Exército, Marcelo Costa Câmara, assessor de Jair Bolsonaro (PL) que atuou na operação de recompra do Rolex nos EUA recebeu um inventário de "Encerramento e Entrega do Acervo Privado Presidencial", em e-mail do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência, que lista o relógio e outros "presentes" contidos no kit 9 dias antes de embarcar com o ex-presidente rumo a Orlando, na Flórida.
O e-mail sigiloso, ao qual a Fórum teve acesso, é parte do pacote enviado à CPMI dos Atos Golpistas e foi enviado a Câmara no dia 21 de dezembro de 2022. Câmara foi alvo de operação da PF em maio e teria chefiado uma espécie de "Abin paralela" no governo Bolsonaro. Ele segue atuando como assessor do ex-presidente, com remuneração acima de R$ 40 mil, entre rendimentos como funcionário em cargo comissionado na Presidência da República e coronel da reserva.
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"Senhor Assessor, cumprimentando-o cordialmente, passo a tratar sobre o Inventário de Encerramento e Entrega do Acervo Privado Presidencial - Jair Bolsonaro, para a devida formalização do recebimento, pelo seu representante legal no que se refere aos acervos privados presidenciais. Assim, o documento intitulado 'Inventário de Encerramento e Entrega do Acervo Privado Presidencial - 01/01/2019 a 31/12/2022 - Acervo Museológico' (3822354) deverá ser assinado por esse representante como 'Assinatura do Inventariante' para constar neste processo. Informo, ainda, que também deverá ser dada ciência no documento (3822357) intitulado 'Listagem - Acervo encaminhado'", diz o ofício nº 586/2022, assinado por Marcelo da Silva Vieira, chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.
Nos dois documentos citados está listado o "Relógio de pulso, modelo masculino 'OYSTER PERPETUAL DAY-DATE', da marca 'ROLEX', em metal prateado".
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A descrição, que consta na página 153 do Acervo Museológico afirma ainda que o relógio está "a condicionado em estojo (46x36x12,5 cm) de madeira clara, com detalhe verde na tampa, formando moldura, tendo ao centro o símbolo do Brasão de Armas da Arábia Saudita, em dourado, uma palmeira com duas espadas cruzadas abaixo dela. Estojo acondicionado em caixa de verde, com mesmo símbolo na tampa" e afirma que "outros itens do conjunto estão acondicionados no mesmo estojo".
Na sequência, estão listadas a caneta roller ball da marca Chopard, o par de abotoaduras de ouro branco 18k, o anel confeccionado em ouro branco e a Masbaha, rosário árabe confeionado em ouro branco.
No dia 30 de dezembro, o militar embarcou no avião presidencial juntamente com Bolsonaro e a mala com joias, incluindo o Rolex, que foram negociados nos EUA sem dar ciência ao e-mail enviado pelo Chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.
Operação de recompra
A operação para recompra do kit de joias contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e o relógio da marca Rolex é detalhado pela PF e consta na decisão de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação na última sexta-feira (11).
O alerta foi dado em 8 de março de 2023, diante de especulações de uma possível ação da PF no bunker montado na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília, para guardar objetos surrupiados do acervo da Presidência da República.
Mauro Cid teria contatado Crivellati, que ficou responsável pelos objetos no bunker, falando sobre uma possível medida do Tribunal de Contas da União para entrega do relógio, que já havia sido vendido pelo grupo.
A articulação ocorreu em um grupo no WhatsApp chamado "Kit de Ouro Branco" com Cid, Crivelatti e o também ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara. Além do relógio vendido na loja da Pensilvânia, o restante das peças estavam à venda em lojas do complexo Seybold Jewelry Building, em Miami.
Alertado por Fabio Wajngartem, ex-Secretário de Comunicação da Presidência e também assessor de Bolsonaro, de que o TCU pediria as peças, Cid entrou em contato com Wassef para encomendar a missão de recompra do Rolex. Wassef embarcou para os EUA em 11 de março rumo a Fort Lauderdale, na Flórida, e voltou ao Brasil no dia 29 de março, já com o relógio recomprado.
Na mesma data, o coronel Marcelo Câmara escreveu para Cid que “o material” estava “em São Paulo”, em referência ao relógio.
Ainda de acordo com as mensagens obtidas pela PF, o próprio Cid estaria na capital paulista naqueles dias, onde acompanhava as filhas em competição de hipismo. Àquela altura o escândalo das joias sauditas já estava na imprensa, mas não era conhecido publicamente o destino das joias.