ORCRIM BOLSONARISTA

Bolsonaro atacou TCU para ganhar tempo para organização criminosa recomprar Rolex

Em pedido a Alexandre de Moraes, PF ironizou defesa de Bolsonaro usando o mesmo termo dos advogados do ex-presidente para definir a operação para recompra do relógio vendido para uma loja na Pensilvânia.

Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes.Créditos: Antonio Augusto/Secom/TSE
Escrito en POLÍTICA el

Em meio à tentativa desesperada de reaver o relógio Rolex de ouro branco cravejado com diamantes que havia sido vendido por seus comparsas na loja Precision Watches, da Pensilvânia, nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro (PL) usou advogados para atacar o Tribunal de Contas da União (TCU) com o objetivo de ganhar tempo para reaver o objeto doado ao governo brasileiro durante viagem do ex-presidente ao Oriente Médio.

Os advogados Paulo Bueno e Daniel Tesser, que fazem a defesa de Bolsonaro, culparam o tribunal de contas por não estabelecer um local para depósito dos bens, bem como a expedição de ofícios e diligências para efetivar a "entrega segura e transparente dos bens".

"Descabido, portanto, o tratamento da questão como se houvesse por parte do peticionário [Bolsonaro] alguma tentativa maliciosa de escamotear determinados bens desta corte e de qualquer outro órgão", diz a representação de Bolsonaro no dia 30 de março, quando a operação para recomprar o relógio, por um valor mais alto que o vendido, estava sendo finalizada.

A defesa de Bolsonaro ainda apontou a "burocracia desta corte" e culpou a imprensa por supostamente fazer uma confusão sobre a devolução dos objetos.

"Registre-se, aqui, que a delonga na entrega efetiva dos bens se deu, a despeito da forma como os veículos de imprensa optaram por noticiar, unicamente em razão da burocracia desta Corte", dizem os advogados de Bolsonaro.

Escamotear

O termo usado pelos advogados de Bolsonaro sobre o "tratamento" dado ao ex-presidente, levantando suspeitas de que seria "alguma tentativa maliciosa de escamotear determinados bens desta corte e de qualquer outro órgão", foi usado pela Polícia Federal (PF) para solicitar a Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorização para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços de Mauro Cid, Mauro Lourena Cid, Osmar Crivellati e Frederick Wassef, que fazem parte, segundo a investigação, da Organização Criminosa que negociava as joias.

"Cabe salientar, que toda a operação foi realizada de forma escamoteada, fato que permitiu os investigados devolverem os bens sem revelar que todo o material estava fora do país", diz a PF, sobre a tentativa de Bolsonaro de esconder as transações com os presentes dados ao governo brasileiro.

Advogado de Bolsonaro, Wassef recebeu a missão de ir aos Estados Unidos recomprar o Rolex. O nome dele aparece nos recibos de recompra do relógio.

A operação para recompra do kit de joias contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e o relógio da marca Rolex é detalhado pela PF e consta na decisão de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação na última sexta-feira (11).

De acordo com mensagens de WhatsApp obtidas pela PF, Wassef teria retornado a São Paulo em 29 de março da viagem feita aos EUA em que o Rolex foi recomprado. Na mesma data, o coronel Marcelo Câmara, militar da Ajudância de Ordens de Bolsonaro subordinado a Cid, escreveu para o chefe que “o material” estava “em São Paulo”, em referência ao relógio.

Ainda de acordo com as mensagens obtidas pela PF, o próprio Cid estaria na capital paulista naqueles dias, onde acompanhava as filhas em competição de hipismo. Àquela altura o escândalo das joias sauditas já estava na imprensa, mas não era conhecido publicamente o destino das joias.

Durante sua estadia em São Paulo, Cid estava totalmente voltado para a rotina das filhas. Deslocava-se com frequência entre as competições de hipismo e shooping centers, onde frequentou cinemas e restaurantes com a família. Com a corrida a rotina de passeios, só foi possível o encontro para entrega do Rolex em 2 de abril.

“Em 02/04/2023, Mauro Cid avisa Frederick Wassef: ‘Estou indo para a Hípica’ e em seguida passa as coordenadas geográficas da Sociedade Hípica Paulista. (…) Mauro Cid, possivelmente, só ficou com a posse do relógio em 2 de abril, após um encontro no local com Frederick Wassef”, diz o relatório da PF entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Apenas dois dias depois, em 4 de abril, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução do kit de joias, o que foi feito pela defesa de Bolsonaro.

Com informações de Marcelo Rocha, da Folha de S.Paulo