GANÂNCIA E FÉ

A obsessão de André Valadão contra as LGBT+ faz parte de um projeto de poder; entenda

O religioso será investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de crime de homofobia durante culto

A obsessão de André Valadão contra as LGBT+ faz parte de um projeto de poder; entenda.Créditos: Reprodução redes sociais
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O nome do pastor André Valadão, da Igreja da Lagoinha, tem sido um dos principais assuntos nas redes sociais e na imprensa desde segunda-feira (3), quando viralizou um culto em que ele incentiva os fiéis a matarem pessoas LGBT+.

Após atacar as Paradas LGBT, André Valadão convocou as pessoas a matar as LGBT. "Essa porta foi aberta quando tratamos como normal aquilo que a Bíblia já condena. Agora é hora de retomar o controle e dizer: 'não, pode parar, resetar'. Aí Deus diz: 'não posso mais, já enviei esse arco-íris, se eu pudesse, eu mataria tudo e começaria tudo de novo. Mas já prometi para mim mesmo que não posso, então agora está com vocês'. Vocês não entenderam o que eu disse: agora está com vocês. Vou repetir: está com vocês", disse o pastor.

Nos últimos meses, André Valadão tem sistematicamente atacado a comunidade LGBT+ com discursos que pregam violência extrema contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Isso faz parte de um projeto político maior que envolve a família Valadão como um todo.

A jornalista Luciana Petersen, que se apresenta como "jornalista crente ex-valadete", publicou um dossiê sobre a família Valadão, o qual ajuda a entender a obsessão do clã da Lagoinha contra a comunidade LGBT+.

De acordo com o levantamento de Luciana Petersen, "a família Valadão raiz é composta pelo Pastor Márcio (que faleceu recentemente), Renata e seus filhos: André, Ana Paula e Mariana. No princípio, eram apenas uma família pastoral branca em uma igreja batista de BH, a Lagoinha".

Em seguida, Petersen explica que "a Lagoinha começou como uma igreja comum e teve até outros pastores antes de Márcio Valadão, mas tornou-se uma igreja grande na década de 90 e cresceu ainda mais graças à banda oficial, o Diante do Trono, liderada por Ana Paula Valadão".

"Diante do Trono é uma das maiores (e melhores) bandas cristãs do Brasil. Ela lotou estádios em quase todas as capitais, lançou mais de 30 álbuns e DVDs, e suas músicas são cantadas até hoje em igrejas".

Os Valadão possuem um projeto de poder: "o plano dos Valadão parece ser dominar, seja por meio de vias religiosas, artísticas, empreendimentos (como o cartão de crédito fé, etc.) ou políticas. Tudo isso por uma missão maior: levar o evangelho, encher igrejas e estádios, mas com prosperidade para eles".

No entanto, para que o pastor Márcio Valadão alcançasse seu plano, era necessário ter uma família perfeita, e assim ele arranjou um casamento para seu filho, André Valadão.

Luciana Petersen destaca que "nem sempre eles [família Valadão] estiveram ligados à extrema-direita. Os Valadão apoiaram Marina Silva em 2010. André e Ana Paula diziam orar por Dilma. Ambos apoiaram Bolsonaro".

A guinada rumo ao "cristofascismo": "A guinada rumo ao cristofascismo não é de hoje, não é exclusiva dos Valadão nem do Brasil. Porém, nem todo crente. Em 2017, André convidou Deltan Dallagnol para o seu culto Fé na Lagoinha Sede e o público virou as costas para o lavajatista. Na semana seguinte, ele deu uma bronca nos fiéis".

 

A perseguição aos LGBT+ e a questão do arco-íris


O projeto de cura para as LGBT+

Sobre o acolhimento das pessoas LGBT+ na Igreja da Lagoinha

Uma família complexa com projeto de poder claro

 

André Valadão será investigado pelo MPF após pregar morte às LGBT+


O Ministério Público Federal (MPF) no Acre declarou nesta terça-feira (4) ter aberto um procedimento para investigar as falas do pastor André Valadão, que, em um culto realizado no último domingo (2) e transmitido pelas redes sociais da Igreja Batista da Lagoinha, incentivou os fiéis a matarem pessoas LGBT.

O MPF vai investigar se o pastor André Valadão cometeu o crime de homofobia. O procedimento foi aberto pelo procurador Lucas Costa Almeida Dias, responsável pela Procuradoria dos Direitos do Cidadão (PRDC), que tomou conhecimento do caso por meio da imprensa.

Em entrevista ao UOL, a advogada Jacqueline Valles, mestra em Direito Penal, afirmou que Valadão pode ser enquadrado no crime de homofobia e incitação ao crime. "Se a investigação concluir que esse senhor cometeu o crime de homofobia, ele pode, sim, ser extraditado para cumprir pena no Brasil", disse Jacqueline, que é membra da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abacrim).