OPINIÃO

André Valadão: O banditismo evangélico e o projeto de perseguição – Por pastor Zé Barbosa Jr

Que esses criminosos sejam responsabilizados por seus crimes hediondos, promotores da violência e do assassinato de uma população que já sofre diariamente e chora seus mortos

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Que André Valadão é mau-caráter todos sabemos. Que ele é alguém com sérios problemas de assumir sua orientação sexual e por isso ataca constantemente as orientações sexuais diversas, alguns desconfiam. E agora ele deixou nítida e indiscutível sua mais nova faceta: André Valadão é um criminoso! Sua incitação à violência contra LGBTQIAP+ foi pública e notória, ao ponto de ele querer se “desculpar” numa emenda que saiu pior que o soneto.

Mas Valadão não está só no quesito crime. Pastores cometem diariamente crimes no Brasil e saem impunes, já que parece prevalecer na sociedade que a “liberdade religiosa” dá direito de incitar a violência e despejar toda sorte de preconceitos e abusos a partir dos púlpitos das igrejas. E a construção dessa narrativa foi muito bem-feita. Qualquer resposta oficial, seja por parte da polícia, da justiça ou do governo será recebida como “perseguição religiosa”. O discurso já está pronto, montado e muito bem elaborado.

É preciso que entendamos a gênese desse problema: quando o projeto de poder dos evangélicos toma forma ali pelos anos 80, desde então esse discurso começa a ser construído. A geração evangélica dos anos 80/90 foi bombardeada com pregações, livros e músicas cujo tema principal era uma “batalha espiritual” que logo depois se transformou numa “teologia do domínio” (que, acreditem, é bem pior que a “teologia da prosperidade”). Os espaços de poder deveriam ser “dominados” por cristãos para que “toda a nação fosse abençoada”. É aqui que se começa a ventilar a ideia de que “o Brasil precisa de um presidente evangélico!”

Atrelado a este discurso há uma “teologia da retaliação”. O diabo, esse ser fundamental e poderosíssimo no imaginário evangélico (muitas vezes, nesse imaginário, mais poderoso que Deus) não entregaria o “domínio” da terra assim de mão beijada. Essa “igreja” (desculpem-me o excesso de aspas no texto de hoje, mas são necessárias) chamada para “dominar e abençoar” o mundo seria, então, perseguida pelas hostes do mal, historicamente reconhecidas por essa teologia no Comunismo e nos movimentos de libertação (feminismo, movimentos LGBTQIAP+, etc), sem contar o confronto com outros “deuses”, principalmente os “malditos” deuses negros, vindos do “continente maldito”, ou seja, a África.

Isto posto, quero dizer que toda essa “coragem” de Valadões, Malafaias, Felicianos e outros está totalmente assegurada e embasada num discurso de domínio e posse, na certeza de “retaliações”. É bom lembrarmos que o cristianismo, em seu primeiro momento, é um movimento perseguido pelo poder político (antes de se aliar a ele) e vê a perseguição como uma bem-aventurança. Ser perseguido é, então, para este povo, uma benção, uma espécie de confirmação de que estão “incomodando o inferno”. Esse é o discurso posto, crido e vivido desde os anos 80 na maior parte da igreja brasileira.

Com a ascensão do bolsonarismo no governo passado, conforme palavras da própria Damares, “chegou a hora da igreja governar”. Os 4 anos do inelegível foram anos de “vacas gordas” para esses evangélicos ávidos pelo poder e para impor suas vontades, desejos e taras sobre a nação. Período de trevas. Idade Média. Retrocesso. Não para eles, que comemoravam a chegada do “tempo de vitória”. E estavam certos de que dominariam por muito mais tempo, apesar de conseguirem estender seus domínios a outros patamares, como uma bancada “evangélica” com número suficiente para incomodar e barrar avanços sociais e humanísticos.

Com a derrota para o “comunismo” (É sempre bom lembrar que este é o discurso majoritário e a narrativa que ainda prevalece) restariam duas opções: admitir o fracasso do projeto de poder ou alimentar ainda mais a narrativa de “retaliação” e “perseguição” aos “verdadeiros defensores da fé”. E está nítida qual opção foi a escolhida. E é um discurso que comove, agrega, fortalece e, principalmente, rende mais poder e dinheiro aos envolvidos. André Valadão sabe disso. Sua violência não é gratuita. Ela é um PROJETO DE PODER.

André Valadão, assim como Malafaia, sonham em ser presos e usarem desse discurso de que “o PT iria perseguir as igrejas” como molas de propulsão de seus ministérios hoje questionados por muitos. A prisão seria, para grande parte do imaginário evangélico, a chancela de que são “homens de Deus contra demônios que chegaram ao poder da nação”. E você, caro leitor, já imagina o quanto isso voltará para eles em apoio financeiro e “moral”, entendem?

Então eles não devem ser presos e punidos? De jeito nenhum! Que esses criminosos sejam responsabilizados por seus crimes hediondos, promotores da violência e do assassinato de uma população que já sofre diariamente e chora seus mortos a cada 24 horas. Que André Valadão e outros (que ainda virão na onda, para serem martirizados) sejam punidos pelo rigor da Lei e que acordemos para essa “disputa de narrativa” (sei que essa expressão já causa um certo ranço, mas está aí). Não chegamos até aqui para recuar diante da mentalidade tacanha e perversa dessa gente que, “em nome de Deus”, quer instaurar uma teocracia diabólica no Brasil.

Que o Deus de Jesus Cristo, o revolucionário pobre de Nazaré, nos abençoe nessa luta!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.