ESCÂNDALO DO PIX

Ex-ministro do TSE fez Pix para Bolsonaro e reclama da divulgação dos dados

Ex-presidente passa por pente fino do Coaf, que identificou mais de R$ 17 milhões transferidos para sua conta via Pix somente em 2023

Jair Bolsonaro recebeu Pix de ex-ministro do TSE.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Na estranha movimentação milionária de mais de R$ 17 milhões depositados na conta de Jair Bolsonaro via Pix somente janeiro e o início de julho deste ano, está uma transferência feita por Admar Gonzaga Neto, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

O ex-presidente passa por um pente fino do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que na quinta-feira (28) divulgou um relatório apontando movimentação atípica em uma de suas contas bancárias. 

As transações, segundo o órgão, podem estar ligadas à "vaquinha" feita por Bolsonaro com o suposto objetivo de angariar recursos para pagar multas. Em junho, o ex-presidente divulgou seu CPF, que é o número de seu Pix, para que apoiadores fizessem as transferências. A campanha foi propagada pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, e outros apoiadores. 

Naquele mês, a Justiça de São Paulo havia determinado o bloqueio de R$ 87,4 mil das contas de Bolsonaro pelo não pagamento de multas por infringir regras sanitárias à época da pandemia do coronavírus. 

Apesar de ter declarado R$ 2,3 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas últimas eleições e de receber um salário de cerca de R$ 86,5 mil, entre os recursos que recebe do PL, seu partido, e a aposentadoria do Exército - que ultrapassa os R$ 100 mil quando somado aos valores recebidos pela esposa, Michelle Bolsonaro -, Bolsonaro não se furtou em pedir dinheiro e, até o momento, não divulgou o quanto arrecadou na "vaquinha" e se ao menos parte do valor foi utilizado para pagar as multas. 

Pelo contrário. O relatório do Coaf diz, ainda, que parte dos recursos arrecadados via Pix teriam sido convertidos em aplicações financeiras - isto é, investimento.

Admar Gonzaga Neto, o ex-ministro do TSE que chegou a atuar como advogado de Bolsonaro, transferiu para o ex-presidente R$ 5 mil via Pix. À Folha de S. Paulo, o magistrado disse que doou o valor para ajudar o ex-mandatário a pagar as multas referentes à infração sanitária à época da pandemia e ainda reclamou da divulgação dos dados. 

"Lamentável é o vazamento de dados financeiros para a imprensa. Vocês obtiveram autorização judicial? Estamos vivenciando uma inquisição moderna", disparou o ex-ministro. 

Segundo o Coaf, foram registradas transferências, além de outros, do PL, três empresas e de outras 18 pessoas, entre advogados, empresários, militares e pecuaristas que fizeram "doações" via Pix que variam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil. Uma só empresa, inclusive, teria feito 62 transferências. 

O relatório com as movimentações financeiras atípicas na conta de Bolsonaro foi encaminhado pelo Coaf aos parlamentares que compõem a Comissão Parlamentar de Inquérito Mista que apura os atos democráticos do dia 8 de janeiro, a CPMI dos Atos Golpistas

Vaquinha não explica transferências 

Uma lebre sobre o assunto foi levantada pelo jornalista Reinaldo Azevedo em sua coluna desta sexta-feira (28), no UOL. Segundo o jornalista, aliados de Bolsonaro começaram a divulgar sua chave Pix em 23 de junho, depois que veio a público a informação de que a Justiça de São Paulo havia decidido bloquear R$ 87 mil de sua conta, conforme se noticiou no dia 14 do mês passado.

Antes do dia 23, portanto, inexistia pedido para depósitos na conta do ex-presidente. O jornalista lembra ainda que Bolsonaro deixou o Brasil em 30 de dezembro do ano passado e só retornou em 30 de março. Portanto, esteve ausente do país em três dos seis meses.

Reinaldo Azevedo chama a atenção para a necessidade de se descobrir quanto o ex-presidente recebeu antes do dia 23 de junho, quando a chave de seu Pix foi divulgada, e quanto entrou depois.

“Se os R$ 17,1 milhões podem ser atribuídos ao chamamento dos bolsonaristas para pagar a multa — como especula o Coaf —, então essa tempestade de Pix teria ocorrido entre 23 de junho e 4 de julho: em meros 13 dias, não em seis meses: por dia, média de R$ 1,545 milhão e de 69.909 operações. É sério isso?”, pergunta o jornalista.

E encerra: “mas, então, quero saber o que justifica as transferências anteriores à divulgação da chave. Ele recebia chuva de Pix mesmo quando estava homiziado em Orlando?”