As investigações a respeito do assassinato de Marielle Franco, em março de 2018, ganharam uma série de fatos novos nesta segunda-feira (24) após a delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz que, preso em Rondônia por participar do crime, se sentiu traído por Ronnie Lessa e decidiu delatar a quadrilha. Entre uma série de detalhes do crime que fazem os investigadores estarem certos de que chegarão no mandante, Queiroz revelou que ele, Lessa e Maxwell ‘Suel’ Simões foram alertados em 2019 por um policial militar sobre a chamada “Operação Marielle”.
Em 12 de março de 2019, quando o crime estava prestes a completar 1 ano, uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério Público levaram Lessa e Queiroz para a cadeia. O alerta de que seriam alvos da mesma veio na véspera em 11 de março.
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Naquela ocasião um homem identificado como Jomar Duarte, o Jomarzinho, enviou uma mensagem ao PM Maurício Conceição, conhecido como Mauricinho, informando que haveria uma “Operação Marielle” e que “pelo que me falaram vão até prender (…) não sei se é verdade”.
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Mauricinho em poucos minutos já teria avisado Suel, que concluiu a conversa com a seguinte mensagem: “Doido para isso acabar logo”. Na sequência ele teria avisado Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.
Entenda o que foi revelado e os próximos passos da investigação
- Após elementos que comprovam a participação no crime, o ex-PM Élcio Queiroz, até então acusado de dirigir o carro de onde Lessa efetuou os disparos, confirmou a participação dos dois no assassinato de Marielle e Anderson Gomes;
- Élcio ainda implicou Maxwell Simões que, segundo ele, foi um dos articuladores do assassinato, atuando no planejamento do crime antes e depois da execução;
- ‘Suel’ havia sido condenado a quatro anos de prisão em 2021 apenas por obstruir as investigações, escondendo as armas após o crime e depois jogando-as ao mar. Ele também teria feito campana para acompanhar os passos da vereadora desde 2017;
"Há convergência entre a narrativa do Élcio e outros aspectos que já se encontravam em posse da polícia. O senhor Élcio narra a dinâmica do crime, a participação dele próprio e do Ronnie Lessa e aponta o Maxwell e outras pessoas como copartícipes", disse Dino.
- Suel foi preso em casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, e foi levado para a sede da PF, na Zona Portuária. Ele foi preso na mesma casa onde foi detido em 2019. Além da mansão, ele possui um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, no valor de R$ 2 milhões;
- Além de Suel, outras seis pessoas foram alvos da operação desta segunda-feira (27), entre elas o irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, que presta depoimento à PF;
- Os outros cinco alvos são: Edilson Barbosa dos Santos, o "Orelha"; João Paulo Vianna dos Santos Soares, o "Gato do Mato"; Alessandra da Silva Farizote; Maurício da Conceição dos Santos Junior, o "Mauricinho"; e Jomar Duarte Bittencourt Junior, o "Jomarzinho";
- Segundo o promotor Fábio Cardoso, a delação premiada de Élcio Queiroz fez com que "um pacto de silêncio fosse rompido" entre os integrantes da organização criminosa que assassinou Marielle e Anderson Gomes.
"Síntese do dia é que delação premiada do Élcio permite informações que conduzam a esclarecimento de toda a dinâmica do crime e evidentemente de outras participações", afirmou Dino.
Ex-PM executado em 2021 foi articulador
- O ex-PM Edmilson Oliveira da Silva, mais conhecido como “Edmilson Macalé”, teria sido, segundo a delação de Queiroz, o responsável por recrutar Ronnie Lessa para o cometimento do crime.
- Também teria feito todo o planejamento do assassinato e esteve presente nas ocasiões em que a quadrilha monitorou o cotidiano da vítima.
- No carro, na noite do crime, o bombeiro Maxwell Simões, o Suel, seria o motorista. Ronnie Lessa, à época vizinho de Bolsonaro, e sua metralhadora MP5K ficaram no banco do carona com a responsabilidade de executar Marielle.
- No banco de trás estariam o próprio Élcio de Queiroz e Edmilson Macalé que, armado com uma AK47, seria o responsável pela “contenção”, ou seja, pela resposta a uma eventual troca de tiros com a polícia que pudesse ocorrer durante a ação criminosa.
- Macalé infelizmente não poderá confirmar ou negar a versão.
- Ele próprio foi executado de forma semelhante em 2021, a tiros, quando dirigia sua BMW na Avenida Santa Cruz, em Bangu. O ex-PM morreu na hora e as investigações até hoje não solucionaram o crime.
Os próximos passos da investigação
- Após desvendar a chamada "mecânica" do crime, sobre como foi planejado e executado o assassinato, o Ministério Público e a Polícia Federal agora vão focar nos mandantes;
- Segundo o ministro, parte da investigação está em segredo de Justiça, mas "o certo é que nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhidas no dia de hoje";
- Dino disse ainda que é "indiscutível" a participação de outras pessoas e que as investigações mostram envolvimento "das milícias e do crime organizado do Rio de Janeiro no crime".