O advogado Henrique Telles anunciou nesta segunda-feira (24) que deixou a defesa de Élcio de Queiroz após o cliente fechar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. O ex-PM está preso em Rondônia por participar do assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018 e teria se apoiado em outra advogada para negociar o acordo. Telles se diz surpreendido com o que leu nos meios de comunicações sobre a revelações de Queiroz.
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“Nossa linha de trabalho não compactua com o instituto da delação premiada. Os fatos [esclarecidos pela delação] nunca nos foram relatados pelo Élcio. Por essa razão, estou pedindo para sair”, afirmou o profissional à Revista Veja.
- Élcio de Queiroz decidiu fazer uma delação premiada após desconfiar das condutas de Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos que mataram Marielle Franco em 2018;
- O ex-vizinho de Bolsonaro disse em depoimento que jamais teria feito pesquisas online sobre a vítima. Queiroz sabia que a declaração é mentirosa e foi isso que o motivou a delatar;
- Na delação, o ex-PM confessou ter participado do crime, mas reiterou que o autor dos disparos fatais foi Lessa. Também deu mais detalhes do crime;
- Ele e Lessa aguardaram a saída de Marielle da Casa das Pretas, no centro do Rio, para seguirem seu carro e matarem a vítima em seguida;
- De acordo com a delação, foi pelo Instagram da vereadora que a dupla de matadores chegou ao evento.
Arma usada no crime era do Bope
- O ex-PM Élcio de Queiroz revelou que a metralhadora MP5K utilizada para matar Marielle Franco em 14 de março de 2018 era de propriedade do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro;
- A informação sobre procedência da arma foi passada a Queiroz por Ronnie Lessa, miliciano preso por efetuar os disparos e que à época era vizinho do então pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL, atualmente no PL) no condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio;
- A metralhadora teria sido “perdida” pela corporação após o incêndio que atingiu o paiol do Bope e acabou na mão de algum policial que a reformou e, em seguida, vendeu para Ronnie Lessa;
“A arma utilizada foi uma MP5K. Segundo o Ronnie Lessa essa arma era do Bope. Quando o paiol do Bope pegou fogo essa arma sumiu. Como o Ronnie já havia trabalhador no Bope com essa MP5K e gostava muito dela, procurou saber quem havia ficado com a arma e comprou a arma dessa pessoa. Não sei informar quem estava com essa arma, mas imagino que possa ser alguém que estava na ativa na época do incêndio no paiol”, revelou o ex-PM à PF.
- De acordo com a delação, Lessa não quis vender a arma após o crime com medo de que fosse descoberta;
- Queiroz e Lessa estão presos em Rondônia acusados de participar no assassinato de Marielle Franco.
Ronnie Lessa tentou matar Marielle um ano antes
- Em 2017, Ronnie Lessa já havia tentado cometer o mesmo crime contra a vereadora do PSOL;
- Ronnie Lessa confessou, na virada do ano de 2017, que tinha agido para “pegar a mulher que estavam monitorando há alguns meses”;
- Porém, por conta de uma falha mecânica no carro, o crime não teria sido realizado em 2017;
- Maxwell, bombeiro que foi preso hoje e também estava envolvido no crime, afirmou que o carro “deu problema” e “falhou”, mas Lessa não acreditou na versão;
- Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, agora a missão dos investigadores é entender por que Marielle Franco foi assassinada e estava sendo "monitorada" por Ronnie Lessa.
Entenda o que foi revelado e os próximos passos da investigação.
- Após elementos que comprovam a participação no crime, o ex-PM Élcio Queiroz, até então acusado de dirigir o carro de onde Lessa efetuou os disparos, confirmou a participação dos dois no assassinato de Marielle e Anderson Gomes;
- Élcio ainda implicou Maxwell Simões que, segundo ele, foi um dos articuladores do assassinato, atuando no planejamento do crime antes e depois da execução;
- ‘Suel’ havia sido condenado a quatro anos de prisão em 2021 apenas por obstruir as investigações, escondendo as armas após o crime e depois jogando-as ao mar. Ele também teria feito campana para acompanhar os passos da vereadora desde 2017;
"Há convergência entre a narrativa do Élcio e outros aspectos que já se encontravam em posse da polícia. O senhor Élcio narra a dinâmica do crime, a participação dele próprio e do Ronnie Lessa e aponta o Maxwell e outras pessoas como copartícipes", disse Dino.
- Suel foi preso em casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, e foi levado para a sede da PF, na Zona Portuária. Ele foi preso na mesma casa onde foi detido em 2019. Além da mansão, ele possui um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, no valor de R$ 2 milhões;
- Além de Suel, outras seis pessoas foram alvos da operação desta segunda-feira (27), entre elas o irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, que presta depoimento à PF;
- Os outros cinco alvos são: Edilson Barbosa dos Santos, o "Orelha"; João Paulo Vianna dos Santos Soares, o "Gato do Mato"; Alessandra da Silva Farizote; Maurício da Conceição dos Santos Junior, o "Mauricinho"; e Jomar Duarte Bittencourt Junior, o "Jomarzinho";
- Segundo o promotor Fábio Cardoso, a delação premiada de Élcio Queiroz fez com que "um pacto de silêncio fosse rompido" entre os integrantes da organização criminosa que assassinou Marielle e Anderson Gomes.
"Síntese do dia é que delação premiada do Élcio permite informações que conduzam a esclarecimento de toda a dinâmica do crime e evidentemente de outras participações", afirmou Dino.
Os próximos passos da investigação
- Após desvendar a chamada "mecânica" do crime, sobre como foi planejado e executado o assassinato, o Ministério Público e a Polícia Federal agora vão focar nos mandantes;
- Segundo o ministro, parte da investigação está em segredo de Justiça, mas "o certo é que nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhidas no dia de hoje";
- Dino disse ainda que é "indiscutível" a participação de outras pessoas e que as investigações mostram envolvimento "das milícias e do crime organizado do Rio de Janeiro no crime".