Na última sexta-feira (2), durante um evento em Itaberaba (BA), o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse que Brasília é uma "ilha da fantasia".
"Essa ideia de colocar a capital do país longe da vida das pessoas, na minha opinião, fez um grande mal ao Brasil". Seria melhor se a capital tivesse permanecido no Rio de Janeiro, ou tivesse ido para São Paulo, Minas Gerais ou Bahia, para que aqueles que trabalham nos prédios, como a Câmara dos Deputados e o Senado, passassem por uma favela ou debaixo de um viaduto, vendo pessoas pedindo comida e testemunhando o desemprego", declarou Costa.
Avalanche de críticas
As declarações do ministro geraram uma avalanche de críticas entre políticos da capital federal de direita e de esquerda. A mais recente foi feita pelo governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), em entrevista ao portal Metrópoles publicada neste domingo (4), quando ele defendeu veementemente Brasília.
"Ele é completamente idiota. Não merece ocupar o cargo que ocupa. Agora sabemos de onde vem o ataque ao Fundo Constitucional", afirmou o governador.
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Ao mencionar o ataque ao Fundo Constitucional do DF (FCDF), Ibaneis se refere à inclusão do dispositivo no teto do novo regime fiscal, o que coloca em risco a manutenção dos serviços essenciais na capital do país.
Por meio desse fundo, a União financia a segurança, saúde e educação no DF, que abriga uma população de mais de 3 milhões de pessoas, além de ser a sede dos Três Poderes e das embaixadas de outras nações.
O conjunto de regras fiscais, aprovado na Câmara dos Deputados e atualmente em análise no Senado, estipula um limite anual de 2,5% para o crescimento do orçamento do FCDF. De acordo com cálculos do Governo do DF, caso essa medida seja aprovada pelo Senado e sancionada pela Presidência, a capital do país poderá perder R$ 87 bilhões ao longo de 10 anos.
Discurso equivocado
Já a vice-governadora, Celina Leão (PP), afirmou, pelas redes sociais, que o discurso do ministro é equivocado, inclusive para aqueles que estão morando no DF para exercer suas funções ministeriais.
"O sonho de JK de trazer a capital para Brasília está ligado ao desenvolvimento do interior do país - e isso realmente aconteceu! Nossa cidade tem mais de 3 milhões de habitantes. Junto com a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), esse número passa de 5 milhões de pessoas que vivem e trabalham no DF, mais do que alguns estados do país. Acreditamos na sensibilidade do governo, mesmo com opiniões internas divergentes de não apoiar essa situação", afirmou Celina.
Desconhecimento sobre Brasília
O deputado federal Chico Vigilante (PT), do mesmo partido de Rui Costa e do presidente Lula, afirmou que a manifestação do ministro "demonstra total desconhecimento da capital federal".
"Eu o convido a conhecer o Sol Nascente, a Estrutural, o Pôr do Sol e outros lugares, para que conheça o verdadeiro DF", escreveu o parlamentar nas redes sociais.
Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Administrativa do Sol Nascente (DF) ultrapassou a Rocinha (RJ) e se tornou a maior favela do país em número de domicílios.
Também do PT, o vice-presidente da Câmara Legislativa do DF (CLDF), deputado distrital Ricardo Vale, postou em sua conta no Twiiter que "Rui Costa não conhece Brasília e acredita que nossa cidade se resume ao Congresso Nacional".
"A declaração do ministro foi infeliz, porque, para o cidadão comum, não existe uma ilha da fantasia, mas sim problemas de saúde, educação e segurança", pontuou.
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) afirmou nas redes sociais que a declaração do ministro Rui Costa "é típica de alguém que não conhece a cidade e o DF". Segundo a parlamentar, "se existe uma 'ilha da fantasia', ela é habitada exatamente por aqueles que só conseguem enxergar tapetes e gabinetes aqui", escreveu.
A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do DF (OAB-DF), em nota publicada no site da entidade, afirmou que Rui Costa “deveria ter a exata noção da responsabilidade que o alto cargo público para o qual foi nomeado exige”.
“O respeito à dignidade de todos os cidadãos de Brasília e daqueles que são recebidos de braços abertos na nossa capital é missão institucional daqueles que foram eleitos pelo povo do país”, declarou a nota.
Segundo a OAB-DF, “os dizeres do ministro ofendem a memória de nossos antepassados, daqueles que acreditam no projeto de um Brasil para todos que Brasília representa.”