A vitória do governo na noite desta quarta-feira (31) com a aprovação da MP dos Ministérios por 337 votos a 125 contra (e uma abstenção) acirrou os ânimos e Lula vai começar a agir pessoalmente para tentar esvaziar o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e constituir uma base mais "extensa e firme" diante dos achaques do parlamentar alçado ao comando na casa legislativa por Jair Bolsonaro (PL), a quem apoiou abertamente na tentativa frustrada de reeleição.
Segundo o vice-líder do governo, Rogério Correia (PT-MG), Lula deve cuidar mais do "quintal" a partir de agora e receberá as bancadas dos partidos para articular um base na Câmara que vá além dos cerca de 140 parlamentares de esquerda e centro-esquerda.
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"A primeira bancada que ele vai receber é do PT, a federação, né? PT, PCdoB e PV. Ontem o líder, Zeca Dirceu, nos comunicou que o presidente Lula não recebeu ainda as bancadas. Se pensar bem, tem pouco tempo de governo, pouco mais de 50 dias. Então, realmente, é um tempo pequeno para se fazer tanta coisa como fez e o Lula está se transformando em um porta-voz, uma liderança, internacional muito grande. Então, isso vai nos render coisas no futuro", disse Correia em entrevista ao Fórum Café na manhã desta quinta-feira (1º).
"As vezes o pessoal reclama: ah, o Lula tá olhando muito para questões internacionais e esquecendo de cuidar do quintal. Ele agora volta para as questões do Brasil, mas foram fundamentais também essas relações internacionais que o Lula retomou", emendou o parlamentar.
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Segundo Correia, após Lula entrar em campo e atuar diretamente na cooptação de votos para aprovação da MP que garantiu a manutenção da estrutura do governo, o presidente deve fortalecer o contato com o Centrão, que começa a rachar diante das discussões sobre a troca de comando da casa.
"É possível ter uma base mais extensa e firme que esses 130/140 votos que nós temos. Agora com a entrada de Lula na jogada, isso pode se tornar possível. O Centrão começa agora, entre eles, ter interesses distintos, daqui a pouco começa também a sucessão de Lira. Tem dois blocos lá: um que está o MDB e outro que está o PP do Lira. Então, embora eles se unifiquem bastante, já há sinais que esses dois blocos podem ter interesses divergentes na Câmara que pode levar a aproximação com o bloco de esquerda e centro-esquerda", disse.
O deputado cita nominalmente o Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, como um potencial aliado fiel do governo na Câmara.
"Eu citei o Republicanos uma vez e vou citar de novo. Eles têm sentido mais pragmatismo que a ideologia. Embora na questão dos costumes sejam muito conservadores - e nisso nós não vamos nos aproximar, pois é difícil, por ter uma base grande da Igreja Universal -, mas do ponto de vista prático, o Republicanos é muito pragmático e eles entregam o conjunto de votos que têm na totalidade", disse Correia, que acredita que ainda "existem outras aproximações que podem ser feitas de modo permanente".
Recado de Lira
Após a derrota na noite desta quarta-feira, Lira procurou interlocutores do Planalto para mandar um recado a Lula, em novo achaque ao governo.
O presidente da Câmara teria dito, por meio de aliados, que não pautará mais nenhum projeto do governo pressionando para mudanças na articulação de Lula com a casa legislativa.
Aliado a bolsonaristas, Lira quer uma maior liberação de verbas para deputados oposicionistas, além de cargos para partidos do centrão no governo, forçando uma reforma ministerial.
O recado de Lira atinge diretamente as pautas prioritárias do governo, como a proposta com regras para a proclamação de resultados de julgamentos do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que julga disputas bilionárias entre empresas e a União sobre pagamento de impostos, além da MP que recria o Minha Casa, Minha Vida.
Assista à entrevista de Rogério Correia ao Fórum Café.