CUIDAR DO QUINTAL

Lula se reúne com bancadas para buscar base "mais extensa e firme" após vitória contra Lira

Lula vai receber deputados em meio ao embate com Arthur Lira, que quer travar votações do governo na Câmara. Republicanos, de Tarcísio Gomes de Freitas, está na mira para compor base permanente na casa legislativa.

Lula com o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo e presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira..Créditos: Ricardo Stuckert/PR
Escrito en POLÍTICA el

A vitória do governo na noite desta quarta-feira (31) com a aprovação da MP dos Ministérios por 337 votos a 125 contra (e uma abstenção) acirrou os ânimos e Lula vai começar a agir pessoalmente para tentar esvaziar o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e constituir uma base mais "extensa e firme" diante dos achaques do parlamentar alçado ao comando na casa legislativa por Jair Bolsonaro (PL), a quem apoiou abertamente na tentativa frustrada de reeleição.

Segundo o vice-líder do governo, Rogério Correia (PT-MG), Lula deve cuidar mais do "quintal" a partir de agora e receberá as bancadas dos partidos para articular um base na Câmara que vá além dos cerca de 140 parlamentares de esquerda e centro-esquerda.

"A primeira bancada que ele vai receber é do PT, a federação, né? PT, PCdoB e PV. Ontem o líder, Zeca Dirceu, nos comunicou que o presidente Lula não recebeu ainda as bancadas. Se pensar bem, tem pouco tempo de governo, pouco mais de 50 dias. Então, realmente, é um tempo pequeno para se fazer tanta coisa como fez e o Lula está se transformando em um porta-voz, uma liderança, internacional muito grande. Então, isso vai nos render coisas no futuro", disse Correia em entrevista ao Fórum Café na manhã desta quinta-feira (1º).

"As vezes o pessoal reclama: ah, o Lula tá olhando muito para questões internacionais e esquecendo de cuidar do quintal. Ele agora volta para as questões do Brasil, mas foram fundamentais também essas relações internacionais que o Lula retomou", emendou o parlamentar.

Segundo Correia, após Lula entrar em campo e atuar diretamente na cooptação de votos para aprovação da MP que garantiu a manutenção da estrutura do governo, o presidente deve fortalecer o contato com o Centrão, que começa a rachar diante das discussões sobre a troca de comando da casa.

"É possível ter uma base mais extensa e firme que esses 130/140 votos que nós temos. Agora com a entrada de Lula na jogada, isso pode se tornar possível. O Centrão começa agora, entre eles, ter interesses distintos, daqui a pouco começa também a sucessão de Lira. Tem dois blocos lá: um que está o MDB e outro que está o PP do Lira. Então, embora eles se unifiquem bastante, já há sinais que esses dois blocos podem ter interesses divergentes na Câmara que pode levar a aproximação com o bloco de esquerda e centro-esquerda", disse.

O deputado cita nominalmente o Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, como um potencial aliado fiel do governo na Câmara.

"Eu citei o Republicanos uma vez e vou citar de novo. Eles têm sentido mais pragmatismo que a ideologia. Embora na questão dos costumes sejam muito conservadores - e nisso nós não vamos nos aproximar, pois é difícil, por ter uma base grande da Igreja Universal -, mas do ponto de vista prático, o Republicanos é muito pragmático e eles entregam o conjunto de votos que têm na totalidade", disse Correia, que acredita que ainda "existem outras aproximações que podem ser feitas de modo permanente".

Recado de Lira

Após a derrota na noite desta quarta-feira, Lira procurou interlocutores do Planalto para mandar um recado a Lula, em novo achaque ao governo.

O presidente da Câmara teria dito, por meio de aliados, que não pautará mais nenhum projeto do governo pressionando para mudanças na articulação de Lula com a casa legislativa. 

Aliado a bolsonaristas, Lira quer uma maior liberação de verbas para deputados oposicionistas, além de cargos para partidos do centrão no governo, forçando uma reforma ministerial.

O recado de Lira atinge diretamente as pautas prioritárias do governo, como a proposta com regras para a proclamação de resultados de julgamentos do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que julga disputas bilionárias entre empresas e a União sobre pagamento de impostos, além da MP que recria o Minha Casa, Minha Vida.

Assista à entrevista de Rogério Correia ao Fórum Café.