O empresário bolsonarista Adauto Lúcio de Mesquita foi pego na mentira durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos instalada na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) que investiga os atos vândalos ocorridos em pura Brasília no dia 12 de dezembro de 2022 e os atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023.
Na sessão da comissão realizada nesta quinta-feira (4), ele foi flagrado em diversas contradições que o forçaram a voltar atrás em declarações. Como, por exemplo, quando negou ter participado de manifestações para pedir golpe de Estado.
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Ao ser confrontado pelo deputado distrital Fábio Félix (Psol) ele admitiu que esteve na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro, mas que não invadiu nem depredou as sedes dos Três Poderes e que foi embora quando percebeu a violência. O parlamentar postou o trecho da sessão que mostra a contradição do empresário.
Pedido à Justiça para não ir à CPI
Outra contradição de Mesquita foi apontada pelo presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), logo depois da fala inicial do empresário. Durante 10 minutos ele falou sobre a própria vida e que compareceu ao colegiado de forma "espontânea".
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Mas Vigilante ressaltou que nesta quarta-feira (3), o empresário recorreu duas vezes ao Tribunal de Justiça do DF para tentar obter uma liminar que o livrasse da obrigação de comparecer à CLDF para prestar depoimento nesta quinta.
Financiamento do acampamento golpista
O relatório da Polícia Civil do DF que investigou os atos criminosos de 8 de janeiro apontam que Mesquita foi um grande financiador do movimento bolsonarista contra o sistema eleitoral brasileiro que defendia um golpe militar para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com as investigações, há provas de que o empresário pagou por comida e água e parte dos banheiros químicos instalados em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, o Forte Apache que foi ocupado por bolsonaristas no movimento contra a vitória de Lula.
Diante dessas provas, Mesquita é acusado de ter ajudado a manter o acampamento golpista montado em frente ao QG com transferência de dinheiro para contas bancárias de organizadores dos atos, além de pagar o transporte.
No entanto, à CPI, Mesquita negou essas acusações. Ele disse que fez apenas três doações “pequenas” para os bolsonaristas acampados em frente ao QG onde disse ter ido “três ou quatro vezes” e “bem rápido”. Também confirmou ter doado R$ 10 mil à campanha de reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Trio elétrico para animar golpistas
Outra contradição de Mesquita durante o depoimento à CPI diz respeito à contratação do trio elétrico Coyote, usado durante as manifestações do QG em Brasília. Perguntado por Vigilante se financiou a contratação do veículo, o empresário negou.
A resposta de Mesquita contradiz documentos da CPI que mostram que ele foi o arrecadador dos recursos para pagar pelo trio elétrico.
“Esse trio foi contratado por R$30 mil. Temos a listagem de quem contribuiu. O senhor é o arrecadador”, afirmou Vigilante.
O empresário, no entanto, seguiu negando ter contribuído financeiramente com a contratação do veículo e admitiu ter ajudado na negociação para baixar o preço.
“Eles estavam negociando e eu falei para fazer um preço melhor. Sou o comprador na minha empresa, sei pechinchar. Tenho habilidade para negociar. Não paguei um centavo do Coyote. Ajudei, pagaram e ponto. Minha participação foi essa”, explicou.
O presidente da CPI exibiu ainda vídeos onde Mesquita aparece recebendo o equipamento.
“Pegando aqui agora o Coyote. Olha o tamanho do trio elétrico. É o maior de Brasília”, diz Mesquita em vídeo que gravou e divulgou em suas redes sociais.
Veja os vídeos que desmentem o bolsonarista
Outdoor e crime eleitoral
Vigilante questionou o empresário sobre a contratação de outdoors no DF durante a campanha presidencial. Mais uma vez o bolsonarista negou ter financiado a ação e foi desmentido por fatos.
O inquérito da Polícia Civil mostra que Mesquita integrou um grupo de empresários e ruralistas do DF que mandou instalar outdoors pela capital federal, em apoio a Bolsonaro, durante a campanha eleitoral de 2022. Trata-se de um crime eleitoral, já que esse tipo de publicidade é vetada pela legislação eleitoral.
As investigações policiais revelam ainda que Mesquita tentou enganar a Justiça Eleitoral. Ele mandou mensagens em grupo de Whatsapp de empresários apoiadores de Bolsonaro em que informou que havia pedido à empresa responsável pela confecção dos outdoors a mascarar a campanha pró-Bolsonaro com mensagens que remeteram à Copa do Mundo de 2022, que aconteceria após a eleição, no Catar. Com isso, peças políticas ganharam mensagens como “Agora é 22!” e “Brasil 22” – 22 era o número de Bolsonaro nas urnas.
Calendário atualizado
A CPI dos Atos Antidemocráticos da CLDF divulgou o calendário atualizado das sessões no mês de maio, além de Adauto Lúcio de Mesquita, ouvido nesta quinta-feira, confira os próximos a deporem:
- 11 de maio: coronel Fábio Augusto Vieira, ex-comandante-geral da PM;
- 18 de maio: general Gustavo Henrique Dutra de Menezes (General Dutra), ex-chefe do Comando Militar do Planalto
Já em junho, há três depoimentos marcados:
- 1º de junho: general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- 17 de junho: general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI;
- 26 de junho: comandante-geral da PMDF, coronel Klepter Rosa Gonçalves.
Os assessores dos generais Augusto Heleno e Dutra estiveram no Plenário da Câmara Legislativa, nesta quinta, para avaliar a estrutura de segurança do local.