Em entrevista a Henrique Rodrigues e Iara Vidal no Fórum Café nesta quarta-feira (19), o deputado distrital Chico Vigilante (PT) afirmou que o general Augusto Heleno, ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), se recusou a depor na CPI dos atos terroristas na Câmara Legislativa do Distrito Federal por medo de implicar diretamente Jair Bolsonaro (PL) na "trama sórdida golpista" ocorrida em 8 de janeiro.
"A minha convicção é que ele não compareceu porque ele sabe que ao comparecer será perguntado e certamente vai implicar o chefe dele, que é o capitão Bolsonaro. Toda essa trama sórdida, golpista, que foi perpetrada a partir do dia 12 [de dezembro de 2022, com o ataque à sede da PF em Brasília] com desfecho final no dia 8 [de janeiro], eu não tenho dúvida nenhuma que foi acertado tudo com Bolsonaro", disse o deputado.
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Vigilante ainda disse que ligou para Heleno, que deu uma desculpa esfarrapada para não comparecer à CPI após conversa com "advogados e amigos". O militar também estaria esperando a decisão sobre a CPMI proposta pelos bolsonaristas no Congresso Nacional e teria medo de que o que falasse na Câmara Distrital fosse usada contra a narrativa que os apoiadores do ex-presidente buscam encampar.
"Eu liguei para ele, que havia dito antes para um integrante da nossa equipe que as perguntas eram muito capciosas. E não tem pergunta capciosa nenhuma. A gente está buscando a verdade e as perguntas são realmente duras. [...] Ele disse que havia conversado com advogados e amigos que tinham aconselhado ele a não comparecer para não botar mais gasolina na fogueira. Que fogueira é essa, que gasolina é essa que vai aumentar a temperatura?", indagou o parlamentar.
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Para Vigilante, Heleno e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres - que está preso e também se recusou a prestar depoimento - são dois personagens principais no golpe que, segundo ele, ocorreu, mas não se manteve.
"Uma coisa que é preciso deixar claro aqui: o golpe aconteceu. O golpe não se manteve. Eles ocuparam o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Eles não estavam ali só para quebrar móveis. Estavam para tomar o poder - o slogan do dia 8 era: vamos comparecer à Brasília para tomar o poder".
O deputado, então, implicou Bolsonaro diretamente na trama golpista. Para Vigilante, o ex-presidente fugiu para os EUA para acompanhar a trama e, caso o golpe se concretizasse, voltaria ao país para reassumir o poder e fechar o Congresso.
"Do meu ponto de vista, Bolsonaro sabia disso. Ele foi para os EUA para dizer que não tinha nada com isso, mas para ficar acompanhando de lá. E caso o golpe se mantivesse, ele voltar como grande herói dos golpistas e reassumir o poder, dissolvendo o Congresso e fazendo com que a democracia deixasse de existir em nosso país. Isto para mim está claro".
Vigilante ainda comparou o que aconteceu no Brasil com o golpe contra Evo Morales na Bolívia, que uniu a elite do país com o segundo escalão de militares.
"O que aconteceu no Brasil parece muito com o que aconteceu na Bolívia. Quem deu o golpe na Bolívia foram os coronéis da Polícia Militar. E eu digo aqui, sem medo de erra, que a coisa no Brasil só não foi pior porque teve um homem com muita coragem, quando aconteceu o motim da PM do Ceará, que foi o [ex] governador Camilo Santana, que foi para cima e aprovou uma emenda proibindo que tivesse qualquer tipo de remissão de pena e anistia. Isso fez com que em outro Estados se temessem [novos motins]".
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