CONFLITO DE INTERESSES

CPI do MST: Quem são os deputados financiados por ruralistas acusados de crimes ambientais

Grilagem de terras, desmatamento ilegal e contrabando de ouro e madeira são alguns dos crimes atribuídos aos financiadores

Ricardo Salles (PL-SP).O ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro e atual deputado federal é o relator da CPI do MSTCréditos: Reprodução /Instagram
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A oposição bolsonarista, que costuma taxar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como um grupo criminoso, conseguiu juntar votos suficientes para dar início à chamada CPI do MST, cujo principal objetivo é atacar e desgastar o Governo Lula. Neste domingo (21), o jornal O Globo deu luz a um verdadeiro conflito de interesses que envolve 7 parlamentares escalados para as investigações. De acordo com o jornal, os integrantes da CPI foram financiados por 10 ruralistas acusados de crimes ambientais.

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As acusações são diversas. Vão de grilagem de terras e desmatamento ilegal de áreas florestais, até o contrabando de madeira, ouro e outros produtos provenientes de práticas de extrativismo.

Entre os 7 parlamentares citados, 6 têm ligações diretas com o agronegócio. São eles Evair Melo (PP-ES), Domingos Sávio (PL-MG), Joaquim Passarinho (PL-PA), Marcos Pollon (PL-MS), Coronel Assis (União Brasil-MT) e Marussa Boldrin (MDB-GO). O sétimo parlamentar, Charles Fernandes (PSD-BA) é o único que vem da base do governo na Câmara dos Deputados.

A própria relatória da CPI do MST, instalada na última quarta-feira (17), ficou por conta do ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP). Ele próprio investigado no passado por participação em esquema de contrabando de madeira ilegal. Já o presidente da CPI, tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), é conhecido publicamente como um crítico feroz do MST.

Confira a seguir os parlamentares da CPI do MST que foram financiados por ruralistas

Evair Melo (PP-ES)

Reprodução/Câmara dos Deputados

O deputado Evair Melo foi um dos indicados à vice-presidência da CPI do MST. Na campanha eleitoral do último ano ele recebeu pouco mais de R$ 60 mil de Nelson e Geraldo Vigolo, os dois irmãos proprietários do grupo Bom Jesus Agropecuária.

O Ministério Público da Bahia chegou a denunciar Nelson no âmbito da Operação Faroeste que investigava a compra e venda de sentenças judiciais com o fim de legalizar grilagens de terras no interior do estado. A defesa de Nelson Vigolo alega que o ruralista teria sido uma vítima do esquema e que foi a própria empresa quem teria feito a denúncia do esquema do Conselho Nacional de Justiça.

Além disso, o próprio Grupo Bom Jesus Agropecuária foi multado por três vezes pelo Ibama. Os valores das multas superariam os R$ 10 milhões e, em um dos casos, em que a autuação se refere ao desmatamento ilegal de uma área adquirida pela empresa, os advogados alegam que a infração teria ocorrido antes da negociação da terra. O Ibama ainda não encerrou tais investigações.

Domingos Sávio (PL-MG)

Reprodução/Câmara dos Deputados

O bolsonarista Domingos Sávio também foi financiado pelos irmãos Vigolo. Teria recebido deles em torno de R$ 45 mil na última campanha eleitoral. Mas além deles, também recebeu cerca de R$ 25 mil do fazendo Mauro Schaedler. O doador de campanha acumula R$ 2,7 milhões em multas ambientais. São três autuações do Ibama sob a alegação de empreender, sem licença ambiental, uma série de atividades com forte potencial poluidor e extrativo.

Joaquim Passarinho (PL-PA)

Reprodução/Câmara dos Deputados

Passarinho é outro detrator do MST que está escalado para compor a CPI. Sua campanha para deputado federal no ano passado contou com a doação de R$ 50 mil do dono do Frigorífico Rio Maria, Roberto Paulinelli. O doador acumula R$ 387 mil em multas, nos últimos 6 anos, por acusações de crimes ambientais que seguem em investigação.

Coronel Assis (União Brasil-MT)

Coronel Assis ao lado de Jair Bolsonaro. Reprodução Redes Sociais

O bolsonarista Coronel Assis, suplente da CPI do MST, recebeu no ano passado R$ 80 mil de Edmar de Queiroz para fazer campanha. Queiroz é um madeireiro e minerador investigado pela Polícia Federal por participação em esquema de contrabando de ouro. Ele ainda é dono da empresa Madeplacas, que em 2005 foi pivô de suspeita de contrabando de madeira na Amazônia.

Marcos Pollon (PL-MS)

Marcos Pollon ao lado de Eduardo Bolsonaro em evento armamentista. Reprodução/Redes Sociais

Já o sul-mato-grossense e presidente do Proarmas, Marcos Pollon, foi apontado pela reportagem como financiado por Renato Burgel, empresário sojeiro. O doador foi autuado por duas infrações ambientais referentes ao plantio de sementes modificadas geneticamente em áreas de proteção ambiental.

Marussa Boldrin (MDB-GO)

Reprodução/Câmara dos Deputados

Também escalada para a CPI do MST, a emedebista goiana Marussa Boldrin recebeu doações de dois empresários autuados por infrações ambientais.

Um deles é Oscar Strochon, que trabalha com a produção e comercialização de sementes. Ele acumula duas multas no valor de R$ 400 mil aproximadamente, por empreender obras com forte potencial poluidor e sem licença em áreas do combalido Cerrado brasileiro.

Além dele, Boldrin também foi financiada por José Fava Neto, autuado por três vezes pelo Ibama por realizar plantios irregulares na Bahia em áreas protegidas de cerrado.

Charles Fernandes (PSD-BA)

Reprodução/Câmara dos Deputados

Na base do governo na Câmara, Fernandes aparentemente não é um exemplo a ser seguido na esquerda. De acordo com o levantamento, ele recebeu R$ 27,6 mil durante a campanha de Manoel Rubens. Além de ser ex-prefeito da cidade de Palmas do Monte Alto (BA), recebeu uma multa de R$ 100 mil do Ibama pelo corte de árvores classificadas como protegidas.