O General Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), afirma que não desmontou o acampamento golpista em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília, porque nunca houve uma ordem judicial para fazê-lo.
O general é o militar da ativa mais graduado a prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) até agora.
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Ele está sendo ouvido pela CPI nesta quinta-feira (18) para explicar o porquê o acampamento golpista nunca foi desmontado. Em especial no dia 9 de janeiro, quando o Exército, a PMDF e a Polícia Federal (PF) fizeram uma megaoperação que resultou na prisão de mais de 1.500 pessoas.
A CPI dos Atos Antidemocráticos apura os atos terroristas ocorridos em Brasília no dias 12 de dezembro de 2022, quando bolsonaristas radicais promoveram vandalismo, destruíram e atearam fogo em carros e ônibus; e do dia 8 de janeiro de 2023, quando deflagaram atos golpistas e vandalizaram as sedes dos Três Poderes.
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Comendo pelas beiras
O general admite que nunca atuou para desmontar o acampamento e sim para desmotivar os manifestantes em uma estratégia que ele definiu como "indireta".
"Tentamos o tempo todo desmotivar o acampamento. Nenhuma instituição que podia dizer que o acampamento era ilegal o fez", justificou Dutra.
O general explicou que a opção do Exército era atuar "comendo pelas beiras", ou seja, sem entrar em confronto com os manifestantes acampados em frente ao QG. O intuito não era desmontar as barracas, mas desmotivar os manifestantes.
"O acampamento não era ilegal. Eram coibidos os atos ilegais praticados lá", comentou Dutra.
Desmontagem tardia
No dia 5 de janeiro cerca de 50 homens do Exército foram acionados para retirar três caixas d'água instaladas por manifestantes bolsonaristas para abastecer o acampamento golpista. Escavadeira, trator, caçambas, caminhão equipado com guincho estavam sendo usados para a tarefa que acabou sendo suspensa.
A operação foi abortada depois que os golpistas cercaram os militares para reclamar da medida. Durante as negociações entre militares e acampados, o Exército cedeu à pressão dos bolsonaristas.
Apenas no dia 6 de janeiro, dois dias antes dos atos golpistas que vandalizaram as sedes dos Três Poderes, o Exército começou a desmontar as barracas erguidas pelos manifestantes. Foram desmontadas apenas as que ficavam em áreas adjacentes ao acampamento, ou seja, mais afastadas do centro da estrutura que abrigou golpistas desde o resultado final das Eleições 2022.
Só às vésperas da tentativa do golpe do dia 8 de janeiro o CMP iniciou a estratégia para, de fato, esvaziar o acampamento sem confronto. O estacionamento do local foi desativado, os carros foram proibidos de entrar na área, as barracas desocupadas foram desmontadas e o acampamento golpista começou a encolher.
Acampamentos golpistas pelo país
Os acampamentos golpistas que estavam em atividade desde novembro - depois do resultado das Eleições 2022 - no DF e em vários estados brasileiros, só começaram a ser desmontados no dia 9 de janeiro. A ordem foi dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes após os atos golpistas do dia 8 de janeiro.
Calendário da CPI
Em junho há três depoimentos marcados na CPI dos Atos Antidemocráticos da CLDF.
- 1º de junho: general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- 17 de junho: general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI;
- 26 de junho: comandante-geral da PMDF, coronel Klepter Rosa Gonçalves.