A investigação sobre fraude em cartões de vacina encampada pela Polícia Federal (PF), que levou o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, à prisão, e que ensejou a operação de busca e apreensão na casa do ex-mandatário, se desdobrou para uma apuração sobre lavagem de dinheiro.
Na casa de Cid, a PF encontrou 35 mil dólares em espécie - sacados nos Estados Unidos dias antes do retorno de Bolsonaro ao Brasil, em março de 2023 -, o que gerou fortes suspeitas de ilegalidades, e ainda descobriu movimentações financeiras do ex-ajudante de ordens no exterior. Ele mantinha uma conta bancária no BB Américas, uma subsidiária do Banco do Brasil na Flórida (EUA).
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A partir das perícias nos celulares de Cid e Bolsonaro, além de análises de materiais apreendidos nas operações de busca, a PF suspeita, agora, de que o próprio ex-presidente mantinha uma conta bancária nos EUA - no mesmo BB Américas de seu ex-auxiliar.
As informações sobre a nova descoberta da PF são de Cesar Tralli, da TV Globo, e segundo o jornalista, os investigadores devem levar mais 15 dias para concluir as perícias e, então, pedir oficialmente esclarecimentos aos investigados sobre as movimentações suspeitas.
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O fato de Bolsonaro, suspostamente, possuir uma conta no exterior, vem à tona na véspera do depoimento do ex-presidente à PF, marcado para esta terça-feira (16), no âmbito da investigação sobre fraudes em cartões de vacina, apuração que serviu de pivô para as apurações que envolvem outros crimes.
Mauro Cid e os depósitos para Michelle
A PF investiga, ainda, suposto desvio de dinheiro e rachadinha dentro do Palácio do Planalto. A última descoberta dos investigadores neste sentido dá conta de uma série de depósitos em dinheiro vivo feitos por Mauro Cid à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
No último sábado (13) foi revelado que, após a abertura do sigilo de servidores da Ajudância de Ordens da Presidência da República, a PF chegou a transações suspeitas entre um militar, Luis Marcos dos Reis, e a ex-primeira-dama. A suspeita é de que se trata de uma versão do esquema de rachadinha, quando o dinheiro sai de dentro do governo, atravessa contas até voltar para um servidor em sua conta. De acordo com a PF, Reis é peça-chave na história. Ele era subordinado a Mauro Cid.
Segundo a investigação, o dinheiro saía da Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção - que tinha um contrato com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) - para a conta de Reis. Foram R$ 25 mil. O sargento, então, sacava o dinheiro vivo em caixa eletrônico. Os depósitos iam para a conta de Rosimary Cordeiro, amiga de Michelle Bolsonaro e assessora do senador Roberto Rocha (PTB-MA), que emitiu um cartão de crédito para a primeira-dama.
De acordo com a PF, o dinheiro ia para pagar o cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro. Em áudio, Mauro Cid confessou que o esquema era similar ao de rachadinha. "É a mesma coisa do Flávio [Bolsonaro]. O problema não é quanto! É como deputado, rachadinha, essas coisas", diz.
Além disso, foram feitos 12 depósitos para a conta de Maria Helena Graces de Moraes Braga, tia de Michelle Bolsonaro. Entre abril e julho de 2022 ela recebeu R$ 2840 mensais em depósitos de sargentos do exército ou de terminais de autoatendimento na Praça dos Três Poderes.
Agora, a PF encontrou em trocas de mensagens via WhatsApp as fotos de 7 comprovantes de depósitos em dinheiro vivo enviadas a assessoras de Michelle Bolsonaro.
“A análise também identificou seus comprovantes de depósitos para a primeira-dama Michelle Bolsonaro no período de 8 de março de 2021 a 12 de maio de 2021, realizados por meio de depósitos fracionados em caixas eletrônicos de autoatendimento e um comprovante de depósito em espécie, possivelmente no atendimento presencial. Os comprovantes foram localizados tanto no grupo de WhatsApp da Ajudância de Ordens da Presidência da República, como em trocas de mensagens”, explicou a PF.
Ao todo, os depósitos somaram R$ 8600. O fato dos depósitos terem sido feitos de forma fracionada em caixas eletrônicos, e a partir de dinheiro vivo, faz com que os investigadores acreditem que, neste caso, esteja refletida a prática da rachadinha. Os pagamentos feitos desta maneira não permitem, por exemplo, a identificação da origem do depósito. A PF agora quer saber de onde vieram esses recursos para comprovar ou não a tese da linha de investigação.
Além desses comprovantes flagrados nas mensagens, também foi identificado um depósito de R$ 5 mil, em julho de 2021, que saiu diretamente da conta de Mauro Cid em direção a da ex-primeira-dama.