Em investigação que apura suspeita de esquemas de desvio de dinheiro e rachadinha no Palácio do Planalto durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), a Polícia Federal descobriu uma série de depósitos em dinheiro vivo feitos pelo tenente-coronel Mauro Cid à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante seu mandato, está preso desde o último dia 3 de maio acusado de operacionalizar o esquema de fraudes nos cartões de vacinação do ex-presidente e seu entorno. Após as apreensões dos seus celulares, outras questões passaram a ser investigadas.
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Em relação a nova descoberta, a defesa de Jair e Michelle Bolsonaro afirmou em nota que os depósitos se referem a gastos cotidianos da família e foram realizados com recursos próprios. No entanto em matérias publicadas na imprensa verifica-se outra história.
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Antecedente direto
No último sábado foi revelado que após a abertura do sigilo de servidores da Ajudância de Ordens da Presidência da República, a Polícia Federal descobriu transações suspeitas entre um militar, Luis Marcos dos Reis, e a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro (PL). A suspeita da PF é de que se trata de uma versão do esquema de rachadinha, quando o dinheiro sai de dentro do governo, atravessa contas até voltar para um servidor em sua conta. De acordo com a PF, Reis é peça-chave na história. Ele era subordinado a Mauro Cid.
Segundo a investigação, o dinheiro saía da Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção - que tinha um contrato com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) - para a conta de Reis. Foram R$ 25 mil. O sargento, então, sacava o dinheiro vivo em caixa eletrônico. Os depósitos iam para a conta de Rosimary Cordeiro, amiga de Michelle Bolsonaro e assessora do senador Roberto Rocha (PTB-MA), que emitiu um cartão de crédito para a primeira-dama.
De acordo com a Polícia Federal, o dinheiro ia para pagar o cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro. Em áudio, Mauro Cid confessou que o esquema era similar ao de rachadinha. "É a mesma coisa do Flávio [Bolsonaro]. O problema não é quanto! É como deputado, rachadinha, essas coisas", diz.
Além disso, foram feitos 12 depósitos para a conta de Maria Helena Graces de Moraes Braga, tia de Michelle Bolsonaro. Entre abril e julho de 2022 ela recebeu R$ 2840 mensais em depósitos de sargentos do exército ou de terminais de autoatendimento na Praça dos Três Poderes.
Fato novo
Agora, a Polícia Federal encontrou em trocas de mensagens via WhatsApp as fotos de 7 comprovantes de depósitos em dinheiro vivo enviadas a assessoras de Michelle Bolsonaro.
“A análise também identificou seus comprovantes de depósitos para a primeira-dama Michelle Bolsonaro no período de 8 de março de 2021 a 12 de maio de 2021, realizados por meio de depósitos fracionados em caixas eletrônicos de autoatendimento e um comprovante de depósito em espécie, possivelmente no atendimento presencial. Os comprovantes foram localizados tanto no grupo de WhatsApp da Ajudância de Ordens da Presidência da República, como em trocas de mensagens”, explicou a PF.
Ao todo, os depósitos somaram R$ 8600. O fato dos depósitos terem sido feitos de forma fracionada em caixas eletrônicos, e a partir de dinheiro vivo, faz com que os investigadores acreditem que, neste caso, esteja refletida a prática da rachadinha. Os pagamentos feitos desta maneira não permitem, por exemplo, a identificação da origem do depósito. A PF agora quer saber de onde vieram esses recursos para comprovar ou não a tese da linha de investigação.
Além desses comprovantes flagrados nas mensagens, também foi identificado um depósito de R$ 5 mil, em julho de 2021, que saiu diretamente da conta de Mauro Cid em direção a da ex-primeira-dama.