Os deputados federais do campo progressista estão se mobilizando no sentido de conseguirem com que Rodrigo Tacla Duran seja ouvido em audiência pública na Câmara. O ex-advogado da Odebrecht teve restabelecida sua ordem de prisão, na quinta-feira (13).
O responsável pelo despacho foi o desembargador Marcelo Malucelli, da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ele simplesmente revogou a decisão de Eduardo Appio, juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, que havia suspendido a ordem e prisão.
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Na prática, o despacho de Malucelli decretou a prisão preventiva de Duran, passando por cima da ordem do juiz Appio que, em março, revogou a ordem para prender o advogado que havia sido ordenada em 2016 pelo então juiz e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR) no âmbito da Lava Jato.
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A nova ordem de prisão emitida por Malucelli se deu semanas após a denúncia-bomba feita por Duran em depoimento ao juiz Appio acusando Moro e o deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que é ex-procurador da Lava Jato, de extorsão da qual foi vítima no âmbito da operação.
"Coincidentemente", Malucelli, que mandou prender Duran em meio às denúncias contra Moro e Dallagnol, tem relação próxima com o ex-juiz da Lava Jato.
O desembargador, ao emitir ordem de prisão preventiva contra Tacla Duran, acabou beneficiando Moro, alvo de denúncias graves feitas pelo advogado.
Malucelli é pai do advogado João Eduardo Malucelli, que integra, como sócio, a Wolff & Moro Sociedade de Advogados, escritório de advocacia de Sergio Moro e sua esposa, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP).
A proximidade não para por aí. João Malucelli, filho do desembargador que mandou prender Tacla Dura, é "genro" de Moro - ele namora a filha do ex-juiz e hoje senador com Rosângela, a jovem Júlia Wolff Moro, que tem 22 anos.
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Parlamentares apresentam requerimento para Duran depor em audiência pública
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) divulgou um vídeo nas redes sociais para defender o depoimento de Tacla Duran na Câmara.
“Vocês viram essa? O pai do sócio do Moro mandou prender o Tacla Duran. Uma daquelas coincidências com muitas aspas, bizarras, que a gente tem visto nos últimos tempos. Mais um motivo para o acusador de Moro e Dallagnol, que disse que foi extorquido, dar o seu pronunciamento na Câmara dos Deputados”, afirmou.
“Deixem o homem falar. Nós queremos ouvir o que Tacla Duran tem a dizer sobre Moro e Dallagnol. Eu e Sâmia (Bomfim, deputada também do PSOL) apresentamos o requerimento 10/2023 na Comissão de Constituição e Justiça para que seja realizada uma audiência pública com o intuito de ouvir Tacla Duran”, acrescentou Braga.
Denúncia contra Moro e Dallagnol; entenda
Rodrigo Tacla Duran, acusado de ter praticado lavagem de dinheiro para a Odebrecht quando trabalhava para a construtora, foi ouvido no dia 27 de março pela 13ª Vara Federal de Curitiba, por meio do juiz Eduardo Appio. Em depoimento, denunciou o ex-juiz da mesma vara e hoje senador Sergio Moro e o ex-procurador e hoje deputado federal Deltan Dallagnol de estarem envolvidos em um caso de extorsão do qual foi vítima. Ao final do depoimento, Appio decidiu enviar a acusação para o Supremo Tribunal Federal (STF) e o caso deverá ser apurado pela Polícia Federal.
De acordo com Tacla Duran, em 2016, o advogado Carlos Zucolotto Júnior teria exigido o pagamento US$ 5 milhões para que ele pudesse obter benefícios em acordos de colaboração com a Lava Jato e, assim, se livrar da prisão. Na conversa, feita por aplicativos de mensagens e da qual Duran alega ter capturas de tela, Zucolotto Júnior teria apontado que DD (Deltan Dallagnol) acertaria os termos do acordo. Cerca de um mês se passou até que Duran fizesse uma transferência de 613 mil dólares para o escritório de Marlus Arns.
Marlus atuava com Rosângela Moro em casos que envolviam a Apae e em processos relativos à chamada Máfia das Falências. Já Zucolotto era sócio da esposa de Moro e foi seu padrinho de casamento. Duran afirma que após a negativa em aderir ao esquema de extorsão, teria sido ameaçado por um outro delator, além de acusar o Ministério Público de utilizar subterfúgios para impedi-lo de prestar depoimentos.
“Com relação a Deltan Dallagnol e outros procuradores, inclusive coloquei na petição, que insistem em manter contatos extra conduto legal para continuar me perseguindo aqui na Espanha e em outros países. Ele se comunicava, tem provas nos autos, e tem uma questão de delator me ameaçando, por isso a urgência. Inclusive nessas trocas de mensagens foi comunicado que eu estava sendo ameaçado nos EUA por um delator. Precisa saber se o delator era a mando deles ou não, porque nada foi feito e as provas estão na própria petição”, denunciou.
Tacla Duran prosseguiu: “Fui testemunha em uma série de países onde há cooperação internacional sobre os casos da Odebrecht. Fui testemunha no Panamá, Argentina, Peru, Suíça, Andorra, vários países. É a primeira vez que sou ouvido no Brasil. Estou em causa própria nesse processo a um ano e pouco. E os subterfúgios processuais utilizados até agora para que eu não fosse ouvido são diversos”, relatou.
Duran também afirmou que tem de responder uma série de processos sobre o mesmo fato em cinco países diferentes como forma de perseguição por não ceder às pressões para extorsão. Ele vive na Espanha atualmente e prestou seu depoimento por videochamada.
“O processo penal no Brasil tem dois objetivos: a repatriação e a execução penal. O doutor foi contra a minha repatriação e a favor de me processar na Espanha, ao mesmo tempo em que tenta me citar. Eu realmente não sei o que o Ministério Público quer além de me perseguir. Fui processado pelo mesmo fato em cinco países, por uma simples questão de vingança, por eu não aceitar a extorsão. E porque eu não aceitei ser extorquido e, para falar no linguajar de cadeia que ele gosta, ‘arregado’, eu fui perseguido e sou até hoje", afirmou.
No momento da denúncia, o juiz interrompeu a audiência e enviou o caso para o Supremo Tribunal Federal, uma vez que dois dos citados, Dallagnol e Moro, agora são parlamentares. O caso deve ser investigado pela Polícia Federal e Tacla Duran terá seu nome encaminhado para o Programa Federal de Proteção a Testemunhas, uma vez que o juiz entendeu que envolve acusações contra pessoas que possuem "grande poderio político e econômico".
“Diante da notícia crime de extorsão, em tese, pelo interrogado, envolvendo parlamentares com prerrogativa de foro, ou seja, o deputado Deltan Dallagnol e o senador Sergio Moro, bem como as pessoas do advogado Zocolotto e do dito cabo eleitoral Fábio Aguayo, encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do ministro Ricardo Lewandowski”, despachou Appio.