DITADURA

Eduardo Bolsonaro atuou como lobista de ditador saudita que deu joias a Michelle

Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, prega uma agenda de "modernização" do país com políticas neoliberais, enquanto manda assassinar jornalistas, reprimir mulheres e condenar LGBTs à morte.

Mohammed bin Salman e Eduardo Bolsonaro.Créditos: Facebook
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*Matéria atualizada em 21/03/2023, às 19h17, para acréscimo do posicionamento da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC)

Dono de uma fortuna acumulada de cerca de 1,4 trilhão de dólares – maior que o PIB de países como México, Holanda e Bélgica, segundo dados do Banco Mundial – e acusado de mandar matar e esquartejar o jornalista Jamal Khashoggi, que está desaparecido desde 2018, o ditador Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, estreitou laços com o Brasil desde 2019 tendo como principal lobista um dos filhos de Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que viajou inúmeras vezes nos últimos quatro anos aos países árabes que financiam governos autocráticos pelo mundo com seus petrodólares.

"Tivemos uma excelente reunião com o Príncipe Mohammed Bin Salman da Arábia Saudita. Ele expressou o desejo de estreitar relações com o Brasil provavelmente como parte do seu programa VISÃO 2030, que objetiva diversificar os investimentos da Arábia Saudita", escreveu Eduardo nas redes em junho de 2019, com foto ao lado do sheik Bin Salman, que assumiu o posto de primeiro-ministro da ditadura árabe após entrar para o governo na pasta da Defesa em 2015, aos 30 anos de idade.

Aos 37 anos, Bin Salman é ferrenho defensor das políticas neoliberais como meio de "modernização do Estado" por meio da chamada agenda Visão 2030, adotada pela Arábia Saudita e outros países árabes para diversificar o investimento dos petrodólares diante da mudança de matriz energética no mundo.

Em outubro do mesmo ano, Jair Bolsonaro ganhou hospedagem no hotel mais luxuoso da Arábia Saudita para se encontrar com Bin Salman, principal gestor do PIF, um fundo de investimento público da Arábia Saudita.

Na ocasião, o herdeiro da ditadura saudita prometeu realocar cerca de 10 bilhões de dólares em investimentos no Brasil, de onde a Arábia importa cerca de 80% dos alimentos que consome.

Enquanto prega a "modernização" econômica do Estado, o ditador saudita reprime com braço de ferro oponentes – como no caso do jornalista Khashoggi – e promove a perseguição religiosa no país, onde o cristianismo é proibido por lei.

Além disso, mulheres sauditas não têm permissão para deixar suas casas sem companhia familiar masculina e correm risco de sofrer abuso físico e sexual. A homossexualidade também é punida, até mesmo com pena de morte.

Fundos árabes e investimentos no Brasil de Bolsonaro

A ascensão do clã Bolsonaro abriu as portas para os fundos árabes, com a mediação de Eduardo, que tem como destino preferido de férias e passeios Dubai, nos Emirados Árabes, país de origem do fundo Mubadala Capital, que entre outras aquisições comprou a preço muito abaixo do mercado a refinaria Landulpho Alves, na Bahia.

O valor do negócio foi de US$ 1,65 bilhão, quando, segundo avaliações do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), valia pelo menos o dobro disso, US$ 3,12 bilhões, podendo bater perto dos US$ 4 bilhões. Com a privatização, a Bahia passou a ter a gasolina mais cara do país.

Em quatro anos, o governo Bolsonaro realizou 151 viagens aos países árabes, sendo a Arábia Saudita o destino mais frequente. Bin Salman foi um dos líderes políticos com quem Bolsonaro mais falou. Foram cinco ligações entre 2019 e 2020, além dos encontros presenciais.

Antes de uma das conversas, em julho de 2020, Bolsonaro conversou por 20 minutos com o então ministro de Minas e Energia, Almirante Bento Albuquerque, que sempre acompanhava as ligações, segundo apuração da Agência Sportlight.

Em 2019, Bolsonaro afirmou que se sentia um irmão de Bin Salman em conversa com investidores na capital Riad.

“O Brasil já deu certo. E a aproximação com os senhores, em especial, aqui, a Arábia Saudita… A forma como o príncipe herdeiro tem me tratado, e eu também no tocante a ele. Como se fôssemos velhos conhecidos ou até mesmo irmãos. Isso me orgulha”, disse Bolsonaro sobre o ditador, que também foi defendido ferrenhamente por Eduardo Bolsonaro ao se despedir da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em 2021.

"Realizei viagens ao Oriente Médio, onde contribuí para o melhoramento substancial das nossas relações, não só com Israel, como também com os países árabes. Exemplo objetivo desse trabalho é o acordo com o Fundo de Investimento Público saudita para explorar oportunidades no Brasil de investimentos mutuamente benéficos em até US$ 10 bilhões. Obrigado, príncipe Muhammad bin Salman", disse Eduardo na ocasião.

Cortejado pelo governo, Bolsonaro chegou a montar uma estrutura especial na sua gestão somente para negociar com os árabes. Na ocasião, o chamado PPI, Programa de Parcerias de Investimentos, dedicado à privatização, ofereceu diversos "negócios" aos fundos árabes nas áreas de infraestrutura, saneamento, portos, aeroportos, petróleo e vendas de imóveis da União, estimados em US$ 150 bilhões.

Outro lado 

Em nota enviada à Fórum, a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) informou que não faz lobby com políticos ou autoridades. Confira. 

"A CBC não se vale de lobby de políticos ou autoridades brasileiras para fazer vendas ao exterior, tal como mencionado na versão anterior da matéria. A CBC há muitas décadas faz transações comerciais com diversos Estados estrangeiros, incluindo o Reino da Arábia Saudita, em absoluto respeito à legislação e às mais rígidas regras de compliance”