Luciane Barbosa Farias, a Luh Farias, que foi chamada em reportagem do estadão de “Dama do Tráfico”, é presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas e esteve no ministério dos Direitos Humanos no dia 6 deste mês. O objetivo da visita foi denunciar, junto com outros parentes de presos, sobre as condições dos presídios no estado.
Entre as várias denúncias, Luh falou sobre a revista vexatória de crianças, filhos de presos, que ocorrem nos presídios:
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“E outra coisa que eu venho falar é referente às crianças. Mesmo com o aparelho de body scan, as crianças são revistadas, baixa a fralda da criança, botam a criança no chão. Isso é inadmissível que a pena do preso passe pros familiares. Isso é inconstitucional. Então eu peço socorro pelo estado do Amazonas e reitero por todas as unidades prisionais que passam pela mesma mazela”, disse.
Luh Farias é membro do Comitê Estadual de Combate à Tortura do Amazonas (CEPCT-AM) e também da Ação Nacional de Família de Presos. Ela é esposa de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que seria ligado Comando Vermelho, e está preso em Manaus.
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“Venho falar, trazer minha voz aqui para os internos do Amazonas que pedem socorro porque há muito tempo não temos os direitos humanos dentro do sistema”, afirmou ela. “Nós temos tido reuniões dentro do Tribunal de Justiça, mas assim, não avançam, a gente leva as denúncias e só temos aquele momento de fala, porém não se resolve nada. E esses direitos feridos fundamentais, tanto dos internos em questão de saúde, de torturas, já levamos 20 nomes de internos do sistema fechado e que foi arquivado, não fizeram nada. Foi feito perícia, tudo, exame de corpo de delito”, prosseguiu ela.
“E o Ministério Público simplesmente arquivou, não deu procedimento. E aqui eu também peço que sejam vistas as situações das visitas. Nós familiares, quando vamos visitar, temos um problema muito grande com a revista vexatória. Mesmo com o body scan, aparece a tal da mancha, como a colega lá de Minas comentou, e 20, 30, 40 pessoas retornam e não conseguem ver seu familiar. Pessoas que vão do interior do estado, muitas vezes de barco, agora com a seca e mais dificultoso ainda, não consegue ver seu familiar, volta por conta da mancha porque o agente não está qualificado pra manusear o aparelho e a pessoa paga por isso, volta, não vê seu familiar, e o familiar fica lá atormentado”, relatou ainda.
Veja o vídeo abaixo:
Dino rebate Estadão
O ministro da Justiça Flávio Dino rebateu em publicação nas redes sociais nesta segunda-feira (13) uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo sobre a visita de Luciane Barbosa Farias à pasta. Segundo o Estadão, Luciane é integrante do Comando Vermelho e conhecida como "dama do tráfico amazonense".
"Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho. De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que NÃO SE REALIZOU em meu gabinete. Sobre a audiência, em outro local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no Twitter do Elias Vaz. Lendo lá, verificarão que não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem", escreveu Dino na rede X, antigo Twitter.
Em sequência de publicações na mesma rede, o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, afirmou que Luciane Farias esteve em seu escritório acompanhando a ex-deputada estadual no Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ, Janira Rocha (PSOL-RJ).
"Na reunião, realizada no dia 16 de março, a Sra. Janira Rocha veio acompanhada das senhoras Ana Lúcia, mãe do jovem Lucas Vinícius, morto em 2022. E também de Luana Lima, mãe de Lara Maria Nascimento, morta em 2022; e de Luciane Farias, do estado do Amazonas. Durante a audiência, das mães Ana Lúcia e Luana Lima, escutei reinvindicações pedindo celeridade nas investigações sobre a morte dos filhos", afirmou Vaz.
Segundo ele, Luciane "estava como acompanhante da advogada Janira Rocha, e se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário".
"Por esta razão, foi sugerido à advogada Janira Rocha que elas procurassem a Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN)", disse Vaz, que ressaltou ainda que "repudio qualquer envolvimento abjeto e politiqueiro do meu nome com atividades criminosas".
Elias Vaz ainda divulgou a carta entregue pelas mães e a agenda onde constra o nome de Luciane Barbosa Farias como "presidente da Associação Liberdade do Amazonas". Segundo o Estadão, as reuniões teriam sido feitas fora da agenda, o que o secretário mostra que não é verdade.
Jornalista desmente apelido
Um dos autores do factóide criado pelo Estadão para atacar o ministro da Justiça, Flávio Dino, o jornalista André Shalders admitiu nas redes sociais que a alcunha de "dama do tráfico" para definir Luciane Barbosa Farias, presidenta da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, foi inventada por ele a partir da declaração de uma fonte.
"Estou respondendo a todo mundo porque tenho como provar tudo o que escrevei. Quanto ao 'dama do tráfico', foi uma expressão usada por uma fonte. Achei peculiar e coloquei no texto", comentou Shalders em resposta a Cynara Menezes, da Fórum, na rede X, antigo Twitter.
O jornalista, no entanto, apagou a publicação em seguida.
Cynara já havia adiantado que não há quaisquer registro na imprensa amazonense ou nos órgãos de investigação dando o rótulo à Luciane Barbosa Farias, que é esposa de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que seria ligado Comando Vermelho.
No entanto, Luciane já afirmou que não faz parte da facção criminosa. Ela foi escolhida pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas (CPTEC-AM) para participar de encontro do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília.
Luciane também esteve na Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça acompanhando a ex-deputada Janira Rocha, vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ, no dia 19 de março. E no dia 2 de maio, e encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
À época, ela não tinha condenações na Justiça e chegou a ser absolvida por "ausência/fragilidade de provas" em processo sobre tráfico de drogas.
"Fui absolvida na primeira instancia, isso os jornais não estão mostrando", escreveu no Instagram. Condenada em segunda instância somente no mês passado, ela recorre em liberdade.