AMEAÇA À DEMOCRACIA

Caso Abin faz parte da trama golpista, afirmam investigadores da PF

Servidores da Agência utilizaram software para monitorar opositores políticos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro

Caso Abin faz parte da trama golpista, afirmam investigadores da PF.Créditos: Reprodução
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Investigadores da Polícia Federal acreditam que o caso de espionagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) faz parte da trama golpista. As informações foram fornecidas pela jornalista Andréia Sadi.

De acordo com a apuração da jornalista, investigadores da PF entendem que a "atuação de Bolsonaro e aliados ultrapassou a mera cogitação e atos preparatórios e efetivamente tentou dar um golpe".

Os eventos citados pelos investigadores da PF incluem os bloqueios de rodovias, acampamentos nos quartéis, financiamento das manifestações anti-democráticas, a bomba no aeroporto na véspera do Natal, a tentativa de invasão da sede da PF no dia 12 de dezembro e o monitoramento de autoridades pela Abin, conforme revelado nesta sexta-feira (20).

Além disso, investigadores apontam que a espionagem de figuras públicas por agentes da Abin rastreou "centenas de celulares" de quem frequentava o Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo informações do G1, além dos servidores do tribunal, foram monitorados advogados, policiais, jornalistas e os ministros da Corte. A investigação levantou 33 mil acessos de localização telefônica dos mais variados alvos.

Por meio de uma nota, a Abin revelou que instaurou um procedimento para investigar a questão, que todas as solicitações da PF e do STF foram atendidas integralmente e que colaborou com as investigações desde o início.

Servidores da Abin queriam saída de secretário afastado

Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desejavam a saída do Secretário de Planejamento e Gestão, Paulo Maurício Fortunado, afastado nesta sexta-feira (20) por suspeita de espionagem ilegal.

Fortunato, que era o número 3 do órgão, era apontado por servidores como suspeito de participação no sistema de espionagem FirstSmile.

No dia da sabatina do atual diretor da Abin, Luís Fernando Corrêa, os senadores questionaram o novo comandante da Agência pelo fato de ele manter Fortunado no cargo, visto que ele era apontado como suspeito de ter conhecimento do uso do FirstSmile para espionar inimigos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A operação realizada pela PF nesta sexta-feira mira o uso, por agentes da Abin, do software que é capaz de monitorar a localização das pessoas por meio de seus celulares. Tal ferramenta foi usada para vigiar jornalistas e políticos opositores ao governo do ex-presidente.

De acordo com informações do jornalista Valdo Cruz, Paulo Maurício Fortunato já havia sido afastado da Abin em 2008, durante o governo Lula, justamente por suspeita de atividades políticas na época.

Operação "Última Milha"

Alvos da operação Última Milha, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (20), os agentes da Agência Brasileira de Informação (Abin), que atuaram sob o comando do atual deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), utilizaram de forma ilegal o sistema FirstMile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyt, para espionar jornalistas, advogados, políticos e adversários de Jair Bolsonaro (PL) durante o governo do ex-presidente.

A operação, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, tem como objetivo a prisão de dois e o afastamento de outros cinco agentes da Abin, além do cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

Alvos de prisão, os agentes Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky teriam coagido colegas que tinham conhecimento do suposto esquema de arapongagem para evitar uma possível demissão.

Segundo informações divulgadas pela TV Globo, Moraes também determinou o afastamento dos diretores da Abin que foram mantidos nos cargos após Lula assumir a Presidência.

Com um deles, Paulo Maurício, a PF teria apreendido uma grande quantidade de dólares. 

Dólares encontrados na casa de Paulo Maurício, da Abin (Divulgação/PF)

Outro alvo da operação seria Caio Cesar dos Santos Cruz, filho do general da reserva e ex-ministro de Bolsonaro Carlos Alberto Santos Cruz, que deixou o governo após atrito com Carlos Bolsonaro.

Caio Santos Cruz seria representante da empresa israelense Cognyte, que vendeu o sistema FirsMile ao governo federal durante a gestão Michel Temer (MDB) para ser usado pelo general Walter Braga Netto na intervenção na segurança do Rio de Janeiro.

O sistema, no entanto, teria sido usado por Ramagem para criar uma espécie de Abin paralela, em um sistema de arapongagem para rastrear e monitorar aqueles que Bolsonaro considerava inimigos.

Cerca de 20 pessoas foram intimadas a prestar esclarecimentos. Os depoimentos simultâneos serão tomados ainda na manhã desta sexta, na sede da PF.

Arapongagem

Em março deste ano, a Abin admitiu, após reportagem do jornal carioca O Globo, que utilizou de fato o software, que é capaz de monitorar a localização de uma pessoa usando apenas um número de celular, espionando, portanto, cidadãos brasileiros sem qualquer amparo judicial.

O uso da sofisticada ferramenta, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, é considerado ilegal no Brasil, já que não há regulamentação no país para se monitorar alguém de maneira anônima e sem autorização da Justiça.

O aplicativo, chamado de FirstMile, foi comprado sem qualquer tipo de protocolo pelo governo federal em 2018, pelo valor de R$ 5,7 milhões.

O mecanismo é capaz de rastrear com precisão absoluta qualquer aparelho das redes 2G, 3G e 4G, foi usado para seguir os passos presumivelmente de “desafetos” e “inimigos” do ex-mandatário radical de extrema direita.