O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e que está preso, vem fornecendo, a cada novo depoimento à Polícia Federal (PF), mais informações sobre o escândalo das joias e artigos de luxo recebidos em viagens oficiais ao exterior que o ex-presidente se apropriou ilegalmente e vendeu nos Estados Unidos.
Nesta quinta-feira (31), Cid prestou depoimento por mais de 9 horas aos investigadores. Seu pai, o general Mauro Lourena Cid, também falou à PF, assim como o ex-assessor da presidência Osmar Crivelatti. Os depoimentos foram simultâneos aos de Jair e Michelle Bolsonaro, que usaram uma manobra jurídica ficar em silêncio.
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A estratégia da PF, ao realizar os depoimentos de forma simultânea, foi justamente evitar que os investigados envolvidos no escândalo combinassem versões. O silêncio de Jair Bolsonaro, inclusive, confirma as informações de que Mauro Cid está colaborando com os investigadores e explicando o funcionamento do esquema. Como o ex-presidente não o que Cid falou aos investigadores, qualquer informação que desse poderia o colocar em contradição e complicá-lo ainda mais.
Para além do caso das joias, Cid estaria fornecendo à PF detalhes de outros esquemas criminosos que se interligam nas investigações. Entre essas novas informações, segundo apuração dos jornalistas Valdo Cruz e Andréia Sadi, do portal G1, estão sobre o funcionamento do chamado "gabinete do ódio", grupo articulado no antigo governo que tinha por objetivo disseminar informações falsas para atacar adversários e colocar em xeque a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro - narrativa que serviria de base para a tentativa de um golpe de Estado que mantivesse Jair Bolsonaro na presidência.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, é apontado como o principal articulador do "gabinete do ódio". O funcionamento do grupo, inclusive, é investigado no inquérito das milícias digitais do Supremo Tribunal Federal (STF), que se desdobra em outras investigações até chegar no caso das joias.
Das milícias digitais às joias: está tudo interligado
No início de agosto, a Polícia Federal deflagrou a operação "Lucas 12:2", de busca e apreensão, contra investigados no caso do escândalo das joias.
Ao autorizar a operação, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, apontou em despacho que os investigados, incluindo Jair Bolsonaro, integrariam uma "organização criminosa" que se apropriou ilegalmente de bens dados como presente ao Estado brasileiro para vender nos Estados Unidos.
O esquema da organização criminosa, no entanto, vai para além da subtração e venda de joias. Segundo a PF e o STF, são 5 eixos de atuação do grupo, que inclui até mesmo a de golpe de Estado
Moraes afirma no documento que a investigação sobre as joias é um desdobramento do Inquérito 4.874/DF, mais conhecido como inquérito das milícias digitais, pelo qual Bolsonaro também é investigado.
Segundo o magistrado, a partir do avanço das investigações, a PF identificou "cinco eixos principais de atuação da referida organização criminosa", que são:
1 - Ataques virtuais a opositores;
2 - Ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral
3 - Tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
4 - Ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia
5 - Uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens
Os mesmos personagens, incluindo Jair Bolsonaro, aparecem nas apurações dos 5 eixos investigados. É na apuração sobre uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens que consta o esquema da venda das joias e artigos de luxo.
Confira o organograma da PF sobre as investigações: