Entre esta terça (3) e quarta-feira (4), a frase "Heleno na cadeia" constou entre os "assuntos do momento" no Twitter. Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante os 4 anos de governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno está no centro das discussões entre bolsonaristas desde que Jair Bolsonaro fugiu do país e de que o presidente Lula (PT) tomou posse.
Isso porque os apoiadores de Bolsonaro mais fanáticos têm se agarrado à tese absurda de que o militar, diante da ausência do ex-presidente, estaria comandando o país, e que a posse de Lula teria sido uma farsa. A fake news chega a dar conta, inclusive, que Heleno estaria "despachando" diretamente do Palácio da Alvorada - residência oficial da presidência que vem passando por varredura da Polícia Federal e para onde o novo presidente deve se mudar nos próximos dias.
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Em meio às fake news sobre o general, outros usuários das redes sociais passaram a defender sua prisão com base, principalmente, em três fatos.
Atos terroristas
Um deles é a denúncia que consta em uma reportagem exclusiva da Fórum feita por um servidor da Polícia Federal lotado no gabinete da presidência. Em 13 de dezembro de 2022, este servidor afirmou que o GSI, comandando à época por Heleno, estaria por trás dos atos terroristas promovidos em Brasília na noite anterior, quando inúmeros bolsonaristas espalharam violência, chamas e pânico por meio de uma ação coordenada que envolveu uma tentativa de invasão da sede da PF, bloqueio de vias expressas, queima de carros e ônibus e intimidações a cidadãos que estavam em locais públicos.
“O que está acontecendo e, principalmente o que ocorreu ontem em Brasília, é terrorismo de Estado. O GSI está na cabeça disso, e o uso da área do QG, que é militar, é do Exército, não é à toa (...) O GSI tem hoje poder para controlar mais de mil militares diretamente lá dentro (do QG do Exército e nos acampamentos) e eles estão literalmente bancando, mantendo e abrigando essa gente lá dentro (da área do QG) e logicamente ninguém fardado está aparecendo, porque essa é a forma de operar deles, uma guerra híbrida que alimenta e fomenta tudo que está ocorrendo ali. É explícito para quem está perto que o GSI está incitando isso com esses civis, todo mundo está por ali (Gabinete da Presidência) sabe disso”, disse o servidor à Fórum em um trecho de seu detalhado relato.
Confira a íntegra da reportagem aqui.
Comando da missão brasileira no Haiti
Fórum mostrou, esta semana, que a exoneração de Heleno do GSI, publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 31 de dezembro, representa uma espécie de segunda "demissão" do general imposta por Lula.
Isso porque em 2005 o petista, no segundo ano de seu primeiro mandato como presidente, afastou o general do comando da missão brasileira no Haiti. À época, o Exército brasileiro chefiava uma operação de "paz" da Organização das Nações Unidas (ONU) que tinha o objetivo de garantir a estabilidade no país caribenho em meio turbulências políticas e sociais.
Em julho daquele ano, as tropas do Exército brasileiro fizeram uma operação de "pacificação" na maior favela da capital haitiana, Porto Príncipe, e ao menos 63 pessoas foram assassinadas por uma tropa com mais de 300 homens - outras 30 ficaram feridas. O caso foi classificado como um verdadeiro massacre e geraram inúmeras críticas de organizações dos direitos humanos.
Diante de uma denúncia protocolada na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) com base em depoimentos de haitianos e de um relatório do Centro de Justiça Global e da Universidade Harvard (EUA), apontando abuso dos militares brasileiros, a ONU solicitou ao governo brasileiro o afastamento de Augusto Heleno, que comandou as tropas, de seu posto. Lula prontamente atendeu à solicitação e substituiu Heleno no comando da missão pelo general Urano Bacellar.
Para pessoas próximas ao alto comando militar brasileiro, foi neste momento que Heleno passou a nutrir o fervoroso ódio antipetista que carrega ainda hoje. Não à toa, como ministro do GSI de Jair Bolsonaro, foi um dos membros do governo que mais expressou ódio ao Lula e chegou, até mesmo, a desejar a morte do novo presidente.
O fato de Heleno ter comandado a questionável missão no Haiti há quase 20 anos também vem sendo usada por usuários das redes sociais na campanha "Heleno na cadeia".
Palácio do Planalto trancado
Outra notícia que vem motivando a onda "anti-Heleno" nas redes sociais é a que informa sobre a "surpresa" deixada por Bolsonaro a Lula no Palácio do Planalto antes do ex-presidente fugir para os Estados Unidos.
Segundo a jornalista Natuza Nery, da GloboNews, no último sábado (31), um dia antes da cerimônia de posse de Lula, a equipe do novo presidente esteve no Palácio do Planalto para uma primeira inspeção. Ao chegarem no terceiro andar, onde fica o gabinete do presidente, no entanto, os assessores do petista constataram que todas as portas tinham sido trancadas e as chaves sumido, forçando a equipe do novo mandatário a recorrer a um chaveiro para acessar o local.
Como o GSI é o único órgão do governo em que a transição não foi totalmente concluída, especula-se que tenha partido de Heleno a ordem para não disponibilizar as chaves do gabinete da presidência a Lula.
Confira a repercussão