CLÃ PRESIDENCIAL

Flávio Bolsonaro é testemunha em ação de amigo para tomar mansão de Richarlison em Angra

Mansão que pertenceu a Clara Nunes em Ilha Comprida tem 11 suítes, praia e cachoeira privadas e teria encantado filho de Jair Bolsonaro. Disputa judicial envolveu violenta ação de reintegração de posse. Veja vídeo.

Mansão em Ilha Comprida que tem Flávio Bolsonaro como testemunha em disputa judicial.Créditos: Instagram
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*Matéria atualizada em 28/09/2022, às 20h52, para a inclusão da nota de Willer Tomaz sobre o caso

Reportagem de Guilherme Amado, Bruna Lima, Edoardo Ghirotto, Eduardo Barretto e Paulo Cappelli, no site Metrópoles nesta quarta-feira (28), revela que Flávio Bolsonaro (PL) está envolto em mais uma ação judicial, dessa vez como testemunha de um amigo, o advogado Willer Tomaz, que tenta tomar a todo custo uma mansão de R$ 10 milhões em Ilha Comprida, no município de Angra dos Reis (RJ), que foi comprada em 2020 pela Sport 70, empresa do jogador da Seleção Brasileira Richarlison e de seu empresário, Renato Velasco. [Confira a nota de Willer Tomaz sobre o caso ao final desta matéria]

A mansão tem 11 suítes, praia privativa, uma cachoeira, piscina, quadra de tênis, heliponto e teria "encantado" o filho de Jair Bolsonaro - que adquiriu recentemente uma mansão avaliada em R$ 6 milhões em Brasília -, que foi arrolado como testemunha na disputa judicial.

Flávio chegou a publicar vídeo do local em 1º janeiro de 2021 em seu perfil no Instagram. "Quantos lugares voce^ conhece em que a cachoeira desa´gua no mar? Em Angra dos Reis tem! Tomada da Ilha Comprida, localizada ha´ poucos minutos do aeroporto de Angra", escreveu junto com imagens aéreas da mansão, filmadas por um drone sem autorização dos proprietários.

Seis meses antes, Flávio, a esposa - a dentista Fernanda Bolsonaro - e o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas, atual candidato ao governo de SP, estiveram em Angra. O casal passou o fim de semana na região e foi levado para conhecer a mansão pelo ex-senador  Wilder Morais (PL-GO).

À época, o dono, Antônio Marcos, recebeu o filho de Bolsonaro, mas afirmou que já negociava a venda com a empresa de Richarlison. Em janeiro, já na companhia de Tomaz, Flávio voltou ao local e cortejou o dono, que explicou que já havia vendido a mansão.

“Contei a Willer Tomaz e ao Flávio que já tinha negociado (a casa). Willer dizia: ‘Ah, será que ele (o novo dono) não vende? Você não consegue cancelar a venda? Como está o contrato? Ele ainda está te pagando ou pagou tudo?’, e eu dizia que não tinha como, porque o negócio já tinha sido feito”, disse Antônio Marcos ao Metrópoles.

Reintegração de posse

Após a compra, Richarlison e Velasco fizeram reformas na mansão, para onde se mudou a esposa do empresário. No entanto, no dia 13 de maio de 2022, a mulher, que estava grávida, ligou para o marido relatando que um oficial de Justiça e policiais estavam na mansão para retirá-la da propriedade e cumprir uma decisão de reintegração de posse - veja no vídeo abaixo.

A ação foi movida pelo escritório M Locadora, de um sócio de Tomaz, que alegava que havia havia comprado a posse do imóvel do marido da cantora Clara Nunes - uma das primeiras donas do local, que foi casada com o compositor Paulo César Pin - em 1986 e revendido em 2002. Segundo o escritório, 20 anos depois, representantes dos espólios dos antigos donos da empresa, já mortos, reivindicavam a posse.

Dois dias depois, os advogados da empresa de Richarlison conseguiram provar a compra do imóvel e reverter a decisão. proferida pelo juiz Ivan Pereira, da Segunda Vara Cível da Comarca de Angra.

O amigo de Flávio, Willer Tomaz, recorreu à segunda instância da Justiça no Rio alegando que que sua empresa, a WT Administração, havia pagado R$ 2 milhões de pendências fiscais e administrativas da M Locadora, em troca da transferência do bem.

Para provar a transferência, Tomaz obteve em 11 de julho a regularização do cadastro do imóvel na Secretaria do Patrimônio da União, já que o governo federal concede apenas a posse da terra, que pertence ao Estado.

A última decisão no processo foi de 5 de agosto, quando o desembargador Adriano Guimarães concedeu uma nova decisão liminar, a favor de Tomaz, passando novamente o imóvel para as mãos do advogado. A ação tem como testemunha, Flávio Bolsonaro, que deve ser ouvido a pedido dos advogados de Richarlison.

Procurado pelo Metrópoles, o filho de Bolsonaro disse que "estão usando a imprensa porque é véspera de eleição, e a discussão do imóvel está na Justiça".

Acesse a reportagem na íntegra no site Metrópoles

Outro lado

Em nota enviada à Fórum, Willer Tomaz afirma que "a WT Administração é hoje a única e legítima titular de direitos detentor do direito de uso" da casa em Ilha Comprida. 

Confira a íntegra da nota. 

Willer Tomaz e WT Administração servem-se desta nota para esclarecer que:

1.        A matéria contém narrativas fáticas inverídicas e informações documentais e processuais incorretas ou distorcidas, incompatíveis com postura jornalística séria e comprometida com apuração de fatos.

2.        Em terreno de marinha da União, não há “propriedade” de particulares. O que pode existir é a outorga de direitos de foro, ocupação ou uso.

3.        Sem uma autorização pública federal não existe “posse” ou “propriedade” desse tipo de imóvel. É incorreta a referência a “donos”. A dona é a União.

4.        No caso do imóvel da Ilha Comprida (que não tem 11 suítes, piscina ou quadra, ao contrário do afirmado), M Locadora sempre foi a titular registrada dos direitos de ocupação desde 1986, conforme documentos públicos do Cartório de Angra dos Reis (escritura de matrícula nº 319) e registro junto à Secretaria de Patrimônio da União (RIP 5801.0000575-64).

5.        “Contratos particulares” após 1986 assinados por pessoas diversas de M Locadora não têm nenhum valor jurídico, sendo que vender coisa alheia e pública pode configurar estelionato e ilícito administrativo.

6.        Em relação ao Processo nº 0801269-61.2022.8.19.0003, em curso na 2ª Vara Cível de Angra dos Reis (RJ) desde 06.05.2022, cabe esclarecer que as partes envolvidas são: (autora) M Locadora Ltda. (então titular do direito de ocupação) e (réus) Yta Consultoria Ltda. (empresa do Deputado Estadual MG Alencar da Silveira Jr.) e Sport70 Ltda. (empresa do jogador Richarlison de Andrade e do seu empresário Renato Rocha Velasco).

7.        Ao contrário do que a narrativa especulativa tenta fazer crer, a única figura pública diretamente envolvida com a ação sobre o imóvel é o Deputado Estadual de MG Alencar da Silveira Jr. (sócio proprietário de uma das empresas rés, Yta Consultoria Ltda.), candidato à reeleição.

8.        Na ação em Angra dos Reis, a empresa M Locadora, única titular de direitos sobre o bem, que é propriedade da União, buscou recuperar e manter a posse legítima que detinha, tendo obtido êxito em reiteradas liminares.

9.        Sport70 Ltda., empresa do jogador Richarlison de Andrade e do empresário Renato Velasco, arrolou testemunhas (inclusive figuras públicas completamente alheias aos fatos) e apresentou documentos particulares, mas nunca argumentou ou provou que (i) comprou direitos de M Locadora, (ii) obtive autorização da União, (iii) registrou tais negócios.

10.     Na reintegração liminar cumprida por Oficial de Justiça após expedição de ordem do Juiz, nenhuma grávida foi removida à força.

11.     A senhora que aparece no vídeo vinculado à reportagem compareceu ao local mais de duas horas depois da chegada das autoridades judiciais e policiais (19h40) e tentou impedir e tumultuar o cumprimento, no que foi frustrada – fatos certificados no processo (certidão id. 18740126, fl. 130).

12.      A empresa WT Administração, da qual é sócio o Advogado Willer Tomaz, adquiriu regularmente os direitos de ocupação sobre o imóvel situado na Ilha Comprida, em Angra dos Reis (RJ), diretamente da anterior titular, M. Locadora Ltda., que, desde 1986, detinha a outorga da União.

13.     A aquisição, iniciada por contrato particular e procuração assinados e não questionados por ambos os herdeiros da empresa (Sr. Donato Galvez e Sra. Maria Alice Menna), foi confirmada por escritura pública e autorização da União, com atualização do registro RIP 5801.0000575-64.

14.     O processo de regularização junto à SPU demorou mais de dois meses.

15.     Sobre as alegações feitas pelos novos advogados da Sra. Maria Alice Menna, não há registro ou notícia de qualquer impugnação à validade da assinatura da mesma nos contratos de compra-e-venda com WT Administração.

16.     Ao contrário, a Sra. Maria Alice Menna reconheceu em Juízo a assinatura do contrato, que tem firma reconhecida (proc.1018061-83.2022.8.26.0562, fl. 139).

17.     O Inquérito Policial nº 2231074-10.2022.040232 (CI8666/2022), em curso pelo 7º D.P. Santos (SP), apura possível visita do Deputado Estadual de MG Alencar da Silveira Jr. à casa da Sra. Maria Alice Menna, após o que ela teria ficado desaparecida e teriam começado a surgir questionamentos sobre o negócio por parte de novo advogado. Questões essas sob investigação.

18.     Após a notícia de desaparecimento à autoridade policial e por ordem do Juízo da 2ª Vara Cível de Santos (SP), autos de nº 1018061-83.2022.8.26.0562, foi constatado por Oficial de Justiça que a Sra. Maria Alice Menna não era mais vista em sua residência pelos funcionários do condomínio (fl. 92)

19.     WT Administração é hoje a única e legítima titular de direitos sobre o bem, regularmente registrados e adquiridos da antiga titular, M Locadora, tendo igualmente obtido decisão judicial para entrar e ficar na posse do bem.

Sendo o que tinha a esclarecer, o Advogado e a Empresa reafirmam o total compromisso com a verdade e a justiça, refutando toda e qualquer tentativa espúria e sensacionalista de desinformação, com narrativas inconsistentes e acusações levianas, inverídicas, falaciosas e incorretas, com cunho difamatório.

Brasília-DF, 28 de setembro de 2022.

 

WILLER TOMAZ

OAB/DF 32.023