ELEIÇÕES 2022

Jean Wyllys: cusparada na cara de Bolsonaro foi ápice após oito anos de assédio no Congresso

Ex-deputado, Wyllys disse que Carlos Bolsonaro tenta equiparar assassinato de Marcelo Arruda com o ocorrido no golpe de Dilma. Para ele, Bolsonaro tenta "disseminar o medo", como fez em 2018 com homicídio de Marielle.

Jean Wyllys cospe na cara de Bolsonaro em 2016.Créditos: Arquivo
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Em entrevista ao Fórum Café na manhã desta quarta-feira (13), o ex-deputado Jean Wyllys, que estuda as táticas da extrema-direita e do bolsonarismo, afirma que Jair Bolsonaro (PL) reedita com o assassinato de Marcelo Arruda a estratégia de "disseminar o medo" propagada em 2018 após o homicídio da vereadora Marielle Franco, morta meses antes da eleição presidencial que o levou ao Planalto.

Segundo ele, usando o "jornalismo declaratório", Bolsonaro busca criar uma narrativa para "apagar a dimensão política" da morte de Arruda, que foi assassinado a tiros pelo policial bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho.

"Todas as notícias, no jornalismo declaratório, buscavam apagar essa dimensão política, a motivação de ódio desse crime. E a relação desse crime com o bolsonarismo, o discurso de ódio e a extrema-direita. E como estratégia da extrema-direita de repetir agora, em 2022, algo que foi feito em 2018, que é disseminar o terror no corpo social. Em 2018 foi feito com o assassinato de Marielle Franco e agora aconteceu esse assassinato e o presidente da República praticamente endossou esse assassinato", diz.

Segundo ele, o objetivo é fazer com que as pessoas sintam medo de declarar voto em Lula (PT), inibindo o clima de esperança que vive o Brasil com as pesquisas eleitorais, que mostram chance de vitória do petista no primeiro turno.

"É a mesma estratégia de 2018: disseminar o medo, uma vez que as pesquisas apontam que ele vai perder as eleições, então eles vão usar o que eles podem. Um desses artifícios, além das fake news e da desinformação, é disseminar o medo, desestimular as pessoas a usarem a camisa de Lula, fazer o L, usar vermelho. Desestimular esse clima que está no Brasil", afirmou.

Wyllys afirma que para colocar a estratégia em prática, Bolsonaro conta com "figuras limítrofes", que estariam dispostas a morrer e matar pelo presidente, que incita apoiadores com jargões como "maior do que a vida é a liberdade".

"Eles contam com essas figuras borderlines, limítrofes, que estão dispostas a dar a vida em nome do líder, uma visão fascista. O homem grita o nome de Bolsonaro e está disposto a morrer pelo Bolsonaro. O bolsonarismo conta com essas figuras limítrofes e quando elas perpetram os extremos - com atentados, massacres -, ele entra dizendo que é uma metáfora: 'vamos fuzilar a petralhada'", explica.

Em seguida, o bolsonarismo busca a equiparação com casos que colocam o atual presidente como vítima, como foi a cusparada disparada pelo ex-deputado na cara de Bolsonaro durante a votação do impeachment que resultou no golpe contra Dilma Rousseff.

Nesta terça-feira (12), Carlos Bolsonaro compartilhou um tuite que diz que Wyllys cuspiria novamente na cara do mandatário.

"Quando a desgraça se consuma, ele vem e diz que é uma metáfora e começa a se propagar a falsa simetria, que é o que o filho dele fez, o Carlos Bolsonaro, que foi evocar o episódio de 2016 em que eu cuspi na cara dele. E eu cuspi porque o Bolsonaro naquela noite, além de ter elogiado um torturador, dedicar o voto dele a um torturador - o torturador da Dilma que estava sendo derrubada naquele dia por um golpe -, além disso ele me insultou, um insulto homofóbico", conta.

Wyllys afirma que o momento foi o "ápice" do assédio perpetrado por Bolsonaro, que o acompanhava em comissões para insultá-lo fora do microfone. 

"Naquele momento foi o ápice de oito anos de assédio que eu vivi na Câmara com esse sujeito. Ele entrava nas comissões onde eu estava, sentava atrás de mim e passa a sessão me insultando fora do microfone. O que ele está fazendo agora com o Brasil, ele fez numa escalada muito menor comigo dentro da Câmara. Evocar esse episódio para equiparar o assassinato de Marcelo Arruda é típico da extrema-direita, do modelo de comunicação que Bolsonaro vai usar até outubro", diz.

Assista à entrevista na íntegra