Para quem acha que já viu de tudo, a expansão e o enraizamento do bolsonarismo na sociedade brasileira nos últimos anos produzem situações absurdas e até mesmo sem explicação. Dois irmãos do guarda civil Marcelo Arruda, assassinado por um policial penal bolsonarista na noite de sábado (9), só porque seu aniversário tinha como tema o PT e o ex-presidente Lula, atacaram a esquerda e o Partido dos Trabalhadores numa chamada de vídeo com o presidente Jair Bolsonaro nessa terça-feira (12).
Eles perderam um irmão pelas mãos de um extremista que seguiu cegamente os discursos violentos e de ódio do ocupante do Palácio do Planalto, mas resolveram falar com líder radical que fomenta a violência, reforçando a versão cínica dele sobre uma delirante responsabilidade dos opositores políticos no episódio. O motivo? José de Arruda e Luiz de Arruda também são bolsonaristas.
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"A gente sabe que o ambiente era todo esquerdista. Apareceu lá a Gleisi Hoffmann, que eu tenho pavor, mas como meu irmão é petista eu não vou falar nada. Está lá… Ele era de esquerda e estão usando (o caso para fazer política)”, falou Luiz na videochamada.
Luiz ainda disse que não gostou de sair ao lado de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, numa foto do portal UOL, quando ela estava olhando para o caixão e com a mão sobre o corpo de Marcelo, seu irmão.
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Para tornar a situação inacreditável ainda pior, José, o outro irmão, sobe o tom e fala com o homem que alimentou o ódio que levou à execução de Marcelo Arruda como se ele fosse um inocente, atacando o campo ideológico da vítima.
“O que nós não estamos admitindo, presidente, nessa parte, é a esquerda ficar utilizando o meu irmão como palco de politicagem. Isso nós não aceitamos de forma alguma”, disparou.
No diálogo, Luiz ainda se queixa de não ter recebido no velório do irmão sequer uma coroa de flores da estatal Itaipu Binacional, onde trabalhou por 35 anos. Ele confessa, num trecho constrangedor e revoltante, ser ainda “favorável à causa de Bolsonaro”, mesmo tendo seu irmão sido assassinado por um seguidor ferrenho da ideologia bolsonarista. Todos os partidos de esquerda enviaram representantes e arranjos florais para o funeral e Luiz ainda diz que “o calor humano da esquerda” é diferente.
“Eu fui funcionário 35 anos da Itaipu Nacional. Todos sabem que sou favorável à sua causa. No velório do meu irmão tinham 35 coroas de flores, e a minha empresa, em que eu me doei, não deu uma coroa de flores”.
O vídeo na íntegra com a videochamada por ser visto neste link do jornal Folha de S.Paulo.