ELEIÇÕES 2022

“Volta, Zezé Di Camargo e Luciano”, diz coordenador de mobilização popular de Lula

Para João Paulo Rodrigues, do MST, o ex-presidente tem que se reaproximar dos sertanejos: “Bolsonaro se apossou dessa política de maneira oportunista”

Dona Marisa, Zezé Di Camargo e Lula.Créditos: Ricardo Stuckert
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O Coordenador Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, afirmou em entrevista à Folha publicada na noite deste domingo (12), que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem que se reaproximar dos cantores sertanejos. Ele chega a pedir: “volta, Zezé Di Camargo e Luciano, a fazer campanha com a gente.”

Rodrigues é uma das novas lideranças da esquerda mais próximas de Lula. Esteve presente em dois momentos distintos da vida do ex-presidente. Foi visita-lo na prisão, em Curitiba e foi um dos poucos convidados para o seu casamento com a socióloga Rosângela da Silva, a Janja.

Para ele, “o sertanejo é uma produção cultural importante, é arte e tem muita gente séria. Nosso povo gosta, eu sou um amante dela. Hoje, você tem duas grandes expressões da cultura na contradição brasileira. Uma delas é o funk, que é a contradição produzida nas periferias brasileiras”.

Hegemonia cultural

“O sertanejo está muito atrelado a uma política de hegemonia cultural. Eles têm os produtos, o agro, a música, os deputados e todo um jeito de lidar com a população. Foi um projeto pensado. Você não pode falar mal do agro para uma empregada doméstica no interior do país. Ela diz que é agro, porque come do agro, que os amigos trabalham no agro de peão, que ouve as músicas do agro nas grandes feiras agropecuárias. Tudo isso que deu na estética do agro”, afirma.

Rodrigues diz ainda que “Bolsonaro se apossou dessa política de maneira oportunista. O Bolsonaro é um 'milico' do litoral, não tem nada a ver com terra. O Bolsonaro foi com o objetivo de ganhar dinheiro, e o agro, com o objetivo de ter arma e dinheiro. Dois grupos oportunistas que se juntaram”.

Trazer o sertanejo para a esquerda

Para ele, a campanha necessita, no próximo período, “trazer uma parte do sertanejo para a esquerda. Isso faz falta. O funk está muito mais progressista. Nas décadas de 1970 e 1980, foi o samba. Agepê, Martinho da Vila. A cultura de resistência da periferia hoje é o funk. Já foi o rap, na década de 1990. No interior, foi migrando da música caipira até chegar no que tem hoje, que é o que tem de mais conservador, uma nova geração que não quer saber de nada, só de ganhar dinheiro. E o Bolsonaro dando ideologia para eles, o que é grave. A esquerda precisa olhar para isso”.

“Volta, Zezé Di Camargo e Luciano, a fazer campanha com a gente”, evoca. “Precisamos ter figuras como essas. Precisamos identificar como lidar com isso. O que não podemos é jogar todos para o lado de lá. Aí é erro. Temos que dividi-los. Temos que ter o agro dos alimentos com a gente. Deixar com eles só os sertanejos dos improdutivos. Eles pegaram todo o sertanejo. Temos que trazer para cá. Então volta Zezé di Camargo e Luciano, como figura de linguagem”.

Artistas na campanha

Ao final, perguntado como será a articulação com artistas na campanha, Rodrigues afirma que “Será uma relação deles conosco, e não o contrário. Queremos os artistas na campanha, mas queremos que participem do debate, que falem, por exemplo, de alternativas à Lei Rouanet. Eles têm que falar sobre isso, não queremos que só emprestem a voz. Eles que vão definir a relação conosco, e nós vamos achar meios de inclui-los nas pautas”, encerra.

Com informações da Folha