Os aliados de Jair Bolsonaro (PL) não estão nada satisfeitos com a aproximação entre Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os dois tiveram algumas rodadas de reuniões até a aprovação da PEC da Transição na última terça (20), primeira vitória de Lula no Congresso, antes mesmo da posse. Lira saiu enfraquecido, sobretudo pelas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF), mas o PT segue apoiando sua reeleição na presidência da Câmara e deve jogar papel importante na disputa.
Na semana passada, duas decisões do Supremo reduziram o poder de Lira sobre pautas importantes na Câmara. No domingo (18), o ministro Gilmar Mendes decidiu que os recursos para a manutenção dos R$ 600 do Bolsa Família, a partir de janeiro de 2023, ficariam de fora do teto de gastos, o que reduziu o poder de negociação do presidente da Câmara sobre a pauta, que tramitava na Casa. Na segunda (19), a corte decidiu, por 6 votos a 5, que o Orçamento Secreto é inconstitucional. Com isso, Lira perdeu o seu principal poder de barganha para garantir a sua reeleição e ficou ainda mais dependente de articulações com diversos setores, em especial com o futuro governo.
Te podría interesar
Chateados
Dada a relação estabelecida entre o presidente da Câmara e o Presidente da República eleito, o PL tem se afastado de Lira e uma parcela da bancada do partido de Jair Bolsonaro pretende lançar uma candidatura à presidência da Casa para fazer frente ao mais novo desafeto, o atual ocupante do cargo, Arthur Lira (PP-AL), que articula sua própria reeleição.
Com uma bancada de 99 deputados federais eleitos, cerca de 35 parlamentares do partido dialogam com os demais integrantes da bancada e com titulares de outras legendas, como Novo, Podemos e União Brasil, na tentativa de ter ao menos 50 parlamentares fechados para lançar um nome. Entre os nomes que participam das conversas estão Gustavo Gayer (PL-GO), Mário Frias (PL-SP), Ricardo Salles (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Eduardo Pazzuello (PL-RJ). De acordo com o grupo, o apoio do PT e outros partidos da base do futuro governo a Lira "contamina" sua candidatura.
Te podría interesar
Senado
O movimento é parecido com o desenvolvido no Senado, onde o Partido Liberal lançou o ex-ministro do Desenvolvimento Regional no governo de Jair Bolsonaro (PL) e senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) à presidência da Casa contra a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que é apoiado pelos partidos que serão base do novo governo Lula e é favoritíssimo na disputa neste momento. A intenção é garantir a presidência do Senado para que seja dado seguimento a algum dos pedidos de impeachment apresentados pelo campo contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Nome escolhido
Na Câmara, o nome escolhido não poderia ser mais simbólico da agenda voltada para o passado que a legenda repleta de defensores da Ditadura Militar estabelece: o candidato é o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PL-SP), descendente dos imperadores do Brasil Pedro I e Pedro II, e, portanto, da família imperial brasileira. Apesar da animação dos articuladores da campanha do "príncipe herdeiro", a ala do presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, e do líder da bancada, Altineu Côrtes (RJ), tende a apoiar a recondução de Lira. Já nomes de expressão do bolsonarismo, como Bia Kicis (DF) e Eduardo Bolsonaro (PL) não se decidiram ainda, pois contrariar Lira pode significar perder espaço em cargos em comissões ou na Mesa Diretora.