O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados perderam totalmente o rumo com o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson, que resistiu à prisão e feriu policiais neste domingo (23).
De um lado, a ordem foi tentar desvincular Bolsonaro da imagem de Jefferson, missão impossível. Tanto Bolsonaro quanto o ministro das Comunicações, Fábio Faria, chegaram a dizer que não existia nenhuma foto do presidente com o ex-deputado.
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Foi a senha para que explodissem nas redes inúmeras imagens dos dois, entre afagos, apoios e visitas oficiais.
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Ainda nas redes e também nas ruas, o sinal trocado entre o núcleo duro do presidente e seus apoiadores se espalhou feito fogo no querosene. Ao mesmo tempo em que Bolsonaro anunciava distância de Jefferson, apoiadores que começavam a chegar na porta da casa para apoiar o ex-deputado hostilizavam a imprensa. Chegaram até mesmo a agredir um profissional de uma afiliada da Globo.
Outro sinal trocado de Bolsonaro foi a ordem não cumprida para que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse à casa de Jefferson para acompanhar o caso e depois visitasse os policiais feridos.
Ao contrário do que pareceu a todos, o ministro explicou que a intenção era prestar solidariedade aos agentes feridos e não uma deferência ao ex-deputado, que o presidente posteriormente chamou de “infrator”.
Enquanto Bolsonaro dizia que não tinha relação alguma com Jefferson e o chamava de “bandido”, aliados se revoltavam nas redes.
O deputado federal e pastor Otoni de Paula (PTB-RJ), por exemplo, gravou vídeo avisando que teria sido informado que Bolsonaro "tomou a decisão de proteger o nosso Roberto Jefferson".
"Eu consegui falar com a assessoria do nosso presidente [Bolsonaro]. De acordo com ele, "o presidente já tomou a decisão de mandar as Forças Armadas proteger o nosso Roberto Jefferson. Graças a Deus, vamos somente orar para que as Forças Armadas cheguem a tempo, para que as Forças Armadas consigam proteger esse patriota", diz o pastor.
Como se viu a seguir, Bolsonaro reafirmou a jornalistas ao chegar na TV Record para a sabatina que não havia ligação alguma entre ele e Jefferson.
"E depois quando chega ordem de prisão pra ele, não importa se é legal ou não, ele recebe policiais com tiro. Quem recebe policial com tiro é bandido", disse Bolsonaro, mais uma vez colocando em dúvida a ordem de revogação da prisão domiciliar assinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
No final das contas, se a trama toda envolvendo a prisão de Jefferson teve um roteiro ensaiado para tentar desestabilizar o processo eleitoral, uma espécie de Capitólio Tabajara pra melar o jogo, o histriônico ex-deputado esqueceu seu texto, feriu policiais federais e jogou uma bomba no colo de Bolsonaro.
A granada de Jefferson talvez tenha sido o último ato de uma ópera bufa marcada por violência e desrespeito às instituições. Uma crise irrecuperável na campanha de Bolsonaro a uma semana do segundo turno as eleições.