Espírito do tempo

Odete Roitman conquista nova geração em remake de "Vale Tudo"

A nova versão da vilã, vivida por Débora Bloch, caiu nas graças da audiência e movimenta as redes

Escrito em Opinião el
Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).
Odete Roitman conquista nova geração em remake de "Vale Tudo"
Odete Roitman conquista nova geração em remake de "Vale Tudo". Globo/ Rudy Huhold

Se na versão de 1988 de “Vale Tudo” a vilã Odete Roitman, à época interpretada por Beatriz Segall, causava calafrios na audiência, o mesmo não se pode dizer da nova versão feita por Débora Bloch, que simplesmente caiu nas graças do público e tem impulsionado a audiência do remake exibido pela Globo.

A repercussão é tão intensa que a direção da emissora já determinou novas edições de capítulos que ampliam a presença de Odete em cena. Dados internos indicam que, sempre que a personagem aparece, há crescimento na audiência e forte mobilização nas redes sociais.

O sucesso da nova Odete Roitman se sustenta em dois pilares principais: o texto certeiro de Manuela Dias e a atuação irrepreensível de Débora Bloch, que está entregando uma das performances mais emblemáticas de sua carreira.

Além disso, o público tem abraçado a personagem por suas falas incisivas e a forma como "enquadra" os filhos Heleninha (Paolla Oliveira) e Afonso (Humberto Carrão). Para quem acompanha a novela nas redes, Odete está longe de ser uma vilã nesse aspecto: muitos enxergam Heleninha e Afonso como ingratos e mimados.

Outro ponto que explica o fenômeno Odete é sua representação como uma mulher de 60 anos que construiu um império no setor da aviação e vive uma sexualidade ativa e livre. Um dos momentos mais comentados da novela foi quando Odete recebeu um nude durante uma reunião de negócios — a cena viralizou.

 

 

 

Vale destacar também que as duas versões de Odete refletem seus respectivos contextos históricos. Em 1988, o Brasil saía da ditadura e escrevia sua nova Constituição. Em 2025, a vilã encara um país polarizado, com parte da população contaminada por fake news e discursos de ódio.

Tudo indica que o sucesso de Débora Bloch como Odete Roitman não deve arrefecer — pelo contrário, deve se consolidar como um dos grandes momentos da teledramaturgia brasileira contemporânea. Mas fica a pergunta: com a escalada das vilanias, será que ela continuará sendo a queridinha do público até o fim de “Vale Tudo”?


 

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