CONFLITO

Irã tem armas nucleares? Entenda

Programa nuclear iraniano é uma obsessão na retórica política do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mas o que existe de fato no país persa?

Créditos: Joe Klamar / AFP
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Em sua primeira declaração pública após o ataque promovido contra o Irã na madrugada desta sexta-feira (13), o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu justificou a ofensiva, apontando que o objetivo era arruinar um suposto programa secreto iraniano de construção de armamentos nucleares.

“Por décadas, o Irã clamou pela destruição de Israel e, recentemente, produziu urânio suficiente para nove bombas nucleares e deu passos que nunca havia dado antes", disse. Mas o Irã realmente estaria tão próximo de fabricar o artefato, como alega o premiê israelense?

Conforme o governo dos Estados Unidos, a resposta é não. Em março, Tulsi Gabbard, escolhida pelo presidente Donald Trump como diretora da inteligência dos EUA, testemunhou que o Irã não havia ultrapassado o limite necessário para fabricar uma bomba, apesar de seus avanços no enriquecimento de urânio. “O estoque de urânio enriquecido do Irã está em seus níveis mais altos e não tem precedentes para um Estado sem armas nucleares”, afirmou na ocasião.

O órgão de vigilância nuclear da ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgou um relatório de 22 páginas apontando que não havia conseguido visualizar aspectos do programa nuclear civil iraniano e dizia que o governo iraniano havia repetidamente falhado em cooperar.

Embora tenha apontado que não era possível comprovar que o programa nuclear civil do Irã fosse exclusivamente civil, tampouco disse que o Irã estava prestes a desenvolver uma arma nuclear, como destaca o The Guardian.

Obsessão de Netanyahu

Na quinta-feira (12), poucas horas antes de ser iniciado o ataque israelense contra o Irã, Trump falou que estava próximo de concluir uma negociação sobre o programa nuclear iraniano. "Estamos bem perto de um acordo muito bom", disse ele. "Não quero que eles [Israel] entrem, porque acho que isso estragaria tudo", acrescentou o presidente estadunidense.

Netanyahu não se importou com o que disse o mandatário dos EUA, embora seja improvável que os Estados Unidos não tenham sido avisados e consultados sobre a ofensiva militar de Israel. Inclusive disse que o ataque estava programado para meses atrás.

“Era necessário agir, e estabeleci a data de implementação para o final de abril de 2025”, disse Netanyahu. “Por vários motivos, não deu certo.”

Para o primeiro-ministro de Israel, trata-se de uma obsessão antiga. Após seu retorno ao poder em 2009, ele rejeitou repetidamente as garantias de Teerã de que seu programa nuclear era destinado apenas a fins civis e defendeu, à época, uma "opção militar".

Como lembra o site The Defense, Netanyahu chamou a aprovação, em 2015, pelo Conselho de Segurança da ONU de um acordo com potências mundiais que suspendiam sanções em troca de restrições às atividades nucleares do país de um "erro histórico". Já em 2018, o premiê celebrou a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do acordo.

Por conta da postura estadunidense, o Irã abandonou gradualmente seus compromissos, enriquecendo urânio a níveis elevados e em grandes quantidades, o que deu base à argumentação de Netanyahu para a ofensiva.

Tiro no pé?

A atitude belicosa de Netanyahu pode, na verdade, ter um efeito inverso ao pretendido pelo primeiro-ministro de Israel. 

“Uma das preocupações em atacar as instalações nucleares é que os contratempos podem levar o Irã a reconstituir suas operações com um esforço mais determinado para obter um poder de dissuasão nuclear”, disse Ali Vaez, especialista em Irã do International Crisis Group (ICG), ao site Al Jazeera.

No meio político do Irã, existe um debate interno entre reformistas e linha dura sobre se deve ou não chegar a um acordo com os Estados Unidos sobre seu programa nuclear.

“[Os ataques] provavelmente confirmaram a posição dos linha-dura e ultra-linha-dura que disseram que o Irã estava perdendo tempo tentando negociar com o Ocidente... Eles disseram que o Irã nunca poderia negociar a partir de uma posição de fraqueza e apaziguamento”, analisa, também ao Al Jazeera, Reza H Akbari, analista sobre o Irã e o Oriente Médio e Norte da África, gerente do programa do Institute for War and Peace Reporting. 

Jim Walsh, pesquisador sênior associado do Programa de Estudos de Segurança do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), fala sobre a possibilidade de o Irã decidir desenvolver armas nucleares em resposta aos ataques de Israel ao país. "Por 20 anos, eles se recusaram a cruzar essa linha", comentou. “Acredito que há fortes evidências acadêmicas — e certamente, se você observar a política do momento — para acreditar que, neste ataque, Israel obterá exatamente o oposto do que queria, que é o Irã decidir usar a bomba.”
 

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