Opinião

Fake News: a esquerda deve usar essa poderosa arma política?

Está colocada diante da esquerda a urgência de tomar uma decisão difícil e optar entre dois caminhos; nenhum dos quais será suave

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Jornalista e profissional de marketing político, tema sobre o qual fez mestrado. Foi coordenador de Publicidade da Prefeitura de São Paulo, secretário de Comunicação de Guarulhos e um dos hosts do podcast “Consultório Eleitoral do Dr. Campanha,” no ar por dois anos na Rádio Brasil Atual FM (os episódios apresentados podem ser ouvidos no Spotify). Autor do capítulo “Cinco coisas que você precisa saber para mobilizar seus apoiadores, desde a pré-campanha até o Dia D” do manual “Marketing Político no Brasil” editado pelo Clube Associativo dos Profissionais do Marketing Político (CAMP), principal associação do gênero do país. Foi também consultor associado da De Vengoechea & Associates, empresa norte-americana voltada ao mercado eleitoral latino.
Fake News: a esquerda deve usar essa poderosa arma política?
Pillar Pedreira/Agência Senado

Imagine a seguinte situação. O campeonato mundial de boxe da categoria pesos-pesados está sendo disputado numa luta de muitos rounds. Nela, um dos lutadores joga sujo, dá cotoveladas e usa até soco-inglês escondido dentro da luva da mão direita. Está disposto a fazer o que for necessário para vencer; “que se dane a ética e o fair play”, pensa ele. O outro, que é canhoto, também poderia jogar sujo, mas escolheu até agora jogar limpo, dentro das regras. E embora tenha vencido o último round disputado, esse atleta provavelmente perderá o próximo – e a luta - se não aderir, também ele, ao jogo sujo.

Esta metáfora se refere, é claro, ao atual estado da política brasileira, onde quem usa fake news tem levado grande vantagem sobre aqueles que insistem em jogar segundo as regras eleitorais estabelecidas. E quanto mais acirrada for a disputa eleitoral, como deve acontecer em 2026 a exemplo do que já foi em 2022, mais importância a fake news terá no resultado da eleição.

As eleições de 2026 deverão ser mais um triste teste de stress da democracia brasileira. Muita coisa está em jogo e já ficou claro que nem o público eleitor estará vacinado contra as mentiras, nem o juiz do combate terá condições de forçar o lutador sujo a seguir as regras.

Está colocada diante da esquerda a urgência de tomar uma decisão difícil e optar entre dois caminhos; nenhum dos quais será suave. Se decidirem por continuar a jogar limpo, os esquerdistas permanecerão em paz com suas consciências, tendo a certeza de estar dentro da tradição iluminista de combater as trevas com a luz.  Claro que, caso percam ao seguir esse caminho, colocarão em grande risco o legado civilizatório de Lula e FHC e a própria democracia brasileira (que, já vimos, é muito frágil).

Se decidir-se por aderir ao jogo sujo e a usar fake News de forma maciça e profissional, como faz a direita, a esquerda jogará um jogo político mais equilibrado, aumentando bastante suas chances de vitória. Porém, se afastará de suas raízes éticas e, talvez, se desfigurará de forma irreversível.

E você, leitor, leitora? O que faria nesse caso? Seguiria fiel a ética e à boa moral, já que “é melhor perder jogando limpo do que ganhar roubando,” ou descambaria para a baixaria, pois “é melhor vencer feio do que perder bonito”?

Finalizo com o pensador e político Niccoló Machiavelli (1469—1527), ele mesmo uma vítima das mudanças dos ventos políticos em seu tempo. Em 1513 o florentino escreveu: "Feliz é o príncipe (lutador) que ajusta seu modo de proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos tempos." (citado por Francisco Weffort em “Os Clássicos da Política,” Editora Ática).

Até a próxima coluna.

PS: Depois da aposentadoria de Angela Merkel, a morte do Papa Francisco priva a Europa de seu último estadista, no estilo daqueles grandes líderes do século XX. O continente agora é governado por gente do mercado financeiro (Macron, França), burocratas (Starmer, Inglaterra) e protonazistas (Erdogan, na Turquia, e Orbán, na Hungria, entre outros que se avizinham). Triste momento para o berço da civilização ocidental.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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