OSCAR 2025

"Anora", favorito do Oscar, é um filme mediano e que todos vão esquecer

A comédia dramática dirigida por Sean Baker parte de uma boa premissa, mas se perde completamente pelo caminho

"Anora", favorito do Oscar, é um filme mediano e que todos vão esquecer.Créditos: Divulgação
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O badalado filme "Anora", escrito e dirigido pelo estadunidense Sean Baker, iniciou a sua carreira da melhor forma possível: recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2024. Apesar de sua ótima premissa e uma primeira parte profundamente envolvente, o roteiro do longa se perde na segunda etapa e se transforma em uma constrangedora comédia de erros. É difícil entender que esta seja a produção favorita a receber o Oscar de Melhor Filme no próximo domingo (2).

Vamos à trama: nos primeiros momentos do filme, acompanhamos o dia a dia da trabalhadora sexual Anora – interpretada pela excelente Mikey Madison, que disputa com Fernanda Torres o Oscar de Melhor Atriz – até a noite em que ela é apresentada ao jovem Nikolas (Alexei Zakharov), filho de um mafioso russo com muito poder.

Alexei e Anora passam a se encontrar constantemente, e o rapaz se apaixona pela jovem. Dessa maneira, ele a contrata para passar uma semana, e eles vão a Las Vegas, onde se casam. Essa, com certeza, foi a pior decisão do casal. De volta ao lar, os pais do rapaz tomam conhecimento e iniciam uma tratativa para cancelar o casamento.

A primeira parte do filme "Anora" beira a perfeição em termos de fotografia, elenco, trilha sonora e sequências incríveis, até que o rapaz se revela apenas mais um garoto mimado, filho de gente muito rica, e desaparece ao ser confrontado pelos capangas de seu pai. Daqui para frente, o filme simplesmente se perde e se transforma em uma comédia de erros profundamente constrangedora, e a vontade de desistir do filme se torna grande. 

O problema do roteiro de Sean Baker é que ele rompe com a fantasia e nos joga em lugares óbvios: o garoto mimado que faz cagadas, e a família rica precisa entrar em campo para fazer a limpeza. Mas a maneira como isso é retratado simplesmente não funciona, pois, na primeira parte do filme, não há comédia, mas sim um mergulho na discrepância social, questões de classe e a vida das trabalhadoras sexuais.

"Anora", até certo ponto, pode ser interpretado como a versão mais realista de "Uma Linda Mulher" – mas sem uma música-tema que fez sucesso no mundo inteiro, a saber, "It Must Have Been Love", do Roxette –, porém, o filme dos anos 1990 é mais sincero e sabe brincar com a fantasia e as ilusões, já o longa de Sean Baker, ao tentar fazer uma "crítica social", se perde e cai na repetição.

Em todo caso, "Anora" não é um filme ruim; é melhor que "Emília Pérez", mas inferior a "Ainda Estou Aqui" ou "O Brutalista", seus concorrentes na categoria de Melhor Filme. Além disso, vale destacar o trabalho de Mikey Madison no papel de Anora: atuação impecável, é a alma do filme.

Por fim, "Uma Linda Mulher" ainda hoje é lembrado e comentado, já "Anora", que concorre em 6 categorias do Oscar, é um longa-metragem que está fadado a cair no esquecimento. Ninguém vai lembrar desse, que também não ganhará reprises na televisão ou viralizará nos streamings. Às vezes, um filme se dá bem ao brincar com a imaginação – esse é o papel do filme ficcional; o contrário se chama documentário –, e o filme de Sean Baker, que começa com muito brilho e intensidade, se perde ao tentar apontar para algo que nem o roteiro sabe o que é. Ao término, não é nem engraçado, nem comovente e muito menos crítico.


 

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