JOSÉ LUIZ DATENA

Cadeirada de Datena acaba com pose de machão de Pablo Marçal

Foi ele quem estabeleceu os parâmetros de violência nas eleições; na primeira porrada que tomou, afinou, chorou e fugiu

Cadeirada de Datena em Marçal.Créditos: Reprodução de Vídeo/TV Cultura
Escrito en OPINIÃO el

O candidato de extrema direita Pablo Marçal (PRTB) provocou, xingou e, como se diz na linguagem das ruas, pediu porrada e tomou. E quando isso aconteceu, afinou, choramingou e, no final das contas, fugiu.

A linguagem torpe da violência foi estabelecida desde o princípio por ele. Xingou e provocou a todos os seus oponentes com os apelidos mais rasteiros. Coisas no estilo quinta série como o infame trocadilho (Cha)Tábata, para a candidata Tábata Amaral (PSB), até chamar Guilherme Boulos (PSOL) de cheirador de cocaína sem ter nenhuma prova.

Com José Luiz Datena (PSDB), Marçal partiu para o desafio corporal e o chamou de arregão neste domingo (16), durante o debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, promovido pela TV Cultura. Disse que ele só ameaçava e não tinha coragem de ir às vias de fato. O apresentador, com seu conhecido comportamento destemperado, não teve dúvida e lhe deu uma cadeirada.

Foi a cena mais degradante jamais vista em algum debate eleitoral transmitido ao vivo na TV brasileira.

Macho desmascarado

O que importa, no entanto, além da própria violência em si, é como o fato é visto e interpretado pelo eleitorado de Marçal. Mais ainda, por quem ainda pode ou poderia vir a votar nele. E a avaliação de alguns especialistas com quem a Fórum conversou é que pode ter um impacto devastador. Sua pose de machão, de sujeito destemido que afirma escalar montanhas, lutar jiu-jitsu, que desafia e chama pra porrada, teria caído por terra. 

Na prática, Marçal afinou em cadeia nacional. Apanhou, não reagiu e, como se não bastasse, simulou ter ficado seriamente machucado. O fato, assim como a bolinha de papel de José Serra durante a campanha presidencial de 2010, foi rapidamente desmascarado. Um vídeo que circula nas redes mostra Marçal ainda no estúdio da TV Cultura inteiro após a cadeirada, erguendo os braços, gesticulando e fazendo cena.

Veja abaixo:

A seguir, ele postou outro vídeo com máscara de oxigênio dentro de uma ambulância em disparada. Já internado, ele aparece com a pulseira verde, que, de acordo com o código dos hospitais, trata-se de um caso de pouca urgência, com o paciente podendo aguardar até 120 minutos pelo atendimento ou ir a uma unidade básica de saúde.

Nada justifica a violência. Tanto a cadeirada de Datena quanto a violência verbal usada por Marçal desde que ele surgiu em cena na campanha eleitoral. Datena, no caso, já não tinha nada a perder e pode até, como já fez várias outras vezes, sair de cena.

Já no caso de Marçal, desabou no próprio ringue que montou. Caiu desmoralizado com fama de arregão, adjetivo que ele mesmo insistiu em introduzir nos debates e pode sair dessa muito prejudicado. Aguardemos as próximas pesquisas.

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