A nova "polêmica" em torno da eleição para a prefeitura da cidade de São Paulo é o fato de, durante um comício do candidato Guilherme Boulos (PSOL), realizado no último sábado (24) e que contou com a presença do presidente Lula (PT), ter sido executado o hino nacional com trechos de sua letra adaptados para a linguagem neutra.
Pronto, um terremoto se abateu nas redes sociais, e a campanha de Guilherme Boulos passou a ser atacada tanto pela direita quanto pela esquerda. Pressionado, o candidato do PSOL deletou de suas redes o registro do hino nacional com linguagem neutra. Um erro, diga-se.
No entanto, chama a atenção que figuras do campo progressista correram para atacar a candidatura de Guilherme Boulos, e que atitudes como essa facilitam a vida da direita. No extremo oposto, os ataques óbvios do campo conservador, tudo embalado com a velha ladainha da inexistente "ideologia de gênero".
Porém, é impressionante, mas surpreende um zero de pessoas, ver como parte do campo progressista se une em questão de segundos com conservadores quando o assunto está relacionado às liberdades sexuais. Será que o problema, de fato, é o hino nacional com linguagem neutra ou incluir as pessoas?
Além disso, a campanha de Boulos perde uma tremenda chance de defender uma cidade mais democrática e, de fato, para todos. Ao retirar o vídeo com o hino nacional adaptado para a linguagem neutra, a candidatura psolista cede à narrativa da direita. Não adianta vencer uma disputa se, ao término da batalha, pouco há para se diferenciar.
Por fim, a campanha de Boulos perdeu uma ótima oportunidade para, por exemplo, contrapor a candidatura de Marçal (PRTB) que, durante entrevista à Globonews na noite de segunda-feira (26), revelou total desconhecimento sobre as políticas de Direitos Humanos e LGBT em execução na capital paulista.
Este fato lembra muito algo similar que ocorreu com a candidatura de Fernando Haddad (PT) à prefeitura de São Paulo, em 2012. Ainda na pré-campanha, Haddad começou a ser atacado por causa de políticas pró-LGBT durante sua gestão no Ministério da Educação. À época, a candidatura petista optou por enfrentar o obscurantismo oriundo do então candidato José Serra (PSDB). O resultado? O PT derrotou o tucano e conquistou a prefeitura.
Causa ainda mais espanto que o hino nacional em linguagem neutra gere tanta gritaria e incomode mais do que a existência de candidaturas picaretas, que nada oferecem à cidade de São Paulo. Isso é revelador e mostra o quanto ainda engatinhamos no debate sobre justiça social e direitos LGBT.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.