ELEIÇÕES 2024

Pesquisa Atlas Intel mostra que Pablo Marçal se consolida como o pós-Bolsonaro

Estratégia criminosa e sem pudor, atrai e nutre viciados em fake news e discurso de ódio ceivados pelo ex-presidente. Ex-coach é o principal herdeiro dos votos de Bolsonaro e Tarcísio e lidera com folga entre evangélicos

Jair Bolsonaro, Pablo Marçal e a horda de extremistas.Créditos: Instagram / Pablo Marçal
Escrito en OPINIÃO el

O recrudescimento da ultradireita neofascista no mundo, principalmente através das redes sociais, fez com que o termo pós-verdade se tornasse moda na mídia liberal.

Cunhado a partir de uma máxima do filósofo prussiano Friedrich Wilhelm Nietzsche, de que "não há fatos, apenas versões".

A pós-verdade nutriu mundo afora a narrativa de seres abjetos, como Jair Bolsonaro (PL), que construiu seu discurso em cima de mentiras propagadas por décadas pela mídia liberal, como o "fantasma do comunismo" e as balelas neoliberais para impor a toque de caixa os preceitos do Consenso de Washington.

Com sua pós-verdade, Bolsonaro criou uma horda de viciados em teorias da conspiração baseadas em mentiras - as chamadas fake News - e discurso de ódio contra os "comunistas", termo que define qualquer pessoa que não reze na cartilha neofascista.

No entanto, por mais incrível que pareça, Bolsonaro tinha limites "éticos" e, sobretudo, abaixava a crista quando confrontado pela Justiça. 

Foi assim em 7 de setembro de 2021, quando procurou Michel Temer para colocar panos quentes após chamar Alexandre de Moraes de "canalha" e dizer que não mais cumpriria as determinações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-presidente também não teve coragem de levar adiante o golpe de Estado tramado por ele após a derrota para Lula. Fugiu para os EUA antes da posse para não passar a faixa presidencial.

O terceiro recuo se deu nas eleições municipais deste ano, quando sucumbiu aos desejos de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, e rifou a candidatura de Ricardo Salles - que voltou ao Partido Novo - à prefeitura da capital paulista para apoiar o emedebista Ricardo Nunes.

Na política, as negociatas são lugar-comum. Mas na horda de extremistas que ceivou com ódio e mentiras, os recuos foram considerados covardia, traição e - o pior - cooptação pelo establishment, mesmo que poucos saibam o que isso realmente significa.

Ao apoiar Nunes, um político moderado, Bolsonaro deixou um vácuo político entre seus viciados.

Verdadeiro "outsider" na política - embora seja "insider" no mundo do crime -, Pablo Marçal ocupou esse vácuo oferecendo aos extremistas do neofascismo uma dose extra daquilo que os fizeram dependentes.

Marçal se nutre nessa mesma mídia liberal para compor suas narrativas. No entanto, o ex-coach utiliza técnicas de manipulação de pessoas e de redes para propagar, sem pudor algum, mentiras e acusar adversários, por exemplo, de usuários de cocaína.

Como criminoso condenado em uma quadrilha de roubo a banco, o ex-coach não se intimida com a Justiça e dá de ombros para as decisões que o obrigam a se retratar.

Mais que isso, o ex-coach ainda oferece pagamento em dinheiro vivo aos extremistas para fazer o que eles faziam "de graça" para Bolsonaro, monetizando seu gabinete do ódio.

Pós-Bolsonaro

A estratégia criminosa de Marçal na disputa à prefeitura de São Paulo teve efeito imediato na horda bolsonarista, que abandonou as ordens do "malvado favorito" para apoiar Ricardo Nunes e se aliou à legião de doutrinados do ex-coach.

Pesquisa Atlas Intel divulgada nesta quarta-feira (21), mostra que, com seu discurso ainda mais à direita da ultradireita neofascista, Pablo Marçal se consolida como o pós-Bolsonaro.

Em 13 dias, intervalo em que participou de debates e propagou as mentiras inescrupulosos, o ex-coach registrou o maior crescimento - de 5 pontos percentuais - entre os candidatos e se firmou em terceiro lugar na disputa, com 16,3% das intenções de votos.

O crescimento de Marçal se dá justamente na base bolsonarista. Segundo o estudo, o ex-coach já atraiu 41,8% dos eleitores que votaram em Bolsonaro no segundo turno em 2022 - Nunes tem 38,6% nesse nicho.

Entre os que declararam voto em Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) o percentual é ainda maior: 47,2% dizem que votarão em Marçal. Apoiado pelo governador, Nunes tem 39,5% de seus votos.

Marçal também lidera em outro público fiel a Bolsonaro. O ex-coach é o que registra maior intenção de votos entre os eleitores evangélicos: 36,8%. Em seguida, está Nunes, num distante 23%. Boulos atrai só 17,7% desse eleitorado.

O candidato do PRTB também disputa com Boulos a preferência na classe média. Entre os eleitores com renda familiar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, Boulos tem 34%, seguido de Marçal com 30,4%. 

Os dados, a serem confirmados por três outras pesquisas nesta semana - Paraná Pesquisas, Fespsp e Datafolha -, mostram que Marçal tem chances de chegar ao segundo turno das eleições na maior cidade do país em 2024.

No entanto, a preocupação de Jair Bolsonaro e seu clã - que nos últimos dias passaram a atacar o ex-coach - está num futuro próximo e mais amplo que os 1.532 km² do município de São Paulo.

Caso Marçal obtenha uma expressiva votação e exposição na eleição na capital paulista, ele deve levar esse capital político para 2026.

Mesmo diante de um flerte de Valdemar da Costa Neto, que já teria oferecido a segunda vaga - a primeira é de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) - para disputar o Senado, Marçal tem planos de ir mais longe.

Escanteado em 2022 e com o ex-presidente inelegível até 2030, o ex-coach pode assumir de vez o papel de pós-Bolsonaro e levar a estratégia criminosa e o caos que provoca em São Paulo para a disputa presidencial em 2026.