O mais difícil naquele fatídico 8 de julho de 2014 foi tentar explicar para os jornalistas estrangeiros no Centro Livre de Mídia da Prefeitura de São Paulo o que havia acontecido com a seleção brasileira.
Todos trabalhamos duro durante aqueles dias. A Copa do Brasil era, enfim, um sucesso, a despeito dos protestos, do irascível “não vai ter Copa” que se repetiu ao longo de meses e de toda a expectativa.
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Faltava, enfim, o título. A semifinal contra a Alemanha era uma espécie de final antecipada aos olhos de todos. O time brasileiro não tinha nada de brilhante, mas poderia vencer, afinal estava jogando em casa.
O jogo começou e foi aquele pesadelo que, apesar de tentar de todas as maneiras, não conseguimos esquecer. E, como que por encanto, também não conseguimos parar de rir dele. Sim, ao contrário do “maracanasso” de 50 e da derrota no Sarriá em 82, que fizeram o país ir às lágrimas, o 7 x 1 virou mesmo foi piada. Um meme gigantesco que não paramos de repetir, parodiar e fazer troça.
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O lado positivo disso tudo é que aquela lorota toda do Nélson Rodrigues de “pátria de chuteiras” e o famoso e propalado “complexo de vira-latas” teve o seu significado lá atrás, mas acabou.
A impressão é que o país, finalmente, caiu em si. O fato de perder ou ganhar um jogo ou uma Copa não nos aumenta e nem diminui enquanto nação. Continuamos do mesmo tamanho que sempre fomos, um pouco melhores ou piores dependendo das circunstâncias e do governo de plantão. Mas nunca, jamais, em tempo algum, de um time de futebol.
Mas, de volta ao começo, assim que o jogo acabou, vários jornalistas de diversos países da América Latina e da Europa principalmente vieram correndo pedir explicações. Como se nós, pelo simples fato de sermos jornalistas brasileiros, teríamos alguma ideia do que havia se passado com o nosso time.
A resposta era a única possível: “sabemos tanto quanto vocês.” O futebol brasileiro é (ou era) querido e festejado no mundo inteiro. Todos por ali tinham um respeito imenso pela camisa amarela de tantas glórias. Tanto é que, de uma hora para a outra, diversos fotógrafos e cinegrafistas correram em direção a um rapaz que, vestido com a camisa da seleção brasileira, chorava alto e soluçava logo após o jogo.
Era um jornalista do Senegal que cobria a Copa. Simultâneo ao final do jogo, ele recebeu a notícia da morte de um parente próximo. Todos correram para filmar o rapaz. Era uma imagem e tanto: um jornalista estrangeiro, com a nossa camisa, que sofria a cântaros com a fragorosa derrota.
Como era, naquele momento, responsável pelo local, tive que explicar e espantar os colegas interessados na imagem. Pedi respeito, no que fui prontamente atendido, e todos voltaram aos seus lugares. Não havia, de fato, e tampouco houve depois, clima nenhum de tragédia. Tomamos de 7x1 naquele dia e depois, na disputa para terceiro e quarto lugar, de 3 x 0 da Holanda.
E seguimos, desde então, perdendo quase sempre. E é só futebol, mais nada.