CELINE DION

Celine Dion soberba na abertura das Olimpíadas de Paris nos faz espiar a vida

Cantora superou, ao menos naquele momento, uma séria doença degenerativa e cantou como nunca o Hino ao Amor, de Piaf

Celine Dion na abertura dos Jogos Olímpicos.Créditos: Reprodução de Vídeo
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Antes de tudo, gostaria de dizer que não sou lá muito fã da canadense Celine Dion. Apesar disso, concordo que ela é uma das maiores cantoras do planeta e disso não restam lá muitas dúvidas. Tem uma técnica impecável, afinação extrema e lindas interpretações. O que me desagrada, que não bate com meu santo, como se diz, é seu estilo, tipo de repertório e arranjos grandiloquentes.

Isso, no entanto, é um problema meu.

O fato é que ela é, com certeza, uma das maiores artistas do mundo. Tem uma carreira exemplar, inúmeros álbuns e é premiadíssima. A despeito do meu gosto pessoal, fui assistir ao documentário “Eu sou Celine Dion”, dirigido por Irene Taylor, e passei a ser obrigado a rever muitos dos conceitos – ou até mesmo preconceitos – que tinha sobre a cantora e sua obra.

O documentário tem como tema central a luta da cantora contra a Síndrome da Pessoa Rígida (SPR). Ela foi diagnosticada em 2022 com a doença neurológica. Um mal grave e terrível que atinge um indivíduo a cada um milhão e faz com que o paciente perca os controles dos músculos.

De maneira corajosa e inédita, ao invés de se esconder para se submeter ao tratamento, Celine Dion escancarou as portas de sua casa e de sua vida, para que todos pudessem saber do que se trata.

As imagens não têm limites. O documentário chega ao ponto de acompanhar em todos os seus detalhes uma convulsão da cantora, desde o seu início, passando pelo auge até o momento em que seu organismo se estabiliza. Um aviso ao leitor: o que se vê não é nada bonito e contrasta terrivelmente com as imagens de arquivo dela, no auge da beleza e da voz, se apresentando.

Um novo contraste

E é justamente aí que voltamos, em um novo contraste, ao ver Celine Dion no alto da Torre Eiffel cantando a icônica “Hymne à l'amour”, parceria da compositora Marguerite Monnot com Édith Piaf, na final apoteótica da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Dion estava soberba. Não havia nela, ali naquele momento, nenhum traço de fragilidade que pudesse despertar indulgência do público. Algo do tipo: ‘ah, ela tentou e até que foi bem’.

Não. Celine Dion foi a mesma Celine Dion de sempre. Soberba. Cantou com todas as notas e emocionou o mundo nesta que talvez tenha sido a maior plateia de sua longa e vitoriosa carreira. Ninguém sabe o que será de sua vida daqui pra frente, até onde poderá chegar, o que mais ainda será capaz de fazer no enfrentamento da doença.

Pouco importa. Claro que torcemos, não só pela recuperação dela, mas de todas as vítimas de doenças degenerativas. E de todas as outras doenças. A lição que fica, no entanto, é a da força da arte, da paixão. A capacidade que ela tem de nos reerguer, algo tão comum também no esporte. E talvez, até por isso mesmo, ela estivesse lá, naquele momento tão único.