ELEIÇÕES 2024

Governador de MG? O que está por trás da troca de afagos entre Lula e Pacheco

Lula mexeu com a vaidade de Pacheco ao colocá-lo como "grande nome" para a disputa ao governo do estado em 2026. No entanto, os afagos visam um objetivo imediato relacionado à pré-candidatura de Rogério Correia à prefeitura da capital mineira

Lula e Rodrigo Pacheco em ato político em Contagem, na Grande BH.Créditos: Ricardo Stuckert / PR
Escrito en OPINIÃO el

Em meio às rusgas com o Judiciário, especialmente no embate entre descriminalização da maconha e PEC das Drogas, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, tem trocado afagos com Lula, chefe do Executivo, que desembarcou nesta quinta-feira (27) em Belo Horizonte e cumpre agenda em Minas Gerais nesta sexta-feira (28).

Em entrevista à tradicional rádio Itatiaia, Lula fez elogios ao senador, que "teve atuação importante na defesa da democracia", e afirmou que Pacheco "é um grande nome" para ser candidato ao governo do Estado em 2026.

O afago de Lula mexeu com a vaidade de Pacheco, que já havia dito a interlocutores que tinha planos de voltar a advocacia em 2026, quando encerra seu mandato no Senado. 

"Recebo com muita alegria [a declaração de Lula]. Tenho grande apreço pelo presidente Lula e sei que ele tem por mim também", retribuiu Pacheco.

Lula deve assinar, nos próximos dias, a proposta apresentada por Pacheco para renegociação da dívida dos Estados com a União - um dos principais entraves de Minas Gerais, que acumula R$ 160 bi em débitos com o governo federal.

"Nós vamos fazer o acordo porque o interesse é ver o povo viver feliz", disse Lula em entrevista nesta sexta à rádio O Tempo, reiterando que fará a negociação com Pacheco assim que o Tesouro Nacional emitir o parecer.

A resolução do entrave pode ser uma das principais bandeiras para que Pacheco desista da aposentadoria na política partidária e saia candidato ao governo de Minas.

Belo Horizonte

No entanto, antes de chegar em 2026, a troca de afagos entre Lula e Pacheco tem um objetivo imediato: trazer o PSD - e o atual prefeito Fuad Noman, candidato à reeleição - para a campanha de Rogério Correia ((PT), candidato do governo na capital mineira.

Na mesma entrevista em que afagou Pacheco, na Itatiaia, fez questão de ressaltar que não abre mão da candidatura de Correia - e que aposta no crescimento do petista para atrair o PSD para a campanha ainda no primeiro turno.

“Rogério é deputado federal há muito tempo, não tem como o PT negar o direito de ele ser candidato. Ele vai ser candidato e tem muita combatividade e pode crescer muito”, afirmou.

A Fórum apurou que interlocutores do deputado e do atual prefeito já negociam uma unificação da candidatura contra a extrema-direita bolsonarista, que tem como pré-candidato o deputado estadual Bruno Engler (PL), que tem como principal cabo eleitoral Nikolas Ferreira (Pl-MG).

A ida de Lula a BH tem como objetivo, justamente, impulsionar a candidatura de Rogério Correia. Caso o petista avance, a possibilidade de uma fusão com o PSD, que abriria mão da reeleição de Noman, cresce, segundo quadros envolvidos na negociação.

O objetivo, no entanto, é levar Correia ao segundo turno da disputa. Caso o adversário seja Engler, o apoio do PSD, de Pacheco, já é dado como certo por Lula.

“Fuad é o prefeito, está na máquina, tem sempre a possibilidade de ter participação [nas eleições]. Nós sabemos que tem gente de extrema-direita disputando aqui e queremos ter a certeza de que Minas Gerais [Belo Horizonte] não terá um prefeito de extrema-direita. Terá um prefeito civilizado, democrático, que converse com as pessoas, visite as periferias, atenda o movimento social, os empresários, os comerciantes e, sobretudo, a parte mais pobre da população", afirmou o presidente à rádio.

Para isso, Lula conta com o apoio do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira - que está na cota do PSD do governo. 

Em evento em Contagem, na Grande BH, Silveira mexeu ainda mais com a vaidade de Pacheco, afirmando que o conterrâneo deve disputar o governo do estado em 2026 para “resgatar a política em Minas”. 

“Pacheco para mim é o resgate da política em Minas Gerais. Lula, meu único compromisso é reelegê-lo em 2026. Eu tenho oportunidade de estar ao lado do maior líder global em defesa da paz mundial”, afirmou Silveira, dando a deixa para a dobradinha em 2026.

Nesta sexta-feira, ao lado de Rogério Correia, Lula vai anunciar contratos de transmissão de energia estimados em R$ 3,5 bilhões e um pacto do trabalho decente nos setores de Energia e Mineração, em ato no Minas Centro, diante de mais de 1 mil pessoas.

O presidente deve voltar a acenar para o PSD e, nos próximos dias, falar diretamente com Pacheco sobre a sucessão na capital mineira e também sobre 2026.

Depois que o senador emitiu sinais de ter gostado da ideia de sair candidato ao governo do Estado, Lula acredita que, assim como ele, Pacheco pode adiar a aposentadoria por pelo menos mais 4 anos.