OPINIÃO

PCO: entre o parasitismo ao lulismo e o flerte com o bolsonarismo - Por Francisco Fernandes Ladeira

Mas não devemos nos enganar. Esta ambiguidade do PCO não é por ingenuidade ideológica

Logo do PCO / Jair Bolsonaro.Créditos: Reprodução
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Em meio à chamada “polarização política” que tem dominado o Brasil nos últimos anos – personificada nas figuras de Lula e Bolsonaro – o Partido da Causa Operária (PCO) apresenta uma postura, no mínimo, ambígua. Ao mesmo tempo em que se vende como principal defensor das pautas mais populares da esquerda (como o lulismo e a causa palestina), o partido adota determinadas posições muito próximas à extrema direita, como o negacionismo diante da pandemia da Covid-19 e os ataques gratuitos ao STF. Não por acaso, frequentemente bolsonaristas (e, em ocasiões pontuais, o próprio Bolsonaro) compartilham postagens do PCO nas redes sociais.

Recorrendo a metáforas futebolísticas, seria algo como um gaúcho torcer pela dupla Gre-Nal ou um mineiro ser torcedor de Galo e Cruzeiro concomitantemente. Como diz uma música do grupo Boca Livre, fazem uma reza pra Deus e ascendem uma vela pro cão.

Mas não devemos nos enganar. Esta ambiguidade do PCO não é por ingenuidade ideológica.

Trata-se de uma estratégia para que o partido, que não consegue se destacar no cenário político por suas propostas, chame a atenção de setores da esquerda e da extrema direita para suas polêmicas vazias, atraindo assim mais engajamento para seu canal do YouTube (Causa Operária TV) e seu jornal eletrônico (Diário Causa Operária). É o famoso “falem mal, mas falem de mim”. Este engajamento, obviamente, pode se transformar em lucro. Pequeno partido, grandes negócios!

É fato que, no contexto pré-golpe de 2016, o PCO se postou em defesa do governo Dilma Rousseff, enquanto, por outro lado, boa parte da esquerda atacava a presidenta e o PT, ao invés de denunciar as manobras da direita. Na época, a alegação era a de que o mais importante era lutar contra o Ajuste Fiscal do Joaquim Levy. Nesse sentido, também surgiram campanhas como o “Não vai ter copa” e o anódino “Fora Todos”, do PSTU. Do mesmo modo, o PCO se colocou contra a prisão de Lula e favorável à sua candidatura presidencial em 2018.

Mas esse “apoio” não foi gratuito. De uma hora para outra, Lula não deixaria de ser “chefe da quadrilha do mensalão” e “presidente dos banqueiros”, segundo as moralistas palavras do próprio líder (vitalício) do PCO, Rui Costa Pimenta.

Como o PCO não possui capilaridade na classe trabalhadora, o objetivo dessa manobra era parasitar a popularidade de Lula. Isso é facilmente comprovável porque, quando Lula foi substituído por Haddad no pleito de 2018, o PCO não apoiou o atual ministro da Economia (um político não popular, logo não dá para ser parasitado).

No melhor estilo Estadão, o PCO considerou a disputa entre Bolsonaro e Haddad como “uma escolha muito difícil” e chamou pelo voto nulo. Só faltou Rui, assim como Ciro Gomes, ter viajado para Paris. No entanto, nesse cenário, surgia o primeiro álibi do PCO para se blindar das críticas ao partido: “quem ataca o PCO, também estaria atacando Lula”.

Dois anos depois da eleição, durante a pandemia da Covid-19, tem início o movimento de aproximação do PCO com a extrema direita. Aliás, mesmo na anteriormente citada campanha eleitoral de 2018, o partido já demonstrava dificuldades em criticar Bolsonaro; seu alvo preferencial de ataques era o tucano Geraldo Alckmin (que não tinha nenhuma chance de ser eleito).

Como sabemos, em geral, bolsonaristas são muito ativos no mundo virtual, logo, se aproximar ideologicamente desse público, representa atrair potenciais consumidores para os produtos do PCO.

Assim, no período de crise sanitária, o partido aderiu totalmente ao negacionismo bolsonarista, seja pregando contra o distanciadamente social para evitar a rápida propagação do novo coronavírus entre a população, seja nos ataques às vacinas. Não por acaso, veículos de mídia, movimentos e nomes da extrema direita (alguns sob o eufemismo de “defesa do nacionalismo”) estreitaram laços com o PCO, como a Jovem Pan, o Comandante Robinson Farinazzo, a Nova Resistência e o streamer Monark. Só faltou uma live com Olavo de Carvalho, considerado pelos camaradas do PCO como “mais uma vítima dos monopólios da Internet”.

Em retribuição, o partido passou a defender publicamente figuras como o próprio Monark, Daniel Silveira, Allan dos Santos, Nikolas Ferreira, Robinho e Daniel Alves.

Por falar nisso, no endeusamento a jogares de futebol se encontram o parasitismo e o flerte com a extrema direita típicos do PCO. Parasitismo, porque, sendo o futebol um esporte popular, o partido tenta se colar em jogadores. Flerte com a extrema direita, pois, quem além de bolsonaristas e congêneres, defenderia com tanto entusiasmo atletas que, comprovadamente, praticaram violência sexual contra mulheres.

Alias, a obsessão pela extrema direita é tão forte que o PCO fez o possível e o impossível para ser incluído no inquérito das fake news, ao lado de conhecidos nomes do bolsonarismo. Conseguiu o objetivo.

Se, no cenário nacional, o principal parasitismo do PCO é em relação a Lula, na geopolítica global, o partido tenta se apropriar da causa palestina. Praticamente toda a esquerda brasileira é contra o genocídio promovido por Israel, mas, na narrativa do PCO, só ó partido tem se mobilizado em favor da resistência em Gaza.

Desse modo, confirmando a tese do parasitismo, não é à toa que uma coluna de Fábio Zanini, na Folha de São Paulo, trouxe o seguinte título: “PCO projeta salto no número de filiados por apoio ao Hamas”. Nas palavras de Zanini: “a base inicial é modesta, de 6.000 filiados. A previsão é chegar aos 10 mil no próximo mês [abril]”. Pequeno partido, grandes negócios!

Por sua vez, Vinícius Rodrigues, um dos mais fiéis seguidores de Rui Costa Pimenta, em artigo publicado no Diário Causa Operária, afirmou que o “o PCO é o Hamas do Brasil”. Haja megalomania!

Enquanto o Movimento de Resistência Islâmica venceu as eleições legislativas palestinas em 2006 e é um ator influente no xadrez geopolítico global, o PCO só elegeu um vereador até hoje e influencia, no máximo, a vida de seus lobotomizados militantes.

Como não poderia deixar de ser, essa apropriação indevida da causa palestina é um álibi para o PCO se proteger das inúmeras críticas que recebe. Ocorre mais ou menos assim, alguém da esquerda escreveu um texto criticando o partido, “foi financiado pelo sionismo, justamente quando o PCO está crescendo”.

Militantes do PCO foram impedidos de discursar em ato da esquerda no Dia da Mulher, “trata-se de uma sabotagem na luta em defesa da Palestina”. E assim é construído um universo paralelo, uma espécie de Caverna de Rui Costa Pimenta (lembrando a alegoria platônica). Todo militante que se preze deve reproduzir e defender todos esses devaneios.

Mas devemos admitir, se eleitoralmente o PCO é uma das organizações mais fracas do país, em se tratando de marketing para atrair novos consumidores e fidelidade de seus “colaboradores”, eles têm estratégias que causariam inveja nas maiores corporações capitalistas. Nem o Novo, partido orgânico dos banqueiros, teria tanto êxito. Pequeno partido, grandes negócios!

*Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.