FASCISMO

Milei ataca a cultura argentina para tentar aumentar a própria influência

Ultraliberalista argentino segue política “anti-Rouanet” de Bolsonaro e volta a hostilizar artistas de vários segmentos; alvo da vez é a cantora pop Lali Espósito

Javier Milei e Lali Espóstio.Créditos: Wikimedia Commons/ Vox España e YouTube / Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

A cantora pop argentina Lali Espósito, conhecida também como “Anitta argentina” e por suas posições progressistas, feministas, defensora dos direitos da população LGBTQIAPN+ e do aborto legal, tem sido alvo de críticas por parte do presidente argentino Javier Milei. Nos últimos dias, o ultraliberalista liderou um ataque coordenado contra a artista, expressando suas objeções através de diversos meios de comunicação, incluindo televisão, rádio e internet.

Chamando a cantora de “parasita”, o presidente ultraliberal condenou o incentivo à cultura no próprio país de forma muito semelhante ao ex-presidente Bolsonaro. “Quem começou isso? EU? Ela começou. Se você gosta de pêssegos, ignore os pelos”, diz. “Se você quer atacar, tem que estar limpo. Se você é um parasita que viveu chupando o peito do Estado, e se suas opiniões estão de acordo com um espaço político que te paga pelas suas apresentações, você é um mecanismo de propaganda, não é um artista”. 

Mas, na verdade, quem observa o comportamento de líderes fascistas e autoritários contemporâneos percebe que colocar a cultura como um alvo a ser combatido é um dos métodos mais utilizados, principalmente, pela extrema direita, já que o que realmente incomoda é o posicionamento social, político (e necessário) que essas pautas artísticas trazem no tempo em que se fazem. Cantores pop, músicos e atores de diversos segmentos vem sendo o movimento de resistência mais explícita a esses tipos de governos, disfarçados de democracia, embora eleitos democraticamente, como bem aborda o livro “Como as Democracias Morrem”, dos autores Daniel Ziblatt e Steven Levitsky.

O ultraliberalista critica a postura política adotada por Lali e não o uso das verbas públicas em si, e tudo isso para se fazer mais influente, contando com sua base de apoiadores. Além da cantora, Milei já atacou o ator Ricardo Darín, que havia se manifestado em defesa do Ministério da Cultura e do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais. Essas instituições estavam ameaçadas de fechamento por Milei. Um grande protesto de cineastas também tomou conta da Argentina em janeiro, assinada até pelo diretor de cinema brasileiro Kléber Mendonça Filho.

Vale lembrar que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também começou a perseguir a cantora norte-americana Taylor Swift - devido à proximidade das eleições americanas e o alcance com a turnê “The Eras Tour” em 2023 - e criar teorias conspiratórias de que a artista estaria o devendo ou que ela faz parte de uma operação secreta do Pentágono para ajudar Joe Biden, e sim grande parte dos americanos acreditam que isso é verdade, especialmente os republicanos.

O ex-presidente Jair Bolsonaro também usou o ataque à cultura, principalmente à Lei Rouanet, como arma contra atores, cantores, músicos e outros artistas brasileiros, insinuando que o dinheiro público era “jogado fora” e que a cultura era “inútil”, ganhando vários adeptos bolsonaristas, ainda no pior momento possível, o da pandemia do coronavírus, em que artistas acabaram saindo muito prejudicados e ainda estão se recuperando da crise até hoje, com a ajuda dos recursos liberados pelo presidente Lula.

Esses são um dos comportamentos que também contribuem para a chamada polarização na população, termo utilizado no livro recém-publicado em dezembro de 2023, “Biografia do Abismo” - dos autores Felipe Nunes e Thomas Traumann - que explica que além do Brasil, o mundo limitou os debates a uma guerra ideológica sem fim, e os direitos básicos viraram um cabo de guerra, justamente pelos ataques diretos às instituições, às políticas públicas e a outras entidades políticas promovidos em grande parte, por presidentes de extrema direita.