JAZZ

Meu mundo Thelonious Monk's blues: graphic novel mergulha na obra e vida do músico

Lançada em 2018, Thelonious Monk! Uma Revolução Musical na Alma, do marroquino radicado em Paris Youssef Daoudi, chega finalmente ao Brasil

Capa do HQ Thelonius Monk!.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Chega finalmente ao Brasil a graphic novel “Thelonious Monk! Uma Revolução Musical na Alma”, do marroquino radicado em Paris Youssef Daoudi. Lançado originalmente em 2018, o livro ganha versão brasileira pela editora DarkSide Records em edição primorosa de capa dura que faz jus ao título original.

Trata-se de uma obra-prima que relata trecho importante da vida de um dos maiores gênios americanos do jazz: o pianista, líder de banda e exímio compositor Thelonious Sphere Monk, conhecido por todos como Thelonious Monk. Por essas plagas, Monk chegou até mesmo a ganhar citação do cantor e compositor Caetano Veloso, em seu rock “Vaca Profana”, consagrado por Gal Costa.

Monk é de fato um dos maiores músicos do mundo do século 20, e tudo que é dito e repetido a seu respeito ao longo das últimas décadas não é mero exagero. E o que o faz digno de nota começa com sua maneira peculiar de tocar o piano.

Basicamente autodidata, tinha uma técnica de execução considerada “errada” pelos acadêmicos, martelando as notas de maneira percussiva e expostas com dissonâncias tanto inesperadas quanto inusuais. Aliado a isso, Monk fez músicas magistrais, a começar pelo seu clássico “Round Midnight”, que além da versão magistral de Miles Davis virou nome de filme de Bertrand Tavernier, de 1986.

Monk e Pannonica

A graphic novel de Youssef Daoudi trata principalmente da relação de Monk com Kathleen Annie Pannonica de Koenigswarter, uma baronesa de espírito livre advinda da aristocrata família Rothschild. Banqueiros judeus de origem alemã, os Rothschild chegaram a ter a maior fortuna particular do planeta no final do século 19.

Monk e Pannonica, conhecida por todos como Nica, mantiveram uma longa relação, até a morte do músico em 1982. Ela era uma espécie de mecenas e protetora de músicos como o saxofonista Charlie Parker e o baterista Art Blakey. Para desespero de seus aristocráticos familiares, ela viveu intensamente os anos do jazz de Nova Iorque durante os anos 1940 e 1960.

E é exatamente nesse período que se passa a história. Feita em preto e branco, além de um tom próximo do sépia, a narrativa se desenvolve de maneira vertiginosa, quase como um improviso jazzístico, a partir do delírio criativo do músico. O início mostra Monk regendo sua banda, citando músico por músico, como se estivesse dando partida para a história.

Logo a seguir, Nica segue em seu carro para casa, com o noticiário do rádio dando a ambiência da época. Ela, então, chega em casa e inicia um diálogo insólito com o músico. Ficamos sabendo então que ele não falava palavra há três meses e estava trancado no quarto há anos.

Monk sofreu a vida toda do que hoje se chama de transtorno bipolar.

A partir de então, a história prossegue por trechos de sua vida e música, com o grande trunfo e mérito de confundir as duas a todo momento, como se fossem – e eram – uma coisa só.

A graphic novel “Thelonious Monk! Uma Revolução Musical na Alma” é corajosa e, sobretudo, primorosa. Ao mergulhar na vida e obra de um músico de tamanha importância, o autor correu o risco de navegar de carona. Muito ao contrário disso, inspirado por Monk, criou uma nova linguagem dentre as tantas possibilidades que a genialidade da obra do músico nos deixou.

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