JAZZ

Carla Bley: morre a pianista e band leader que brilhou no templo masculino do jazz

Ela foi para Nova Iorque aos 17 anos vender cigarros no clube Birdland só para estar perto de seus ídolos: Miles Davis, John Coltrane, Dizzy Gillespie e Count Basie entre outros

Carla Bley em 1972.Créditos: Wikicommons
Escrito en CULTURA el

Morreu nesta terça-feira (17), em sua casa em Willow, no estado de Nova de Nova Iorque, a compositora e pianista de jazz Carla Bley. Sua morte foi anunciada pelo seu companheiro, o baixista Steve Swallow:

"Depois de uma carreira de mais de 70 anos e de quase 60 álbuns, a compositora e pianista Carla Bley deixou-nos na manhã desta terça-feira aos 87 anos", diz o músico em nota.

Segundo reportagem do The New York Times, Carla Bley foi uma criadora "irrepreensivelmente original", "responsável por mais de 60 anos de provocações astutas no jazz e em torno dele". De acordo com Swallow, ela morreu em consequência de um tumor cerebral.

Carla Blay nasceu em Oakland, Califórnia, em 11 de maio de 1936. Seu nome de batismo é Lovella May Borg. Estudou música com seu pai, o professor de piano e organista de igreja, Emil Carl Borg. Bley, no entanto, fez quase toda a formação por si mesma.

Descobriu o jazz aos 12 anos, através do vibrafonista Lionel Hampton. A seguir ela foi para Nova Iorque com apenas 17 anos. Começou a vender cigarros no clube Birdland só para poder ver artistas como Miles Davis, John Coltrane, Dizzy Gillespie e Count Basie, este último residente do local.

Surge a compositora

Se casou em 1957 com o pianista canadense Paul Bley, que a encorajou a compor. Trabalhou também com o pianista George Russell, que a desafiou a escrever para o seu sexteto, e o saxofonista Jimmy Giuffre, que gravou peças suas como Ictus e Jesus Maria.

Fundou na década de 60 a Jazz Composers Guild, que lutava por melhores condições de trabalho para os músicos. A associação acabaria por se transformar na Jazz Composer's Orchestra, que Carla Bley fundou com o trompetista austríaco Michael Mantler, o seu segundo marido.

Charlie Haden

A partir de 1969 começou a compor para a Liberation Music Orchestra, do contrabaixista Charlie Haden, com a qual gravou “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, no emblemático álbum “The Ballad of the Fallen”, de 1983.

Estreou em 1971 a ópera Escalator Over The Hill, gravada por músicos como Jack Bruce, Don Cherry, Gato Barbieri, John McLaughlin, Dewey Redman e Charlie Haden. Nas décadas seguintes dirigiu orquestras com músicos como Sharon Freeman, Paul Motion, Gary Valente, Dewey Redman, Jim Pepper entre outros.

No início dos anos de 1970, Carla Bley era já reconhecida como compositora. A bolsa Guggenheim que lhe foi então atribuída, permitiu-lhe fundar a discográfica Watt, em 1972, através da qual e

Editou quase toda a sua discografia, durante quase 40 anos, em parceria com a ECM Records, "selo" à qual se manteve ligada até ao fim.

Entre 1979-1981 fez um álbum mais roqueiro. “Nick Mason's Fictitious Sports”, foi escrito em parceria com o baterista da banda britânica Pink Floyd, que contou ainda com o guitarrista Mick Taylor e o músico Robert Wyatt.

Com a morte de Charlie Haden, em 2014, retomou a Liberation Music Orchestra, com seu forte compromisso social. Com a big band gravou uma nova versão de Silent Spring, que compôs nos anos de 1960, para o álbum de homenagem Time/Life, lançado em 2016.

Os últimos anos

Seus últimos anos foram dedicados ao trio que mantinha com o seu companheiro de mais de 30 anos, Steve Swallow, e com o saxofonista Andy Sheppard.

Deixou álbuns fabulosos como Tropic Appetites, Dinner Music, Musique Mecanique, Social Studies, I Hate to Sing, Night-Glo, Fleur Carnivore, The Very Big Carla Bley Band, Big Band Theory e Fancy Chamber Music. Gravou ainda Songs with Legs, em trio, ainda nos anos de 1990, com Sheppard e Swallow, e também The Lost Chords, com Paolo Fresu, já de 2005.

Depois de Carla's Christmas Carols, em 2009, com o Partyka Brass Quintet, fez mais três álbuns com Sheppard e Swallow, com algumas de suas composições mais simples: Trios, de 2013, Andando el Tiempo, de 2015, e o derradeiro, de 2020, Life goes on.

Com informações do The New York Times e do Público, de Portugal