Mais de 80% da população mundial vive sob a influência do crime organizado. Enquanto isso, nas redes sociais, principalmente no TikTok, bomba o estilo 'mulher de mafioso'. A moda, mais uma vez, prova sua própria contradição ao incorporar o espírito do tempo ao mesmo tempo em que se descola da realidade e zomba dos dramas de povos vulneráveis.
Os dados sobre o aumento contínuo da influência do crime organizado mundo afora constam do Índice Global do Crime Organizado 2023. O relatório informa que 83% da população mundial vive em condições de alta criminalidade.
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O ranking está na segunda edição e foi elaborado pela Global Iniciative, uma organização da sociedade civil, com sede em Genebra, na Suíça, formada por profissionais da aplicação da lei, da governança e do desenvolvimento que se dedicam a procurar estratégias e respostas novas e inovadoras ao crime organizado.
O documento mostra ainda que a porcentagem da população mundial em condições de baixa resiliência ao crime organizado caiu de 79,4% em 2021 para 62%.
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Apesar de mais pessoas viverem em países com alta resiliência, a crescente disseminação do crime mostra que as estratégias de resposta atuais são insuficientes.
O índice, avaliando a capacidade de 193 países da Organização das Nações Unidas (ONU), introduziu novos indicadores para uma análise mais abrangente, incluindo crimes financeiros, ciberdependentes, comércio ilícito de produtos tributáveis, falsificação e extorsão.
O objetivo desse levantamento é capacitar intervenientes globais com dados críticos para estratégias de resposta eficazes contra o crime organizado.
O ranking global indica que o país com os níveis mais altos de criminalidade é Myanmar; em segundo a Colômbia e em terceiro o México. O Brasil ocupa a posição número 22. Equador, que está vivenciando uma guerra civil contra o crime organizado ligado ao narcotráfico, aparece como décimo primeiro da relação.
O deboche da moda com a violência
Em paralelo ao drama vivenciado pela violência perpetrada pelo crime organizado no cotidiano no mundo real das populações mais vulneráveis de todo o globo, o 'mundo da moda' opera de forma desconectada da realidade dessas pessoas que sobrevivem a condições dificílimas de vida.
Uma nova tendência domina o TikTok, marcada pelo uso da hashtag #MobWifeAesthetic" ("Estética de Esposa de Mafioso", em tradução livre) que propõe peças de roupas chiques para encarar as baixas temperaturas do inverno do hemisfério norte.
Os looks em alta se contrapõe ao domínio dos estilos minimalistas com sua estética serena e luxuosa de "riqueza discreta" que predominou em 2023.
Em 2024, a moda se inclina para um maximalismo ousado típico das "esposas da máfia". Está em alta a "riqueza ostentação" com casacos de pele exuberantes e muitas estampas de animais que resultam em visual sem nenhuma sutileza, muita sensualidade e desprovido de noção.
A trend é inspirada em figuras de mulheres ricas, com um ar de ousadia e sensualidade.
@trovlov Heard we’re in our mob wife era #mobwife #mobwifeaesthetic #outfitideas #styleinspo #nycinfluencer ? Mob Wife Energy Activate - The Sweet Paisana
Como criar um visual de 'esposa da máfia'
As adeptas da tendência compartilham dicas para quem deseja adotar a tendência da "Mob Wife Aesthetic" neste inverno no hemisfério norte. Quem quiser incorporar o estilo "esposa da máfia" precisa investir nas seguintes peças:
- roupas de couro
- casacos de pele fake
- peças pretas
- estampas de animais
- acessórios dourados
- óculos de sol com uma pegada retrô (em geral, grandes)
- bolsa de grife
A revista de moda francesa L'Officiel, que circula desde 1921 e faz as vezes de guia para mulheres ricas e adeptas de marcas de alto luxo, informa que a tendência "Mob Wife Aesthetic" é um estilo que envolve maquiagem dramática com sombras esfumadas, lábios bem delineados e contornos marcantes.
Esta abordagem de beleza prioriza o glamour sobre a simplicidade. Unhas bem cuidadas, muitas vezes com designs clássicos como pontas francesas ou esmalte vermelho, são essenciais para este look.
Esposas da máfia na passarela
Grandes marcas de luxo, como Louis Vuitton, Chanel, Tom Ford e Versace, incluíram elementos da estética "esposa da máfia" em suas coleções de primavera/verão 2024, com destaque para estampas de animais, couro e brincos marcantes.
Inspiração em filmes e séries
A inspiração dessa tendência vem das representações glamourosas de esposas de mafiosos em filmes e séries. Há uma longa fascinação por esse conceito na cultura pop, desde as esposas troféu em narrativas de famílias tradicionais ricas, até personagens estilosas em produções contemporâneas.
Adriana La Cerva é uma personagem fictícia da série de TV da HBO "Os Sopranos", interpretada por Drea de Matteo. Ela é a namorada de longa data e, posteriormente, noiva de Christopher Moltisanti, protegido de Tony Soprano. Por sua atuação, de Matteo ganhou o Emmy Award de 2004 na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática.
Ginger McKenna é a antagonista secundária do filme "Casino", de 1995 interpretada por Sharon Stone. Ela é baseada na falecida socialite de Las Vegas, showgirl e modelo Geraldine "Geri" McGee. A atriz foi Sharon Stone indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua atuação.
Karen Hill é uma estadunidense conhecida por seu envolvimento na máfia dos EUA através de seu marido Henry Hill, que era associado da família criminosa Lucchese. Os acontecimentos de suas vidas foram narrados no filme "Goodfellas", de 1990, e em vários livros.
Elvira Hancock é uma personagem fictícia do filme "Scarface", de 1993. Interpretada por Michelle Pfeiffer, o papel foi considerado o ponto de virada na carreira da atriz.
Rosalyn Rosenfeld é uma personagem do filme "Trapaça", de 2013, interpretada por Jennifer Lawrence. O longa é inspirado no escândalo Abscam do FBI nos anos 1970 e 1980.
Nos trópicos, pode chamar de "perua"
Aqui no Brasil a tendência 'esposa da máfia' aterrisa com toques tropicais, com muita estampa animal, preto, dourado e cabelo bagunçado. Em lugares menos calorentos ou em ambientes com ar condicionado, dá até para tirar as peças de couro do guarda-roupas.
Tanto no hemisfério norte quanto no sul, esse look "perua" tem como principal traço a falta de noção em romantizar estereótipo de 'mulher de bandido' em um mundo cada vez mais violento, seja por guerras entre nações ou pelo crescimento do crime organizado. Extremamente cafona.