DISCURSO DE ÓDIO

BBB 24: "Eu não sou viado" é uma expressão homofóbica e não há o que discutir

Davi, participante do reality que está na berlinda, deu um show de machismo e homofobia após formação de novo paredão

BBB 24: "Eu não sou viado" é uma expressão homofóbica e não há o que discutir.Créditos: Reprodução / Globo
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Na noite deste domingo (14), após a formação do novo paredão no BBB 24, o clima esquentou na casa e o brother Davi, revoltado com a atitude de Nizam, a quem classificou como "falso" e "manipulador", partiu para cima do colega e fez uma declaração homofóbica e machista.

"Você chegou pra mim antes da votação, aqui na cozinha, e eu falei que ia votar em você... Eu homem, seu puta. Não viaje comigo não. Eu sou homem nessa desgraça, não sou viado! Tenho 21 anos, meu pai me fez homem", declarou Davi.

Após a repercussão da fala de Davi, alguns perfis correram para a internet afirmando que a expressão "eu não sou viado", no contexto da Bahia, não tem conotação homofóbica. Balela. "Eu não sou viado" é uma expressão homofóbica em qualquer contexto. Não há muito o que discutir sobre isso.

Ojeriza e ódio ao viado

Além da expressão "eu não sou viado", Davi também reforça a todo momento que o seu pai "o fez homem". Ou seja, além da homofobia escancarada, a declaração do brother também é machista. Aqui temos o combo: machismo e homofobia, que sempre caminham juntos, mas por quê?

Os berros de Davi, "eu sou homem", nos remetem ao que há de mais clássico no pensamento masculinista e misógino: ojeriza, ódio e distância de tudo aquilo que remete ao feminino, pois este é lido como fraqueza, algo menor e que deve ser repudiado.

"Meu pai me fez homem" é o cerne do pensamento violento que estrutura a LGBTfobia no Brasil. "Meu pai fez homem" também traz o caráter da vergonha e humilhação: não posso decepcionar "quem me fez homem", "tenho que ser macho" e tais atributos só podem ser expressados aos berros e com muita violência.

Outro aspecto que deve ser entendido a partir da expressão "meu pai me fez homem [...] eu não sou viado" é o seu caráter desumanizador: viado, neste pensamento homofóbico, não é homem, não é humano e, consequentemente, pode ser eliminado.

A desumanização histórica das LGBT+ tem esse objetivo: a sua eliminação, e a expressão "eu não sou viado" é o coração de tal violência que foi "naturalizada" e hoje estrutura a mentalidade e as instituições brasileiras.

Não se trata de Davi, mas sim de entender que a expressão "eu não sou viado" é homofóbica, machista e violenta. E não importa o contexto geográfico ou etário, "eu não sou viado" é uma expressão homofóbica que deve ser eliminada de nosso vocabulário e não "naturalizada".

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