O primeiro dia de julgamento dos quatro primeiros réus pela tentativa de golpe de 8 de janeiro demonstra que o bolsonarismo pretende usar a ocasião para politizar o processo.
Da defesa de Aécio Lúcio Costa Pereira, ex-funcionário da Sabesp, faz parte o ex-desembargador Sebastião Coelho da Silva.
Te podría interesar
Ao anunciar que se afastava dos cargos de corregedor e vice-presidente do TRE-DF, em 20 de agosto 2022, Sebastião atacou o discurso de posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE.
"Esperava, sinceramente, que o eminente ministro aproveitasse a presença dos principais candidatos, dos ex-presidentes da República e do presidente da República para fazer uma conclamação de paz para a nação. Mas ao contrário, o que eu vi, ao meu sentir, o eminente ministro Alexandre de Moraes fez uma declaração de guerra ao país", afirmou.
Quatro dias antes, ao assumir o comando do TSE, sentado a apenas duas cadeiras do presidente Jair Bolsonaro, que ficou visivelmente desconfortável, Moraes disse:
Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, de destruição da democracia, das instituições, da dignidade e da honra alheias. Liberdade de expressão não é liberdade de propagação de discursos de ódio e preconceituosos.
O ex-desembargador teve papel destacado na audiência pública promovida por bolsonaristas no Congresso no dia 30 de novembro de 2022, quando Lula já estava eleito. O encontro foi um verdadeiro chamamento ao golpe.
Sebastião Coelho também foi ao acampamento diante do QG do Exército, onde acusou o ministro relator dos inquéritos que investigam o bolsonarismo no STF de ser criminoso.
Os crimes praticados por Alexandre de Moraes estão sendo cometidos com as suas decisões. No momento que as decisões dele estão em vigor, o crime está acontecendo. Portanto ele está em estado de flagrante delito.
Hoje, o ex-desembargador aproveitou a ocasião para pedir que Moraes se considerasse suspeito. Disse que seu cliente não pode ser julgado pelo STF, por uma questão de foro. Afirmou que a Corte promove inquéritos secretos.
Referindo-se aos ministros julgadores, disse:
Eu quero dizer, com muita tristeza, que nessas bancadas aqui, nesses dois lados, estão as pessoas mais odiadas desse país.
Sebastião Coelho denunciou que está sendo alvo de perseguição pelo Conselho Nacional de Justiça, que abriu investigação para saber se o ex-desembargador incitou atos golpistas. Ele teve seu sigilo bancário quebrado.
Alexandre de Moraes não respondeu diretamente ao advogado, mas visivelmente irritado disparou:
Às vezes o terraplanismo e o negacionismo obscuro de algumas pessoas faz parecer que no dia 8 de janeiro tivemos um domingo no parque. As pessoas vieram, pegaram tickets, entraram na fila -- assim como fazem no Hopi Hari ou na Disney -- e agora nós vamos quebrar alguma coisa aqui, agora vamos invadir o Congresso, o Palácio do Planalto, vamos orar na cadeira do presidente do Senado.
Aécio Pereira, o cliente do ex-desembargador, gravou um vídeo ao lado da cadeira do presidente do Senado vestindo uma camiseta com os dizeres "intervenção militar federal".
Moraes ainda lembrou que a Ordem dos Advogados tem compromisso com a democracia, uma indireta ao advogado bolsonarista.
Assista
Alexandre de Moraes foi preciso em sua fala, como relator em julgamento dos golpistas. Ataque à democracia no 8/01 não pode ser visto como um passeio de domingo! pic.twitter.com/bjUfdrdrbH — Ivan Valente (@IvanValente) September 13, 2023
Matéria atualizada às 15h45 para inclusão de vídeo