GOLPE NO CHILE

Neoliberalismo: o fio que une a Ditadura sangrenta de Pinochet a Bolsonaro

Bolsonaro que ascendeu à Presidência do Brasil em 2018, louvava o general e propalava aos quatro ventos que “Pinochet deveria ter matado mais gente” - assim como dizia da Ditadura no Brasil. 

Escrito en OPINIÃO el

Há 50 anos, em 11 de setembro de 1973, com ostensivo apoio dos Estados Unidos, as Forças Armadas, chefiadas pelo general Augusto Pinochet, realizaram um sangrento golpe de Estado no Chile que derrubou o governo de Salvador Allende, morto durante a ação militar.

Até 1990, quando o golpe chegou ao fim, foram foram mais de 40 mil mortos, desaparecidos ou torturados pela Ditadura de Pinochet, uma das mais violentas em países da América Latina.

Jair Bolsonaro (PL), que ascendeu à Presidência do Brasil em 2018, louvava o general e propalava aos quatro ventos que “Pinochet deveria ter matado mais gente” - assim como dizia da Ditadura no Brasil. 

Já na Presidência, em setembro de 2019, Bolsonaro desferiu um dos mais horrendos ataques a ex-presidenta chilena Michelle Bachelet ao criticar o pai dela, o brigadeiro da Força Aérea chilena Alberto Bachelet, que foi torturado e morto por se opor à Pinochet.

"Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Acho que eu não preciso falar mais nada para ela. Parece que quando tem gente que não tem mais o que fazer, como a senhora Michelle Bachelet, vai lá para a cadeira de direitos humanos da ONU. Passar bem, dona Michelle", disparou Bolsonaro na ocasião.

Mas, além do terror e ódio contra a democracia - e aos democratas - um fio liga a ascensão de Bolsonaro à Ditadura de Pinochet: a economia.

Assim como Pinochet, Bolsonaro se dizia um nacionalista e só passou a defender a política neoliberal quando abraçou Paulo Guedes, que juntamente com a TV Globo, o sistema financeiro e seus asseclas, fundou o Instituto Millenium, think thank criada para difundir o Consenso de Washington, cartilha fortemente calcada nas ideias do economista estadunidense Milton Friedman.

Pinochet, por sua vez, foi convencido pelos Chicago Boys, como são chamados os discípulos de Friedman - entre eles Guedes - doutrinados na Universidade de Chicago, nos EUA, a transformar o Chile no laboratório neoliberal da América Latina.

Privatizações

Enquanto a horda bolsonarista bradava que Bolsonaro era o único presidente que contrariava a Globo, Guedes cumpria os desejos da família Marinho ao lado do então presidente fascista - e era poupado nos comentários econômicos da emissora e da mídia liberal.

Guedes conheceu vários dos Chicago Boys de Pinochet nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, nos anos 1980, sem encontrar espaço nas universidados que ainda não haviam aderido à falácia neoliberal, foi levado por Jorge Selume Zaror, ex-diretor de Orçamento do regime de Pinochet, para desenvolver estudos na Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile.

Da instituição - pública, saliente-se -, Guedes acompanhou o processo de entrega da Companhia de Telefonos del Chile (CTC) e da Empresa Nacional de Telecomunicaciónes (Entel) na primeira grande privatização de setores essenciais da economia na América Latina.

A companhia estatal chilena fazia parte do acordo da então poderosa ITT, empresa privada  de telecomunicações dos EUA, que pressionou o governo "Richard Nixon" a apoiar o golpe de Pinochet contra o governo do socialista Salvador Allende. 

"A esperança mais realista dentre aqueles que desejam destituir Allende é que uma rápida deterioração da economia provoque uma onda de violência que provoque um golpe militar", dizia um memorando da empresa entregue a Nixon.

A partir de então, os Estados Unidos coordenaram um bloqueio econômico informal ao Chile e convidaram as empresas estadunidenses a abandonarem o país. A situação resultou na deterioração econômica chilena, quando a inflação chegou a mais de 380% em 1973, ano do golpe de Pinochet.

O golpe contra Dilma e a ascensão de Bolsonaro

Pouco mais de 40 anos depois do golpe de Pinochet, em 2016, a presidenta Dilma Rousseff (PT) foi alvo de golpe no Brasil.

Além de fatores internos, a conspiração golpista contra Dilma, capitaneada por Michel Temer (MDB), servia a interesses do sistema financeiro - que via com desconfiança a criação do chamado Banco dos BRICs - e da indústria petrolífera transnacional, que cobiçava as reservas do Pré-Sal.

O "impeachment" fez com que militares de dinastia golpista e defensores do neloiberalismo - como os generais Sergio Etchegoyen e Eduardo Villas Bôas - retomassem o poder, primeiramente com Temer e, em seguida, com Bolsonaro.

A sanha privatista fez com que Guedes repetisse os mesmos moldes - a venda de ações - da privatização da estatal de telefonia chilena, realizada sob o governo Pinochet, na entrega da Eletrobrás.

O fascismo bolsonarista não se criou sozinho. Foi moldado em mentiras que o sistema financeiro, via mídia liberal, conta sobre o neoliberalismo. As mesmas mentiras que levaram Pinochet ao poder há 50 anos. E que seguem sendo difundidas como verdades absolutas.